Dia Nacional do Surdo: Em Marabá, CAES promove a inclusão da pessoa surda por meio da educação
Neste 26 de setembro é celebrado o Dia Nacional do Surdo. Em Marabá, a comunidade surda dispõe do Centro de Atendimento Especializado na área da Surdez Professora Noelini Costa (CAES), que surgiu por meio de Portaria em 2014 e começou a funcionar em 2017, em duas salas na Escola Jonathas Pontes Athias, na Folha 22. Em 2019, o centro foi transferido para o atual endereço, na Folha 26, Nova Marabá.
História do CAES
A diretora do CAES Iracelma Costa relembra todas as ações que antecederam a formação do centro, contando que, em 2012, ela e mais dois professores da sala de recursos da escola começaram a organizar uma passeata com os alunos a fim de conscientizar a comunidade sobre a existência da comunidade surda.
O trabalho desenvolvido por ela e seus colegas logo fez a escola ser uma referência no que diz respeito à inserção do aluno surdo. “Nós tivemos a ideia, nós três, de a gente fazer um evento convidando a escola a sair nas ruas. Na rua, saímos só os surdos, todos os surdos que a gente conhecia na época, e a escola. A escola tirava duas turmas. Da escola Jonathas até à praça da prefeitura, levava faixa, parceiros. Para mostrar pra comunidade que tinha na época a comunidade surda e que eles precisavam ser incluídos na sociedade, no mercado de trabalho, nas escolas, para que eles tenham os mesmos direitos que nós”, explica.
O nome do CAES é uma homenagem à professora Noelini Costa, que faleceu em 2014, e que dedicou grande parte de sua vida à educação especial. “O CAES é um espaço para a comunidade surda. A parte pedagógica, nós temos o ensino da LIBRAS, da língua portuguesa e da matemática. E a professora de DA, crianças com deficiência auditiva”, pontua a diretora.
A criança surda se comunica usando LIBRAS, que é a sua própria língua. Já a criança deficiente auditiva é a que usa aparelho auditivo, implante coclear e que pode ou não utilizar LIBRAS também. Entre esses grupos, nem todos são oralizados, mas há os que fazem leitura labial, por exemplo, acompanhada de todo trabalho orofacial.
Atualmente, são 96 pessoas atendidas pelo CAES e a equipe docente conta com três professores surdos. Todos têm formação voltada para a área da educação especial.
Uma das alunas é a Ana Kemilly Vilela. Ela tem 13 anos e estuda o 7° ano na Escola Municipal José Cursino. Ela é surda e compartilha o que sente em relação ao CAES. Para a conversa, a professora de língua portuguesa Luciene Mendes fez a intermediação.
“É bom estudar aqui porque encontro meus amigos… porque eles sabem falar que nem eu. Venho para cá por causa disso, porque aqui tem a LIBRAS, aqui tem muitos surdos. Na minha escola, fico triste porque sou só eu e aqui não, aqui é bom. Eu gosto porque ensinam de acordo com a minha língua”, destaca a estudante.
Em relação ao que aprende no centro, ela tem uma disciplina preferida e expressa o que pretende fazer quanto ao futuro. “Eu gosto de português. Eu não penso em uma profissão, mas eu quero poder crescer, poder conversar mais com as pessoas, do jeito que eu quero, usando a LIBRAS. O dia do surdo é muito importante por causa das conquistas dos surdos, por causa da importância da LIBRAS em si. Porque se não as pessoas esquecem dessa importância”, reitera a estudante.
A professora Luciene Mendes atua lecionando língua portuguesa no CAES desde o início do centro, quando ainda era anexo à escola Jonathas Pontes Athias. Cerca de 20 anos atrás se deparou em sala de aula com sete alunos surdos, quando ainda trabalhava em Belém. O choque em perceber que não estava capacitada para atender essas demandas, impulsionou a professora a fazer vários cursos e pós-graduações a fim de se especializar na educação especial.
“Eu disse ‘eu vou aprender essa língua e vou educar esses meninos como eles merecem’. A partir daí, eu comecei a viajar e a fazer muitos cursos, me especializei, fiz letras/LIBRAS, já tenho pós em LIBRAS, pós em educação especial. E aí, eu comecei a trabalhar direto com eles e ensinar aquilo que eu aprendi. É importante”, explica a professora.
