Semed: Alunos da Escola Adelaide Molinari participam de documentário na Vila Sororó
A Escola Municipal Adelaide Molinari, na Vila Sororó, recebeu nesta semana uma equipe do Instituto Arte na Escola para a gravação do documentário que é resultado do 23º Prêmio Arte na Escola Cidadã conquistado por alunos do 5º ano do Ensino Fundamental.
Os alunos venceram o prêmio, coordenados pela professora de Educação Artística Socorro Camelo, com o projeto teatral Canoeiros e Canoeiras das Palavras: Construção cênica “O menino que ouvia estrelas e se sonhava canoeiro”, na categoria Ensino Fundamental I. O resultado da premiação saiu em julho por meio de live no youtube.
A apresentação ocorreu em dezembro do ano passado com alunos do 5º ano dos turnos manhã e tarde. Atualmente, os alunos não estudam mais na escola Adelaide Molinari porque a escola atende até o 5º ano. No entanto, eles retornaram para a gravação do documentário.
Antes de pensar no roteiro, a equipe responsável por gravar o documentário realizou entrevistas com as pessoas envolvidas para compreender como se deu a dinâmica e o desenvolvimento da peça de teatro.
Thaís Rossi é analista de projetos do Instituto Arte na Escola. Ela compartilha que a equipe de gravação, que veio de São Paulo, foi muito bem recebida. No começo, os estudantes estavam um pouco tímidos, mas ao longo da produção, conversando, eles foram se soltando.
“Quando a gente chegou, a gente ficou muito surpreso porque embora eles estivessem tímidos, rapidamente todos eles já se envolveram e a gente entendeu que esse projeto desenvolvido teve de fato uma participação muito ativa de todos os estudantes. O que a gente nota é que é muito gratificante para todos eles. Para o instituto é imprescindível saber que um projeto como esse vai ser escutado, vai ser ouvido e divulgado para várias outras escolas”, explica Thaís Rossi.
Além das entrevistas com a professora, alunos e pais, o documentário também recriou junto com os alunos algumas cenas apresentadas na peça teatral. A analista do Instituto Arte na Escola avalia que é perceptível o quanto cada um se doou para a apresentação, envolvendo-se em todas as possibilidades que o teatro proporciona, além da interpretação, como a dança, coreografia, música e construção do cenário, por exemplo.
“Prêmios como esse criam possibilidades, criam um certo interesse, instiga professores a desenvolverem projetos, a acreditarem de fato no potencial dos seus estudantes, a permitirem que seus estudantes ganhem voz, soltem a voz que eles têm por aí. Acho que dá possibilidades para uma transformação das pessoas e principalmente para que esses estudantes, tanto os que vivem em zonas mais afastadas, em zonas rurais, como em grandes centros, que existe um jeito diferente de ver a vida, que não é só sentado, anotando e ouvindo, mas é também se expressando, é também se comunicando, é também participando de diversas formas, desenvolvendo habilidades corporais, habilidades de crítica, de raciocínio, de pensamento”, reitera.
A apresentação foi baseada na obra “O menino que ouvia estrelas e se sonhava canoeiro”, uma literatura de cordel, do escritor paraense Antônio Juraci Siqueira, que autorizou a adaptação da obra. A obra foi escolhida por ser de um artista do estado do Pará e por representar o cotidiano amazônico e sua relação com os rios.
Para a professora Socorro Camelo, o momento foi de reencontro com os alunos já que eles não estudam mais na escola. Ela compartilha sua emoção.
“Estou aqui emocionada porque depois do projeto eu ainda não tinha reunido com a turma. Então, reencontrar os meninos, refazendo as cenas que foram do projeto do ano passado e que esse refazer de cenas é resultado de trabalho e de um projeto que foi ganhador, é emocionante. Principalmente pelo envolvimento deles, que eles em cada participação, em cada cena gravada hoje, envolveram-se com a mesma intensidade do projeto do ano passado. Então surge aquela sensação de dever cumprido”, explica a professora.
Ela ainda comenta que é importante ver a participação dos estudantes novamente em um projeto, só que dessa vez audiovisual.
“Meu compromisso aqui na escola foi cumprido de uma forma linda, bem poética. Além da felicidade em reencontrá-los, eu fiquei emocionada com cada momento deles; a autonomia que eles têm de se envolver, de opinar, como eles estão à vontade. No começo, um pouco tímidos, mas agora estão bem à vontade com a equipe, perguntando, interagindo e perceber que mesmo eles estando em outra escola ainda continuam sendo os meninos canoeiros”, reitera a professora.
Ismael Alves tem 12 anos e interpretou o papel principal da obra. Ele conta que ficou nervoso na apresentação, mas que no decorrer dos ensaios tudo foi fluindo. “Foi difícil, não vou negar, né? Mas conforme a gente vai indo, a gente vai decorando, aprendendo como é que é. ‘Ah errei nisso?’, retornar tudo de novo até conseguir para fazer bem, né? Direito, sem errar nada”.
O estudante ainda compartilha se pretende seguir a carreira de ator depois da experiência. “Para falar a verdade, não pretendo ser, não. Se não der certo de outro jeito, vou tentar por esse”, afirma.
Maria Fernanda Sousa também participou da peça interpretando a estrela. Ela também afirma que sentiu nervosismo, mas que no dia atuou colocando na mente que não havia ninguém assistindo e que era apenas mais um ensaio. Ela relata um pouco sobre como eram os ensaios.
“Nos ensaios era bem difícil conseguir decorar tudo, mas depois que a gente pega o jeito fica fácil. Nos ensaios, se a gente errasse uma fala, a gente voltava tudo de novo até conseguir. Então, ficava bem fácil na hora porque a gente já tinha aquele intuito de não errar para o ensaio continuar e não ter que voltar”, explica.
Sobre a gravação para o documentário, ela também comenta: “Eu fiquei bem nervosa, mas achei super legal ser entrevistada, é uma coisa tão importante, foi super legal”.
O diretor dos episódios do documentário, Guilherme Rampazo, conta que percebeu na turma de uma maneira geral, diversos talentos para a arte que podem seguir em frente. Para ele, é fundamental que a arte seja explorada nas escolas, indo além do ensino formal, ajudando a formar cidadãos conscientes.
“Não adianta você ficar só no ensino formal, existe uma coisa de formar o cidadão, formar a alma, o espírito dessas pessoas, o espírito crítico e principalmente se sentirem valorizadas. O que a gente mais nota nesses documentários é que as pessoas que participam desse projeto saem transformadas, se sentindo valorizadas, se sentindo protagonistas da própria história, da própria vida, protagonistas do país que elas vivem, que elas podem fazer a diferença de alguma forma. Então, a arte é revolucionária e sempre será por mais que tentem apagar”, avalia o diretor.
O documentário será transmitido por meio do canal do youtube do Instituto Arte na Escola no dia 24 de novembro.
Texto: Ronaldo Palheta
Fotos: Jéssika Ribeiro