EDUCAÇÃO: PROJETO DO CAP AJUDA DEFICIENTES VISUAIS NO HÁBITO DA LEITURA EM BRAILLE E CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS
“Na contação de histórias para deficientes visuais outros recursos são explorados como o som, percepção e tato”, Marluce Caetano – do Marabá Leitora.
O projeto de leitura desenvolvido pelo Centro de Apoio Pedagógico para Deficientes Visuais (CAP) teve sua culminância na tarde da última sexta-feira (23), nas dependências da própria instituição, que fica na Agrópolis do Incra, Amapá. Nesta data, comemora-se o Dia Internacional do Livro. O trabalho que iniciou desde agosto passado, teve apoio do Programa Marabá Leitora da Semed (Secretaria Municipal de Educação), e consistiu na contação de histórias pelos próprios alunos deficientes visuais, apresentação teatral, confecção de materiais em alto relevo, dentre outras mostras apresentadas.
A medida possibilitou uma leitura mais acessível aos deficientes visuais que ali estudam, além de aguçar a criatividade deles, por meio da contação de histórias criadas pelos próprios alunos. A professora Lucilene Silva de Souza é especialista em Educação Inclusiva e trabalha numa turma do 1º ao 5º ano, com 20 alunos de baixa visão do CAP. Ela relatou que seus alunos gostam muito de ouvir histórias e sempre as contava no início das aulas. Este ano, pelo fato de estar com problema de garganta propôs aos alunos que eles mesmos contassem as histórias. Foi daí que surgiu a ideia do projeto de leitura.
“Fui escriba da maioria das histórias, mas a produção é deles”, contou ela, antecipando que as histórias vão virar livro. Para ministrar aulas com alunos de baixa visão, Lucilene destacou que é necessário ter uma metodologia diferenciada. Uma fonte mais ampliada, contraste ao fundo e letras diferenciadas também. Do projeto da sala de Lucilene participaram 17 alunos e produziram textos.
Marluce Cunha Rodovalho Caetano, professora do Programa Marabá Leitora (Biblioteca Viva) expressou satisfação em apoiar o projeto do CAP. “Começamos em agosto o trabalho com as crianças vindo dar minicursos para elas, roda de leitura, bate-papo e contação de histórias. Esse encontro com crianças e adolescentes deficientes visuais foi para nós uma aula”, disse ela, emocionada.
A professora lembrou que a leitura já remonta dificuldade nos ditos normais, que dirá nas crianças de baixa visão, no acesso à leitura, ao livro, a escrita. “Os alunos foram assimilando de uma forma muito delicada, singular e muito especial. No dia Internacional do Livro isso é muito importante, pois encanta os olhos esse espaço e dá até vontade de chorar. Por que as pessoas que não tem a visão fazem de forma bela e nós o que estamos fazendo?”, indagou Marluce Caetano.
Ela destacou que na contação de histórias para deficientes visuais outros recursos são explorados como o som, percepção e tato. “O contato mais humano que é importante. Cada criança pede para tocar os objetos.”, revelou.
O aluno Antônio Isaque do Carmo Martins tem 11 anos e é deficiente visual. Ele faz acompanhamento no CAP no contraturno escolar, duas vezes por semana. “Achei a apresentação muito legal. Aprendi muitas coisas. Eu gostei da cigarra e da formiga. Estou aprendendo o Braille, e adoro mexer na máquina”.
O QUE É O CAP?
O Centro de Apoio Pedagógico para Deficientes Visuais atualmente atende 85 alunos, e ainda toda comunidade deficiente visual do município. Os que não são alunos e frequentam o ambiente, são pessoas que perdem a visão ao longo da vida, por um problema de saúde ou acidente, e procuram o centro para receber orientações de Braille, que é o sistema universal de leitura e escrita para pessoas cegas, e ainda acerca da mobilidade urbana.
A coordenadora do CAP Josiane Soares ressaltou que geralmente os deficientes visuais da comunidade procuram o CAP para ler a bíblia [em Braille]. “O nosso atendimento é com Braille, alfabetização, estimulação precoce com crianças de 0 a 4 anos. Temos orientação em mobilidade que é a independência deles em andar com a bengala. Vamos implementar também em 2019 o AVA (Atividade de Vida Diária), todas as atividades que aprendem em uma casa o cego também vai ter a estabilidade para ter a independência”, declarou.
A maioria das pessoas atendidas pelo CAP está no ensino comum, Educação Regular. “Eles têm o material adaptado que vem da escola, o CAP tem o centro de produção de materiais. Estes materiais são devolvidos para escola para que o aluno possa ter uma aula de qualidade”, finalizou Josiane Soares. O CAP é mantido com recursos estritamente do município, porém ainda atende alunos do Ensino Médio.