Dia do Poeta: Artistas de Marabá têm a vida transformada pela poesia
Há 11 anos a auxiliar de contabilidade Aldemira Aguiar passou por uma grande perda. Com o falecimento do marido e a solidão, a viúva entrou em depressão e foi na poesia que encontrou as forças para a mudança de vida. Hoje, Aldemira Aguiar é poeta, com seis livros publicados, todos escritos depois dos 70 anos, sendo o primeiro “Respingos de Sabedoria”, de 2016.
Ela conta que lia muito quando era criança, mas que com a vida adulta abandonou a poesia por achar “complicado demais, com umas palavras muito rebuscadas”. Mas, após dois anos da perda do marido, começou a escrever e postar no site literário Recanto das Letras. A partir daí, com os comentários positivos recebidos, a confiança foi aumentando e os dias cinzentos voltaram a ganhar cor na vida de Aldemira.
“A poesia me tirou do buraco, ela faz a gente esquecer os problemas, nos tira do real para o imaginário. O estalo de voltar com a poesia, depois da infância, veio com a depressão e a saudade. Estava sozinha, não conseguia dormir, fui começar a escrever poesia e deu certo. Fiquei viúva, me vi sozinha, muita saudade”, conta.
Quando já tinha umas 100 publicações, ela recebeu um convite do professor Gilberto Martins, da Universidade de Campinas, para uma antologia nacional, no qual participou com 12 poesias. “A partir daí, fui criando forças, participei de outras antologias até que resolvi publicar o Respingos de Sabedoria”, relembra.
Mas Aldemira não parou por aí, hoje faz trabalhos com artes plásticas e está aprendendo a tocar teclado. Na literatura, ela decidiu ir para a área infantil, onde tem dois livros publicados, o mais recente é “O Sarau da Vovó”. E, atualmente, está em um projeto para outro livro, mais educativo. “O projeto chama ‘Dicas da Vovó’. É um livro com textos educativos acompanhando o crescimento da criança até virar homem. Passando um pouco da minha visão e conhecimento”, comenta.
Aldemira chegou em Marabá em 1976. Hoje atua em duas academias de Letras e na Associação dos Escritores de Marabá. “Procurei os poetas de Marabá, me aproximei, fui conhecendo e gostei muito”, revela.
“Ser põem a é ser pintor
Ser poeta é ser ator
Ser poeta é ser jogador de futebol
Maestro porque harmoniza com as letras
Pintor porque monta telas com palavras
Ator porque mostra sentimentos de diferentes formas
E jogador porque sabe conduzir as letras até fazer o gol da poesia”
Essa foi a primeira poesia, publicada em janeiro de 2013. Outras poesias da autora podem ser lidas na página dela, no site literário, clicando aqui.
Com 10 anos de idade, Luzinete Bezerra da Silva, agora com 61 anos, se esforçava para ler os livros de cordel do pai. Nascida em Cacimba da Areia, na Paraíba, desde nova pegou gosto pelo gênero literário, que hoje ajuda a difundir nas escolas de Marabá.
Apesar de ler e acompanhar a literatura de cordel desde cedo, a vida como escritora só começou depois dos 40 anos. “Na verdade, começou quando me reaproximei do cordel, trocando livros com um professor da escola, eu também era fã. Dali comecei a brincar de fazer cordel e me incentivaram a trabalhar o cordel como projeto na escola, foi quando tudo começou de vez”, conta a poeta.
O primeiro livro foi “Os Cordéis de Luzinete”, publicado em 2016. De lá para cá, já foram mais três publicações, incluindo “Cordel – Um Recurso Pedagógico”. “O cordel é atraente na sala de aula. Quando os alunos estão danados e quero chamar atenção deles, eu declamo a poesia e eles param. Hoje apresento algumas oficinas nas escolas e eles acham o máximo, gostam, respeitam, acho muito legal e importante ter algo que atrai o aluno. Hoje em dia não é fácil”, brinca.
Uma das histórias trabalhadas com os alunos em sala de aula foi a história dos indígenas Gaviões, contadas em formato de literatura de cordel. “Foi um sucesso. Depois que começamos a trabalhar com cordel na sala de aula, a gente vê como todos acham muito bacana. Trabalho hoje na Escola Professor Paulo Freire”, ressalta.
Luzinete é formada em Letras e Filosofia e hoje faz uma nova especialização em tecnologia da educação. Ela explica que, mesmo na época da faculdade, ouvia algumas brincadeiras dos amigos. “Me chamavam de ‘velha do cordel ‘no curso de Letras e eu só sorria. Mas hoje eles me chamam pra ir pra sala de aula deles fazer oficina. Esse mês mesmo vou à Itupiranga fazer uma oficina. Hoje o cordel está mais conhecido na região e espero que cresça mais, porque estamos criando nossos poetas mirins nas escolas”, reitera.
Luzinete escolheu Marabá como sua cidade quando passou de trem em 1993. Ela saiu do nordeste, trouxe o marido para cidade e hoje é sócia fundadora da Academia Paraense de Literatura de Cordel no município de Marabá, projeto iniciado em 2018. “É um marco na minha vida. O cordel é diferente da outra pessoa, porque é metrificado, tem rima, métrica e número de sílabas Faz parte da minha infância e história e hoje sou orgulhosa de fazer isso e de saber que tem quem goste e aprecie”, conclui.
“Nem queira me perguntar o que eu gosto de fazer,
por que gosto de embalar na rede com um bom livro para ler,
com muita grana na conta e pouca coisa pra fazer.
E tem mais, ir ao banco só pra sacar, dormir bem,
despreocupada, sem ter hora para acordar
e ver sempre o pôr do sol sentindo o cheiro do mar.
Por que sou das terras do cangaço e do forró,
gosto demais do Pará do açaí e do carimbó
e, às vezes, faço cordel igual igualzinho aos de Brogodó.”
Poema de Luzinete Bezerra da Silva
A todos os nossos poetas, o nosso muito obrigado por enriquecer a nossa cultura com seus versos, rimas e prosas.
Texto e fotos: Osvaldo Henriques