Seaspac: I Encontro de Meninas Estudantes inicia 16 dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher
A plenária da Câmara Municipal de Marabá estava predominantemente feminina e jovem na tarde desta quarta-feira (16) com a realização do I Encontro de Meninas Estudantes de Marabá. O evento abriu a programação dos 16 dias de Ativismo pelo fim da violência contra a mulher, promovida pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Mulher (Comdim) com o apoio da Prefeitura. Para tratar o tema “Consciência, ativismo e estratégias de Políticas Públicas para meninas e mulheres”, o conselho trouxe a co-fundadora do Instituto Maria da Penha, Regina Célia Almeida.
O evento contou com a participação de estudantes de várias escolas, entre elas estão a Anísio Teixeira, Geraldo Veloso, São Francisco, Doralice Vieira e Darcy Ribeiro, além do vice-prefeito Luciano Dias, da Secretária de Assistência Social Nadjalúcia Oliveira, representantes de entidades, Ong’s e movimentos sociais. A programação dos 16 dias de Ativismo pelo fim da violência contra a mulher seguirá até dezembro, com diferentes ações por toda a cidade.
“Escolhemos iniciar justamente com essas jovens porque estão em início de formação, onde já começam os primeiros relacionamentos, para que entendam quais são os tipos de violência e que possam estar preparadas para se defender em relação à isso”, destaca Priscila Veloso, presidente do Comdim.
Para o vice-prefeito Luciano Dias, que fez parte da mesa de abertura, os avanços nas políticas públicas e de defesa dos direitos voltadas às mulheres têm a ver com a conscientização feminina acerca da política e defende a participação das mulheres nos pleitos eleitorais. Ele destacou ainda o empenho da gestão municipal em contemplar as demandas que chegam à administração.
“É para que a mulher seja cada vez mais ativa na sociedade, que nós temos trabalhado, seja na Secretaria de Saúde, na Secretaria de Esporte e Lazer, na Secretaria de Educação, na SEASPAC [Secretaria de Assistência Social], no Conselho da Mulher, na Patrulha Maria da Penha, com o apoio da Guarda Municipal. Todas essas questões são avanços que Marabá já teve em relação aos direitos da mulher. Toda a estrutura que exige a participação feminina é importantíssima, mas ela tem que ser uma política voltada também para, nós, homens, porque geralmente é o sujeito ativo dessa violência”, observa Luciano.
Após explanar sobre políticas e recursos da Seaspac, em prol da defesa dos direitos das mulheres, Nadjalúcia Oliveira, a secretária de Assistência Social, destacou a importância da educação do homem na luta pelo fim da violência contra a mulher.
“De todas essas políticas sociais que perpassam pela Secretaria de Assistência, nós estamos fazendo história. Hoje o prefeito deu aval para todas as emendas impositivas voltadas a essa pauta. Quero dizer a todos que não podemos esquecer os nossos homens. Não devemos dividir esses movimentos. Eu sei que nós temos muita responsabilidade também nessa educação do homem. É preciso chamar os homens, convidar também o menino jovem lá da escola, para juntos, a gente romper com esse ciclo de violência”, pontua.
Co-fundadora do Instituto Maria da Penha debate sobre temáticas do 16 dias de ativismo
Para palestrar para meninas e mulheres presentes no primeiro dia do movimento, o Comdim trouxe à Marabá Regina Célia Almeida, a co-fundadora, vice-presidente e diretora pedagógica do Instituto Maria da Penha. Regina é bacharel em Filosofia, mestre em Ciência Política e doutora em Direito, Justiça e Cidadania para o século 21 na Universidade de Coimbra, em Portugal. Ela é professora universitária há 25 anos, membro da Academia Brasileira de Ciências Criminais (ABCCrim) e autora do Programa Defensores dos Direitos da Cidadania.
Além da violência contra a mulher, Regina levou para a plenária questões reflexivas, como gravidez na adolescência, o lugar e a identidade da mulher na sociedade, a quebra de paradigmas herdados de mulheres mais velhas da família, empoderamento feminino, dentre outros assuntos atuais relacionados às lutas femininas diárias.
“É uma oportunidade singular da gente reforçar sobre a identidade e o lugar de ser menina mulher na nossa sociedade. Um lugar de dignidade, um lugar de direitos, um lugar de equidade, um lugar de empoderamento. E antes de tudo, nesse momento em que a gente indica, sugere esse lugar, a gente precisa falar também da quebra, do ciclo da violência. E essa quebra do ciclo da violência já com as transgeracional”, ressalta a professora.
O objetivo é despertar nas novas gerações ideais de mudanças para um mundo mais igualitário e equitativo, desenvolvendo momentos de sororidade, sentimento de irmandade, empatia, solidariedade e companheirismo entre mulheres, e de dororidade, conceito criado para tratar dores, acolher e dar voz às mulheres negras.
“Para meninas e mulheres isso é muito importante. Infelizmente nosso país é um país de altíssimo índice de gravidez precoce e violência. O problema é que naturalizaram essa versão alarmante dos dados. Então, o que têm feito as políticas públicas? O que as meninas esperam, sonham? O que querem as mulheres, mães, empresárias, lideranças na sua posição de ser menina- mulher e apontar para várias diretrizes e lugares que são onde ela quer. Mas, fundamentalmente, ela não ter vergonha de ser mulher. Não desvalorizar a sua condição de ser mulher. Como é bom ter esse protagonismo. Como a gente precisa exercitar e desenvolver esse novo organismo sempre juntas, nunca sozinhas”, acrescenta Regina sobre a palestra.
Estudante e liderança jovem destaca eventos ativistas como inspiração para novas gerações
Para a jovem Revelly Milhomem, ex-parlamentar mirim da câmara municipal de Marabá, destacou os dados alarmantes de feminicídio, apontado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2021. O documento revela que o Brasil registrou um feminicídio a cada 7 horas, no ano passado.
“Estou muito feliz em estar hoje aqui representando a juventude porque eu acredito que a nossa voz também precisa ser ouvida e, principalmente, quando se trata de assuntos tão relevantes como esse. Nós sabemos que a violência de gênero se trata do ódio gratuito, da opressão, silenciamento de pessoas apenas pelo seu gênero. E temos a consciência de que nós mulheres somos as mais afetadas. E isso é comprovado pela margem assustadora de vítimas do feminicídio. Uma mulher a cada sete horas é morta apenas por ser mulher. Nesses 16 dias de Ativismo, devemos entender e ensinar o significado da palavra sororidade, abraçar umas às outras, a fim de passar a segurança e força”, finaliza a jovem.
Confira outras fotos:
Texto: Leydiane Silva
Fotos: Aline Nascimento