Setembro Amarelo: Capacitação de prevenção ao suicídio, com tema “Morte em vida”, é realizada no Ament
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), por dia, mais de 30 pessoas atentam contra a própria vida no Brasil. Para encontrar formas de reduzir esse dado alarmante, que retrata um problema de saúde pública, foi criada a campanha Setembro Amarelo, iniciada em 2015, no país.
Dentro da programação da campanha em Marabá, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), por meio do Hospital Municipal de Marabá (HMM) realizou, na sexta-feira, 29, um evento com o tema “A morte em vida: quando os indivíduos morrem antes mesmo de tirarem a própria vida”, no Ambulatório Especializado em Saúde Mental (Ament), no bairro Belo Horizonte, núcleo Cidade Nova.
“O objetivo é entender que hoje em dia o ser humano está muito focado em ter e não em ser. Existem muitos seres humanos vazios, sem objetivos, sem sonhos, sem idealizações, e o intuito desse espaço é fazer com que tanto os profissionais quanto os indivíduos possam se instigar, planejar, saber que sonhar é inspirador e que existem diversas formas de cuidado para instigar todo esse processo de melhoria e desenvolvimento do ser humano”, enumera o psicólogo da ala psicossocial do HMM, do Ament e idealizador do evento, Sérgio Adriano Rocha.
Os profissionais e servidores do Ament e da ala Psicossocial, bem como os alunos do curso de psicologia da Universidade da Amazônia (Unama) participaram de um discussão sobre a atuação dos profissionais da área na prevenção de planejamentos suicidas. Uma trilha terapêutica foi instalada nas dependências do local, onde os participantes vivenciaram sentimentos, como a pulsão de morte (a pulsão em direção à morte e à autodestruição), numa sala escura e decorada com cartazes e frases de reflexão, assistiram um filme sobre suicídio, fizeram aula de pintura e de dança e outras dinâmicas.
“Existem oficinas de pintura, espaços musicais, espaços de dança, escuta ativa e principalmente um debate holístico e em rede sobre como lidar com esse indivíduo vazio, que busca se matar como uma forma de entendimento ou como uma forma de solucionar um sofrimento que ele pouco entende”, elucida Sérgio.
Na sala sobre Pulsão de Morte, a acadêmica de psicologia da Unama, Rosilene Mota, conta que a ideia do trabalho é colocar as pessoas na cena do que é a pulsão de morte.
“Através desse trabalho, demonstramos um pouquinho do que as pessoas sentem quando estão tristes, depressivas e, às vezes, buscando um caminho, uma solução e não encontram. Muitas vezes, qas pessoas estão passando por dificuldades, estão do lado da gente e não percebemos, então temos que estar atento aos sinais, atentos às pessoas. Mesmo com um sorriso nos lábios, ele pode estar passando por muitos problemas e precisando de ajuda. Eu e meus amigos da universidade montamos esse trabalho para trazer esse ambiente, colocar as pessoas dentro da pulsão de morte, sentir um pouco do que que é”, comenta.
A estudante de Psicologia da Unama, Aline Ximendi, afirma que participar desses momentos ajuda na compreensão do que é estudado em sala de aula.
“Montamos a sala Pulsão de Morte e eu, particularmente, vou fazer uma encenação de uma música do Tiago Lorc, chamada Desconstrução, que também é voltada para essa temática do suicídio. Participar desses momentos é muito importante porque a gente consegue ter a consciência de como que isso vai além da teoria. É uma experiência que acrescenta bastante enquanto futuros profissionais”, informa.
Rede de Saúde Mental
O atendimento da Rede de Saúde Mental começa na atenção básica, que atende os casos leves. O Ament é para os casos moderados; os casos graves, severos e persistentes são encaminhados para o Centro de Apoio Psicossocial (Caps) e o paciente em surto é encaminhado para o pronto socorro. Após avaliado, se houver necessidade, ele é internado na ala psicossocial.
A coordenadora do Departamento de Saúde Mental, Gisele Ferreira, explica que neste mês foi intensificada a divulgação sobre o tema.
“O Caps fez o Setembro Amarelo na Atenção Básica. O enfermeiro João Augusto juntamente com a coordenação do Programa Saúde na Escola (PSE) fez palestras em algumas escolas e em algumas empresas onde foi solicitado. A gente tem que aprender a trabalhar a prevenção de saúde mental. Eu digo que assim como a gente trabalha a prevenção do diabetes, da hipertensão, faz atividade física, então a gente também tem que aprender a trabalhar isso na saúde mental. Ter momentos de lazer, para a família, criar laços, criar memórias afetivas”, acrescenta.
O Ament atende mensalmente cerca de 650 pessoas, entre atendimentos médicos, de serviço social, psicoterapias individuais e grupais e avaliação de demanda, que detecta para onde o paciente deve ser encaminhado. Na internação psicossocial, que é a clínica de internação do Hospital Municipal de Marabá, existem seis leitos e são realizadas de 20 a 30 internações, porque cada indivíduo pode permanecer mais de uma semana.
João Augusto Miranda, enfermeiro assistencial do Ament, destaca que o ambulatório não é voltado apenas para terapias alternativas.
“Às vezes, as pessoas acham que estar no atendimento de saúde mental é apenas estar voltado para alguma terapia alternativa, como pintura, canto, dança, mas é muito além disso. Existe um conhecimento científico vasto, conhecimento técnico importante para poder discutir rede, discutir assistência, manejo e terapias diversas ao paciente que sofre em saúde mental. E o suicídio é uma temática de grande importância, não só nesse mês, mas durante todo o ano. Eu recebo aqui, todos os meses, pessoas que vieram de tentativa ou que estão com pensamentos recorrentes de morte e suicídio. Por isso estamos aqui para contornar essa situação”, frisa.
A enfermeira psiquiátrica Rosilene Cavalcante, referência técnica da ala psicossocial e do Ament, ressalta que é trabalhado um acolhimento junto aos indivíduos.
“Para nós é uma temática constante trabalhar essas formas preventivas. O cuidado da saúde mental é algo constante para nós que estamos à frente do serviço. Falar dessa rede de saúde, da prevenção voltada ao suicídio, é ressaltar a importância dessa rede bem integrada, onde todos participam em prol desses atos preventivos e ela precisa estar presente em todos os âmbitos, não só do meio da saúde, mas em todos os âmbitos da sociedade levando em conta fatores biológicos, psicológicos, emocionais, sociais, culturais. O indivíduo que comete suicídio, ele de fato não anseia por essa morte, mas ele necessita acabar com aquele sofrimento. Entra aí o nosso papel de uma acolhida qualificada, uma escuta sem julgamento, sem críticas, sem condenação, porque de fato ele necessita de ajuda”, finaliza.
Texto: Fabiana Alves
Fotos: Secom