EDUCAÇÃO: O PROFESSOR QUE NÃO ABRE MÃO DA GRAVATA EM SALA DE AULA
Conheça a história de Pascoal Ferreira, educador em tempo integral que atua em duas das melhores escolas do IDEB de Marabá
Ele tem 56 anos de idade e, à primeira vista, imagina-se que este professor trabalharia com estudantes do Ensino Médio ou, no máximo, Fundamental II, do 6º ao 9º ano. Mas Pascoal de Nazaré Ferreira faz parte de uma estatística incomum. Nesse nível de ensino, a maioria dos professores é do sexo feminino ou, quando homens, são jovens.
Mas Pascoal possui outros atributos raros entre os educadores. Ele gosta de dar aula com camisa social e gravata, quer seja na Escola Duque de Caxias, onde é professor pela manhã, ou na Ida Valmont, onde trabalha à tarde, no quarto e quinto ano, respectivamente. Na primeira, Pascoal conta com ar condicionado em sala de aula, mas na segunda há apenas ventiladores e o calor incomoda alunos e a ele também. Mesmo assim, usa o acessório frequentemente e não reclama.
Natural de Curuçá, no Pará, Pascoal conta que chegou a Marabá em 1989 e fez faculdade de Pedagogia. Depois, trabalhou alguns anos com assessoria pedagógica, até ser aprovado no concurso público para a Prefeitura de Marabá. Sorridente, ele também sabe falar firme com os alunos quando necessário. “Pra mim nunca falta dinheiro, porque não preciso de muito, também”, ri, em forma de gargalhada.
Questionado sobre a origem do uso da gravata, mesmo residindo em uma região quente, professor Pascoal explica que no ano de 1984 trabalhava no Banco Bradesco e iniciou o uso do acessório, mesmo quando gerente e outros colegas não faziam questão. “Hoje, uso porque sinto que homenageio meus alunos e valorizo o ambiente da sala de aula. Com isso, mostro para eles que o cidadão bem vestido é, de alguma forma, mais respeitado na sociedade. Meu traje diz, também, quem eu sou e meus colegas professores elogiam isso. Não sou melhor do que ninguém, mas me sinto bem com gravata e a escola é um campo sagrado na minha vida”, afirma.
Prova de que a gravata é quase uma “segunda pele” de Pascoal, ele diz que já a utilizou até mesmo em dias de greve, com manifestações ao ar livre, embaixo do sol.
INOVAÇÕES
Mas Pascoal vai além da aparência. Sua paixão pela educação o levou a construir ábaco e soroban para auxiliar os estudantes a aprenderem matemática. Os dois são instrumentos bem sucedidos que, segundo os estudiosos, foram criados para fazer “contas” cada vez mais complexas. “Usei materiais reciclados para produzir os ábacos para trabalhar números concretos, operações básicas e os alunos passam a ter uma visão mais ampla dos números. Já o soroban, mais voraz, tem um nível mais elevado e trabalho apenas conceitos básicos”, explica.
CAFÉ DA PERSPECTIVA
Outro diferencial de Pascoal de Nazaré Ferreira na sala de aula é o esforço que ele faz para valorizar as conquistas dos alunos no final do ano. Há alguns anos, ele promove um “Café da Perspectiva” em um hotel de referência na cidade, para onde leva os estudantes para celebrar as vitórias alcançadas e mostrar os desafios que terão no ano seguinte. Em 2016, por exemplo, comprou prêmios, alugou ônibus, pagou as despesas do hotel e, quando foi colocar tudo na ponta do lápis, havia tirado do próprio bolso R$ 5.870,00. “Tudo que fazemos para a educação não é gasto, mas investimento”.
Texto e fotos: Ulisses Pompeu