Luciene ainda comenta que, na época em que teve essa experiência em sala, reunia-se com esses alunos 15 minutos antes de terminar a aula e pedia para eles a ensinarem LIBRAS. A parti daí, também estudou e acabou aprendendo.
A professora de matemática Jeane Queiroz também está no CAES desde a época em que era na escola Jonathas Pontes Athias. Ela também conta que o fato de dar aulas para alunos surdos no ensino regular fez com que ela fosse atrás de métodos pedagógicos para trabalhar com eles.
“A partir desse momento, eu corri atrás, me especializei. Até hoje faço cursos e gosto do que eu faço. Parece que aqui eu me encontrei. Estou me vendo uma outra pessoa, estou fazendo coisas que eu não seria capaz de fazer antes”, comenta a professora.
Na sala, é possível encontrar os números sempre representados em imagens e em LIBRAS, por exemplo. Tudo é preparado de modo a facilitar o entendimento de cada aluno.
Georgina Pinheiro é coordenadora pedagógica do CAES explica que o trabalho é realizado juntamente com o corpo docente na organização das atividades, adaptação de materiais e confecção de jogos pedagógicos para o desenvolvimento da aprendizagem do aluno.
“O currículo do CAES é um currículo próprio e a escola já tem o seu currículo também. Então, o CAES trabalha muito em cima da dificuldade do aluno. Quando o aluno chega até nós… a primeira vez que ele está vindo no CAES, a gente tem a conversa com a família, passa pela assistente social, passa rola fonoaudióloga, passa pelo professores, para fazer um diagnóstico com esse aluno. A partir do diagnóstico a gente vai encontrar as dificuldades que esse aluno tem”, explica.
Serviços e Projetos
O CAES funciona sempre no contraturno do aluno, com turmas às segundas e quartas, e terças e quintas. Sendo assim, cada aluno vai duas vezes por semana ao centro, que conta com profissionais de fonoaudiologia e assistência social.
“Só que o objetivo do nosso trabalho pedagógico aqui é ensinar o aluno surdo a própria língua dele para ser alfabetizado na língua dele e na língua portuguesa. Não é reforço. Aqui ele aprende a própria língua dele. Ele aprende também a ter a escrita na língua portuguesa”, reitera a diretora Iracelma Costa.
Entre os serviços oferecidos pelo CAES, além do ensino à comunidade surda, está curso de LIBRAS para professores da rede municipal. Só na última formação, 32 professores participaram.
Outro serviço é o Projeto LIBRAS na Escola, que surgiu a partir da necessidade de alunos da mesma sala onde o aluno surdo estuda aprenderem noções básicas da Língua Brasileira de Sinais. Entre as escolas que já receberam o projeto estão Luzia Nunes, Acy Barros, José Cursino e Colégio Militar Rio Tocantins. Entre as ações finais do projeto estão a fixação de placas com os nomes dos ambientes das escolas em LIBRAS, além da escolha do sinal de cada escola.
Um projeto importante é a formação nas escolas durante a Hora Pedagógica que visa apresentar o CAES, falar sobre os serviços disponibilizados, o público-alvo, as diferenças entre uma pessoa surda e uma deficiente auditiva, além de orientação sobre como receber e atender esse aluno.
O trabalho de acompanhamento do CAES junto à escola, que tem um aluno surdo, acontece uma vez por semana ou a cada 15 dias, sempre em uma escola diferente. Além dos estudantes da rede municipal, o CAES atende adultos que queiram dar continuidade aos estudos e aperfeiçoamento da libras.
O CAES também oferece a Central de Interpretação em Libras voltada tanto para o público interno, quanto externo.
Por meio da central, a pessoa interessada pode solicitar um tradutor quando necessitar de mediação de comunicação em ambientes públicos, como quando for tirar carteira de motorista e ter uma consulta médica, por exemplo. O serviço também pode ser feito de maneira on-line, agendando com antecedência.
“A importância para a comunidade surda é grandiosa porque através do centro eles podem ter um atendimento pedagógico, um atendimento de formação de profissionais para que esse profissional, favoreça a inclusão educacional e social do surdo”, finaliza a diretora Iracelma Costa.
O atendimento no centro pode ser feito por encaminhamento direto da escola, quanto por livre iniciativa.
O centro fica localizado na Folha 26, próximo a Ordem dos Advogados do Brasil, na Nova Marabá.
Texto e fotos: Ronaldo Palheta