“Como funciona a Saúde?”: Banco de Leite é imprescindível para recém-nascidos internados no HMI
É uma ação de promoção, proteção e apoio que inclui coleta, processamento e distribuição de leite humano para bebês prematuros ou de baixo peso no HMI, que não podem ser alimentados pelas próprias mães, além de atendimento para apoio e orientação para o aleitamento materno.
Os recém-nascidos internados na Unidade de Cuidados Intermediários (UCI) e Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Materno Infantil de Marabá (HMI) recebem uma importante ajuda nesse estágio de recuperação: o Banco de Leite. Mas, para que esse importante serviço continue é imprescindível a doação de leite materno.
Anna Karolina Chopek, moradora de Altamira deu à luz a Ana Lúcia, no HMI, em fevereiro. Com o excesso de produção de leite, ela lembrou de uma história familiar que a motivou a fazer a doação. Quando sua mãe deu à luz a sua irmã, não conseguiu produzir leite no início e teve que recorrer ao banco. A equipe do Banco de Leite foi até Morada Nova para buscar os frascos de leite doados para ela.
“Eu me senti motivada, quando eu percebi que estava tendo bastante leite, lembrei dessa época e quis doar. Que as mães se sintam motivadas a doar porque realmente faz muita diferença na vida dos bebês que necessitam desse leite, que é tão essencial na vida deles. Então, que as mães se sintam motivadas a doar porque o banco precisa muito”, afirma.
Ela voltará para Altamira, mas ainda vai deixar frascos para a equipe do Banco de Leite ir apanhar e pretende continuar com a doação.
A equipe do Banco de Leite apresenta o serviço às mães durante a estadia delas no HMI, assim como as orientações sobre a amamentação. É nesse momento que a equipe identifica mães que sejam potenciais doadoras.
“Nós fazemos a visita de leito em leito, falando sobre a amamentação, sobre a importância do aleitamento materno até os seis meses, os benefícios tanto para o bebê quanto para a mãe. E quando a gente vê que aquela mãezinha tem uma grande quantidade de leite que vai excedendo, mesmo ela alimentando o próprio filho, a gente sempre tenta orienta-la, captar para ser uma futura doadora”, explica Fabíola Badu, nutricionista que faz parte do Banco de Leite.
As mães interessadas em participar, passam por uma triagem para saber se têm algum problema de saúde, fazem uso de medicação ou usam alguma droga, além da realização de exames que atestem estarem aptas para a doação. Em seguida, o endereço da mãe é cadastrado e a equipe passa a toda semana para realizar a coleta dos frascos e para deixar novos para a próxima doação, após as devidas orientações sobre como ordenhar o leite.
O leite coletado é destinado principalmente para as crianças que nascem prematuras, com baixo peso e com mães que têm dificuldade para amamentar. Atualmente, entre 150 e 175 recém-nascidos, por mês recebem o leite doado, com pelo menos 37 doadoras externas ao hospital, que passaram pela internação e que estão aptas. Em relação ao total de leite coletado, dependendo de cada mês, pode somar entre 9 e 15 litros.
A nutricionista Fabíola Badu explica a importância de garantir o leite materno nessa fase tão importante do desenvolvimento da criança.
“Porque o aleitamento materno auxilia na prevenção de alergias, infecções, doenças congênitas, problemas respiratórios, além de ser um benefício para a mãe, para diminuir a questão da hemorragia após o parto, ajudar a voltar ao peso anterior e vários outros benefícios”, ressalta.
Tânia Dias teve um filho com 33 semanas de gestação. Diante disso, fez-se necessária a internação dele na UTI neonatal. Ela morou 20 anos em Sergipe e lá também era doadora de leite materno. Há quatro anos, mudou-se para Nova Ipixuna, um dos diversos municípios atendidos pelo HMI. Por causa da internação do filho, ela foi encaminhada para o Banco de Leite.
“Eu estava preocupada porque meu seio já estava produzindo o colostro. Aí eu fui, ele estava na incubadora e pediram para eu vir aqui fazer a ordenha e para doar também. Porque tem outras crianças lá com ele precisando de leite materno. Não é toda mãe que consegue e tem muitas crianças precisando. São tão pequenas e o nosso leite é o mais importante. Imagina uma criança estar lá numa incubadora precisando de leite materno para sobreviver”, destaca.
Todo o leite coletado passa por um rigoroso processo de análise para garantir que chegue até a criança sem qualquer risco de contaminação. A equipe recebe o leite materno congelado em frascos etiquetados, com a data da coleta e o nome da doadora, que vão para o refrigerador do setor.
