Assistência Social: Prefeitura retira idoso catador de lixo da rua e busca por seus familiares
Após 15 anos morando nas ruas de Marabá, idoso é resgatado por equipe especializada da Prefeitura e agora leva uma nova vida no Centro do Idoso
Quem vê o idoso, João Alves, sorridente com um violão na mão, não imagina a transformação pelo qual ele passou neste último ano. Seu João, de 63 anos, viveu por 15 anos nas ruas de Marabá, onde andava carregando dois carrinhos de madeira de um lado a outro. Após ser resgatado pela Secretaria de Assistência Social, Proteção e Assuntos Comunitários (Seaspac), hoje ele vive no Centro Integrado da Pessoa Idosa Antônio Rodrigues (Cipiar).
A secretária de Assistência Social, Nadjalucia Oliveira, explica que seu João é um caso atípico de morador de rua. “Ele é um acumulador, catava tudo que via nos lixos. Sempre o encontrávamos carregando seus carrinhos cheios de entulho. Tentamos uma abordagem várias vezes, mas ele não queria nenhum tipo de atendimento”, comenta.
O processo foi longo, desde 2017, a Prefeitura tentou ajudar seu João, que estava em situação de abandono, risco e vulnerabilidade social. Com problemas de dicção o idoso não conseguia se comunicar direito, não sabia informar seu endereço e não possuía documentos pessoais. Mesmo após várias tentativas sempre se recusava a fazer exames ou ser levado para o Centro do Idoso.
Nadjalucia ressalta que além de morar na rua, Seu João apresentava transtornos e era muito resistente em receber qualquer ajuda. “Um dia o próprio Prefeito Tião nos chamou e perguntou como estava a questão desse senhor. Decidimos então fazer uma intervenção compulsória. Levamos ele ao hospital, confirmamos o transtorno e trouxemos para esse espaço de acolhimento”, conta.
Mas a chegada não foi fácil. Segundo a diretora do Cipiar, Onete Feliz, o idoso começou a ser agressivo, atacava os funcionários com cadeiras. “Um médico fez todo o acompanhamento. Hoje ele toma remédio controlado, tem atendimento com psicólogo, participa das atividades do Centro e é uma pessoa muito prestativa”, cita.
José não é o primeiro a ter uma nova oportunidade de vida, com o apoio da Prefeitura. No mês de julho de 2019, a Seaspac ajudou o chinês Tao Yan, de 32 anos, a retornar para sua família, que morava no Chile.
A mudança
Após alguns meses recebendo o carinho e o cuidado do pessoal do Cipiar, João Alves hoje é uma nova pessoa. “Ele gosta de estudar. É um dos mais participativos do centro. Ele senta na nossa horta e fica tirando os capins. Apesar do problema na fala, ele adora cantar. Assim que ele chegou falou que sentia vontade de ter um violão, então compramos”, comenta Onete Feliz.
Mas a saga do Seu João ainda não acabou, em parceria com o Ministério Público, a Seaspac ainda busca encontrar os familiares do idoso. Devido a meses de trabalho e investigação já descobriram sua idade, que nasceu em Mirante – MA e que possui duas irmãs. Hoje o Ministério Público está providenciando uma nova certidão. “Para tirar CPF, identidade precisa de um registro. Estamos agora trabalhando com isso, para ele voltar a ser um cidadão”.
Enquanto isso, também é feito a busca pelos familiares do idoso. Foi encontrada uma irmã em Itupiranga, mas após algumas ligações o contato sumiu. “Ainda estamos investigando a possibilidade de ele retornar à família. Esse é o caminho ideal. Aqui é um ótimo lugar, mas o lugar ideal seria com seus familiares”, reforça Nadjalucia Oliveira.
Apesar da dificuldade de comunicação, seu João conta que veio para Marabá em 1982 e trabalhou como zelador para um contador. Depois trabalhou em um carrinho, vendendo alimentos na praça. Um pouco confuso com as informações, Seu João Alves, não sabe explicar como foi parar na rua, mas demonstra carinho e reconhecimento pelos funcionários do Cipiar. “Aqui é bom. As pessoas me ajudam. Gosto daqui”, diz com um sorriso no rosto.
Texto: Osvaldo Henriques
Fotos: Paulo Sérgio