Saúde: No Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos, conheça os principais cuidados e como realizar o descarte
Hoje, 5 de maio, é uma data especial para alertar a população quanto aos riscos de tomar remédios indiscriminadamente, pois não são inofensivos e necessitam de prescrição
De acordo com dados do Conselho Federal de Farmácia, 47% dos brasileiros automedicam-se ao menos uma vez por mês, enquanto 25% realiza a automedicação todos os dias ou uma vez por semana. Neste 5 de maio é celebrado o Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos. A data tem como objetivo alertar sobre os riscos de tomar remédios indiscriminadamente e suas consequências.
Segundo o médico Isaac Prado, que trabalha na Unidade Básica de Saúde Enfermeira Zezinha, na Folha 23, muitas pessoas podem recorrer ao uso de medicamentos sem prescrição por falta de informação e por acharem que eles são inofensivos, além de, em algumas situações, não terem acesso a uma consulta médica de maneira imediata.
“O que acontece? A indicação médica, quando nós passamos mesmo que sejam medicações simples, existe uma dose correta para o peso do paciente, uma série de perguntas anteriores à prescrição médica, justamente para ver se aquela medicação tem algum efeito colateral e se ela tiver é orientado para o paciente”, explica o médico.
Os medicamentos anti-inflamatórios, por exemplo, quando usados sem a devida orientação, são os grandes vilões do sistema gástrico podendo causar úlceras e hemorragias digestivas. Segundo Isaac Prado, isso acontece porque algumas alterações acontecem no estômago, onde há perda da proteção causada pela ação do remédio. Outra consequência do uso de anti-inflamatórios são as nefropatias ou lesões renais.
Quem pratica exercícios físicos também precisa ficar em alerta. A utilização de hormônios como a testosterona injetável, sem a supervisão de um médico, também pode causar problemas nos rins.
“Isso também tem uma indicação correta. O Conselho Federal de Medicina, na sua última atualização, restringiu a utilização desses hormônios para determinados grupos de pacientes, com indicações corretas”, aponta Isaac Prado.
Nos últimos anos, muito tem se falado sobre as superbactérias, microorganismos resistentes aos antibióticos. Isso já é tema de preocupação da Organização Mundial de Saúde (OMS) e está diretamente ligado ao uso sem prescrição e fácil acesso a esses medicamentos.
Por resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os antibióticos só podem ser vendidos mediante prescrição médica. No entanto, muitas farmácias burlam essa determinação.
“Além dos efeitos colaterais que essas medicações podem causar se utilizadas sem indicação, há também a seleção de bactérias resistentes. Quando você utiliza um antibiótico sem indicação, ou quando você utiliza um antibiótico por tempo indeterminado, o que vai acontecer? A gente vai começar a selecionar algumas bactérias e essas bactérias que não morrem por conta desses antibióticos utilizados de maneira indiscriminada, elas começam a ter resistência”, pontua.
Interações medicamentosas
Outra preocupação associada ao uso de múltiplos remédios é a interação medicamentosa. Dependendo dos remédios utilizados, um medicamento pode suprimir ou potencializar os efeitos do outro. De acordo com Isaac Prado, as interações medicamentosas são frequentes em idosos que, muitas vezes, têm diversos profissionais os atendendo como cardiologista e ortopedista, por exemplo, e estes acabam prescrevendo diversos remédios para esse paciente.
“Existe uma classificação chamada de polifarmácia, quando o paciente toma a partir de cinco remédios. A partir de cinco medicações, alguma delas já vai ter interação medicamentosa. Algumas medicações cortam o efeito de outras e outras medicações potencializam o efeito. Por exemplo, utilizar um anti-inflamatório e um anticoagulante, eles vão potencializar os efeitos um do outro. Então, isso pode causar efeitos colaterais e as repercussões renais, risco de sangramento, nefropatias”, explana.
Descarte de medicamentos
O médico ainda alerta que medicação em casa é igual a descarte porque precisa de um acondicionamento correto, estar atento ao prazo de validade para não guardar por tempo prolongado, que pode afetar a composição do remédio, podendo se tornar um placebo ou causar danos ao paciente. “Sobrou remédio? Não dar para a vizinha, não deixa para outra oportunidade. Tira, descarta e sempre quando precisar, vai para o serviço de saúde para ter a dispensação correta e a indicação correta. E sempre ler a bula. A orientação é evitar a automedicação e fazer o acompanhamento com médico ou profissional de saúde capacitado”, finaliza.
Pedro Barroso é farmacêutico da Farmácia de Demandas Especiais e Judiciais da Secretaria Municipal de Saúde de Marabá (SMS). Ele explica que o indicado é acumular o menor número possível de medicamentos em casa. Isso acontece porque em ambientes como farmácias, os remédios são guardados sob temperaturas e umidades constantes, o que por vezes não é possível em casa.
O farmacêutico explica em quais lugares os remédios não devem ser armazenados em casa.
“Na cozinha porque tem o fogão, que pode aumentar a temperatura e essa oscilação pode causar defeitos ao medicamento. O banheiro tem a umidade muito grande e alguns banheiros têm chuveiro quente. É uma temperatura muito variável e uma umidade não adequada. O melhor lugar para guardar seria um lugar distante da luz solar, num armário no quarto ou em uma região alta para as crianças não pegarem”, comenta.
Os remédios devem ser descartados quando estiverem com o prazo de validade vencido. No caso dos comprimidos, o descarte também acontece quando apresentarem danos, estiverem quebrados ou esfarelados, apresentarem coloração diferente e as soluções orais quando estiverem com as partes sólidas e líquidas separadas.
É importante ressaltar que os remédios não podem ser descartados em pias, vasos sanitários ou lixo comum. Pedro Barroso explica os impactos do descarte incorreto dos remédios.
“Essa medicação acaba indo para os rios e cada medicamento tem compostos químicos e podem causar danos ambientais. No lixo comum acaba indo para o solo e esse produto químico pode afetar os solos e lençóis freáticos. Além disso, pode haver um dano social de pessoas que não têm poder aquisitivo muito grande, podem olhar a medicação no lixo e levar para casa. É um perigo muito grande jogar em lixo comum, pia ou vaso sanitário”, elucida.
Então, onde descartar? O farmacêutico explica que algumas redes de farmácia possuem o serviço de descarte. Em Marabá, a Farmácia de Demandas Especiais e Judiciais recebe medicamentos para descarte.
“Nós temos o serviço de descartômetro em que as pessoas trazem esses medicamentos danificados ou vencidos. Aí a gente armazena essa quantidade e vem uma empresa que vai fazer o descarte correto. Se tiver um medicamento vencido ou que está danificado pode trazer na Farmácia de Demandas e aí vamos fazer o descarte correto”, finaliza.
A Farmácia de Demandas Especiais funciona para recebimento de medicamentos para descarte de segunda a sexta-feira, de 8h às 12h e de 13h às 18h, e fica localizada atrás do Centro de Especialidades Integradas, bairro Amapá, núcleo Cidade Nova.
Texto: Ronaldo Palheta
Fotos: Paulo Sérgio Santos