8 de março: Graduação na maturidade- Do ensino médio aos 49 anos para especialização
Mesmo tendo oportunidade tardia, Dijé agarrou as chances que apareceram. Hoje ela é professora concursada da Prefeitura e mesmo quando se aposentar pretende ser voluntária na área
Foi com 49 anos que Maria de Jesus dos Santos Borges concluiu o ensino médio. Alguns anos depois já estava terminando não só a graduação em pedagogia, mas também a pós-graduação em psicopedagogia. Hoje ela é professora concursada e atua na Escola Francisco de Souza Ramos, que fica no Novo Horizonte.
Mulher de garra, ela criou os quatro filhos enquanto trabalhava na Feira da Folha 28. Maria nasceu em São Domingos do Tocantins, que na época pertencia ao estado de Goiás. Se mudou para Marabá aos 7 anos, onde morou na zona rural. Mulher, morando fora da cidade, na década de 60, não teve muitas oportunidades, se casou cedo e teve o primeiro filho aos 17 anos.
“Ficávamos nos castanhais, onde meu pai trabalhava, nessa época tínhamos muita dificuldade para estudar. Também não tinham escolas nas zonas rurais como temos hoje. Era mato e pronto. Só vim ter essa oportunidade depois de adulta, já sendo mãe e tive que lidar com isso”, comenta.
Ela se casou duas vezes, fez o supletivo, que hoje é o EJA (Educação de Jovens e Adultos). Trabalhou como professora contratada e há 8 anos é concursada pela Prefeitura Municipal. Já deu aulas nas escolas Ida Valmont, Elinda Simplício, e no NEI Edivan Alves Pereira.
Desde 2018, trabalha na escola Francisco de Souza Ramos, onde teve de deixar um pouco de lado a função de professora e atua agora como apoio pedagógico. “Vim para a parte pedagógica devido a problemas de saúde no joelho. Estou com dificuldade de locomoção e na sala de aula tem que ficar muito tempo em pé e hoje tenho essa dificuldade. A diretora viu, compreendeu e me colocou na parte pedagógica”, conta Maria.
“Ela tem sido uma grande parceira no processo de alfabetização na nossa escola. Entrei na escola em 29 de janeiro de 2018 e ela entrou três meses depois. Percebemos nela um perfil alfabetizador e a partir do momento que compreendemos a dinâmica dela, começamos a fortalecer o trabalho e descobrimos uma grande educadora, ela soma para nós aqui de forma grandiosa”, ressalta Pollyana Francisco de Sousa Ramos, diretora da escola.
Hoje Dejé, como é chamada carinhosamente no ambiente de trabalho por causa do sobrenome “De Jesus”, fica responsável em fazer o acompanhamento dos alunos através do reforço escolar. “Temos esse trabalho aqui que é coordenado por ela. As mulheres hoje na sociedade ocupam lugar de destaque por seu desempenho, determinação e garra. Quando assumimos um papel queremos sempre realizar com excelência. Maior honra ser mãe, mulher, guerreira, lutadora e trabalhadora”, completa a diretora.
Maria não nega que tem o instinto materno aflorado. Ela já trabalhou na alfabetização, jardins 1 e 2 e ensino fundamental do 1º ao 5º, mas ressalta que sua paixão são os pequenos.
“As turmas que mais gosto são a alfabetização, incrível como minha paciência é de excelência. Adoro pegar eles no início do ano e no meio do ano está fazendo cartinha, textinho. “Tia te amo”, “você é a professora mais boa (sic)”. Quando a criança começa a desenvolver essa habilidade ela acha que você é uma heroína”, comenta. Ela conta que tem algumas caixas com cartinhas das crianças em casa.
Perto de se aposentar, Dijé pretende continuar atuando nas escolas, como voluntária, para manter este vínculo. “Já disse pros meus filhos que quando me aposentar vou continuar sendo voluntária, eles ficam ‘mas mãe…’ mas é porque a atração é tão grande, é muito boa. Me sinto muito útil, produzindo, me sinto maravilhada. Importante porque estou produzindo em uma idade dessas e gosto do que faço”, conclui.
O que é o 8 de março
O dia 8 de março, diferente da maioria das datas comemorativas, não foi criado pelo comércio. Oficializado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975, a data simboliza a luta histórica das mulheres para terem suas condições equiparadas aos homens. A data, que representava a luta por igualdade salarial, hoje em dia também aborda temas como machismo e feminicídio.
Em 8 de março de 1917 aproximadamente 90 mil operárias russas manifestaram-se contra o Czar Nicolau II, as más condições de trabalho, a fome e a participação russa na guerra – em um protesto conhecido como “Pão e Paz” – que deu origem à data. Embora também remonte a um incêndio que aconteceu Triangle Shirtwaist Company em Nova York, no dia 25 de março de 1911 e vitimou 125 mulheres.
Texto: Osvaldo Henriques
Fotos: Aline Nascimento