Dia das Mães: Os desafios de quem vivencia o puerpério
Dizem que quando nasce um filho, nasce também uma mãe, que, agora, com um serzinho no colo, vai vivenciar as dores e os amores do puerpério. Essa fase pós-parto, também chamada de resguardo ou quarentena, dura cerca de 45 dias. É um momento ímpar na vida da mulher, que experimenta modificações físicas e psicológicas.
Aos 30 anos, quem está vivendo essa fase mágica é a assistente social Letícia Cristina Morais. Há um mês, ela deu à luz a primeira filha, Eduarda Morais Pereira. Uma experiência incrível, como ela mesmo descreve. “Eu estava fazendo 30 anos e não esperava. Foi meu primeiro filho e, graças a Deus, tive essa dádiva: a minha princesa”, revela.
Nessa fase, a mulher vivencia uma intensidade de sentimentos e emoções, que algumas descrevem como uma paixão pelo bebê.
“É a coisa mais linda que eu amo. Ela foi uma coisa linda na minha vida, porque Deus me agraciou. Os médicos falavam que eu não podia engravidar tão cedo e eu fui abençoada por Deus. Sou muito grata pela vida dela”, diz emocionada.
Mas esse período é de muitos desafios para a mamãe, que precisa de orientações profissionais, cuidados e empatia. Letícia confirma: o puerpério tem sido bem difícil. “É o início de tudo, uma nova vida, um bebê novo na casa, mas estou tentando me adaptar a ela, à rotina do dia a dia. A parte mais difícil é a de dormir, porque o neném está se adaptando e dorme mais de dia do que de noite. Essa parte foi a única que tive dificuldade até agora. Ela acorda muito para mamar. É a hora que ela mais mama”, confessa.
No puerpério, é muito importante ter uma rede de apoio, já que não é só a criança que precisa de cuidados e atenção, a mamãe também. Nem todas as mamães conseguem ter ajuda ao longo do primeiro ano do bebê. Felizmente, Letícia, nesse momento de puerpério, tem ficado na casa dos pais e contado com a ajuda deles e do esposo para cuidar da pequena Eduarda.
Uma das dificuldades que algumas mães enfrentam no puerpério é a amamentação. Por vezes, as crianças têm dificuldades para pegar o seio, ocasionando fissuras mamárias, endurecimento da mama, sangramento, febre e muita dor, gerando também culpas e tristezas na mamãe. Nesse sentido, o Banco de Leite Humano do Hospital Materno Infantil (HMI) é um grande suporte, com visitas às mamães internadas no HMI e orientações.
“Nós temos uma equipe que faz palestra na parte do acolhimento e na parte das enfermarias. Tem uma equipe com a fonoaudióloga e a nutricionista. No acolhimento, nós fazemos a orientação em relação à pega correta, posicionamento correto desse bebê na hora de colocar pra mamada e passando também algumas informações. Essa paciente é orientada a não fazer uso de água inglesa, de mastruz também, que é proibido fazer a amamentação cruzada, ou seja, aquele bebê que a mãe ainda não tem uma produção suficiente, ele não pode mamar na outra mãe que se encontra com o bebê na mesma enfermaria e que pode ter uma produção maior. Ela tem que aguardar pra que comece a produzir mais leite. A mãe tem direito a ser orientada mesmo depois da alta, até 28 dias aqui no Hospital Materno Infantil. Ela e o bebê podem retornar, caso ela ainda mantenha algum tipo de dúvida”, explica Lígia Viana, coordenadora do Banco de Leite do HMI.
Para que a mamãe receba o máximo de orientação possível para vivenciar o puerpério, ela precisa fazer todo o acompanhamento de pré-natal nas Unidades Básicas de Saúde, participar das orientações no HMI e contar com a ajuda dos profissionais dos postos de saúde. “Quando ela vai parir o bebê, ela é orientada a vir na unidade novamente, porque o pré-natal só se encerra após essa consulta, já no puerpério, onde é feito o Teste do Pezinho, vê a situação do parto, se aconteceu algum problema. A gente faz todo um levantamento da situação e já encaminha para o planejamento reprodutivo, para ela começar a optar por um método contraceptivo para evitar uma nova gravidez precocemente”, explica a enfermeira Elizoneide Fonseca, da UBS Enfermeira Zezinha.
Depois é feita toda uma orientação sobre o resguardo, alimentação, higienização, cuidados com ela e com o bebê. “Aí se encerra essa fase de pré-natal e, nesse momento, a gente começa essa primeira consulta do recém-nascido, já na primeira semana, onde orientamos a questão da amamentação, que elas têm dificuldade e aí a gente faz toda uma orientação de como ela deve posicionar essa criança na hora da amamentação”, elucida.
A puérpera também é orientada a continuar tomando as vitaminas e só manter relações sexuais após os 45 dias, caso ela se sinta preparada. Também é aconselhado o uso de método contraceptivo.
Embora essa mamãe precise buscar muitas informações para vivenciar essa fase, isso não significa que ela necessite de opiniões não solicitadas e julgamentos. Estes, conhecidos como “pitacos”, só aumentam o sentimento de culpa da mulher, que acaba se sentindo uma péssima mãe muitas vezes. Além disso, é importante ressaltar que essa mãe que “nasceu” agora também está vivenciando algo novo. Até para aquelas que já têm filhos, haja vista que cada gravidez e cada criança são únicas.
Outros desafios enfrentados
Algumas mães, na fase do puerpério, enfrentam outros problemas de ordem psicológica, como depressão pós-parto; sentimentos negativos em relação às mudanças no corpo, por vezes ocasionados por cobranças de ordem social; sentimento de isolamento (solidão materna), já que acaba passando mais tempo com o filho, que requer atenção; e cansaço extremo, requerendo ajuda e empatia.
O sonho de ser mãe
Casar e ter uma família sempre foi o sonho de Letícia. Ela desejava ter filhos e manteve a fé, mesmo quando os médicos a desenganavam, dizendo que ela ia ter dificuldade para engravidar, pois tinha ovários policísticos. “Fiz tratamento e tudo, mas não deu certo. Aí fui para a garrafada caseira. Minha sogra me ajudou, foi o que limpou meu útero e Deus ajudou. Tinha perdido as esperanças, pois toda vez que ia ao médico ele falava: ‘você não vai engravidar’. Meu útero também era virado, tinha policistos e tudo isso ajudava”, pontua.
A surpresa veio quando, em agosto do ano passado, ela começou a passar mal. “Eu não sabia e achei que tinha comido alguma coisa que tinha me feito mal, mas já era a gravidez. Quando eu descobri, eu não sabia se ria ou se chorava de alegria, mas foi uma bênção na minha vida. Descobri com um mês de gravidez e foi meu marido que desconfiou e eu achava que não”, relata.
A certeza só veio quando o marido da assistente social comprou o teste de gravidez e, a pedido dele, ela fez na mesma noite. O resultado foi positivo. Mesmo assim, ela quis fazer o exame de sangue para ter a certeza total. “Quando a mulher falou que deu positivo, aí, sim, caiu minha ficha: estou grávida, mas o momento mais lindo foi quando ela nasceu”, expressa.
Texto: Fabiana Alves
Fotos: Sara Lopes