Após, o leite é reenvasado e amostras são coletadas para análise microbiológica, análise do nível de acidez e também para saber a quantidade de calorias. Também é nessa etapa que sabe-se se o leite é colostro (“primeiro leite” produzido pela puérpera, geralmente nos primeiros sete dias e que é rico em anticorpos, essenciais para o desenvolvimento do recém-nascido) ou se já é um leite maduro.
Uma das principais etapas desse processo é a pasteurização do leite, que passa por altas e baixas temperaturas, a fim de garantir uma durabilidade que pode chegar a seis meses guardado em freezer.
Beatriz Ohtta é biomédica e trabalha há mais de três anos no Banco de Leite do HMI. Ela é a responsável pela análise do leite coletado e pontua a importância de seguir os protocolos de segurança tanto pelo público atendido, de recém-nascidos, quanto pela alta demanda do hospital pelo leite materno.
“Tem bastante gente que acha que quando você doa o leite, você só retira o leite e já passa para o bebê. Não é assim. Quando a gente recebe a mãe, a gente conversa com ela antes, pergunta se tem alguma doença. A gente vai coletar o sangue dela, a gente faz exames antes e aí, depois disso, tem todo esse processo de analisar o leite. Se houver qualquer coisa que não esteja dentro da norma, a gente tem que fazer o descarte. A gente não usa. O nosso público alvo é de recém-nascidos, então é um público que é bem sensível. Então, a gente tem que tomar todo cuidado do mundo”, frisa.
Histórico do banco
Em 2012, a Rede Brasileira de Bancos de Leite, sediada no Rio de Janeiro e coordenada junto à Fundação Oswaldo Cruz, instituição vinculada ao Ministério da Saúde, abriu oportunidade para estados e município para que onde houvesse as condições necessárias fosse aberto um banco de leite. Com a campanha de incentivo ao aleitamento materno realizada pelo Ministério da Saúde, a Prefeitura de Marabá abraçou a causa.
Com o início da estruturação em 2012, o município recebeu os equipamentos e treinamento, enquanto a prefeitura entrou com os recursos humanos qualificados.
Em 2014, com a consolidação da iniciativa, iniciaram as campanhas referentes ao aleitamento materno e doação de leite, dando maior visibilidade e envolvendo a sociedade.
A coordenadora do Banco de Leite do HMI, a nutricionista Lígia Viana, explica que tudo que o departamento realiza é remetido à Rede Brasileira de Bancos de Leite, cuja coordenação estadual é localizada em Belém, a fim de garantir que as normas técnicas estabelecidas sejam cumpridas.
“Todos os meses, nós informamos todo o nosso procedimento, quantos recém-nascidos atendemos aqui, quantas visitas domiciliares nós fazemos com as doadoras, quantas doadoras, quantos litros de leite nós coletamos no mês e quantos litros distribuímos. Nós temos todo um processo de prestação de contas ao final do mês, informando através do relatório para a rede, que é para a rede poder contabilizar e nós permanecermos credenciados. Qualquer alteração, qualquer não conformidade, corremos o risco de não credenciar no mês”, explica a coordenadora.
A cada semestre, a equipe de 22 profissionais que compõem o Banco de Leite do HMI, passa por treinamento. Todos os funcionários precisam estar credenciados, por meio de um curso de capacitação, para atuarem no setor. Entre os profissionais que fazem parte do banco estão: fonoaudióloga, nutricionista, técnicas de enfermagem e manipuladoras de alimentos, além de parcerias com médicos e pediatras do hospital.
Talya Lorrane Silva mora na Folha 35 e recebeu a equipe para entregar o leite coletado. Doadora há dois meses, ela conta que incentiva outras mulheres a doarem leite.
“Achei um ato bom doar para ajudar outras crianças prematuras e também as mães que não podem amamentar. Aí, eu resolvi doar. Eu estou indicando outras mães a doarem também. Sempre atendem bem a gente. Quem pode ajudar, que tenha bastante leite para ajudar outras crianças para poder ter sempre no banco de leite, para poder doar”, relata.
Lígia Viana também atenta para a doação de frascos, que é muito importante para o armazenamento do leite.
“A importância do banco de leite é justamente captar a doadora através de conscientização, através de formação, que nós já fazemos internamente no hospital com as pacientes, e levar informação para a nossa população aqui do município, da importância de nos ajudarem com a doação dos frascos porque os frascos servem para a gente armazenar esse leite. Que as mães possam se sensibilizar e passar a informação para outras mães que conheçam e possam nos procurar para fazer o cadastro de coleta para fazerem a doação”, reitera a coordenadora.
Para ser uma doadora, basta entrar em contato com o hospital por meio do número 3322-5751. Após o cadastro, as interessadas passam pela triagem e exames mesmo que já tenham sido doadoras antes. Os frascos doados precisam ser de vidro com tampas de plástico.
Texto: Ronaldo Palheta
Fotos: Nathália Costa