Linha de Frente: Profissionalismo para transformar medo em esperança
A perda da mãe impulsionou ainda mais a enfermeira Mauricia no combate ao coronavírus junto aos demais profissionais que dedicam a vida em prol do próximo.
A enfermeira Mauricia Macedo Ramalho, 43, conheceu um dos maiores desafios da carreira profissional, o ano passado, trabalhando na ala da covid-19, no Hospital Municipal de Marabá, (HMM). A profissional que trabalha há 20 anos na área da saúde, 11 deles como enfermeira, sempre esteve à frente de setores complexos da área. Já atuou na Média e Alta complexidade, Vigilância Epidemiológica, Centro de Testagem e Aconselhamento, mas ao assumir o concurso municipal como enfermeira em abril de 2020, logo percebeu que vivenciaria uma das mais graves situações enfrentadas na profissão.
“No primeiro dia no setor COVID percebi o quanto aquilo era importante para os profissionais que estão vivenciando, de qualquer forma, o enfrentamento a doença. Um dos principais desafios foi enfrentar o medo, a insegurança e a ansiedade frente há dias tão sombrios. Pois conciliar o trabalho ao medo de adoecer e transmitir para a família não foi fácil” relata a enfermeira.
Para cumprir a missão de salvar vidas, a enfermeira teve de encarar os medos, mas logo nos primeiros 30 dias contraiu o coronavírus, embora estivesse paramentada. No caso dela a recuperação transcorreu bem e a enfermeira voltou ao batente na linha de frente.
“Mesmo assim, continuava um anseio, o medo de transmitir a doença para a família”, enfatiza Mauricia.
A enfermeira que é especialista em UTI Adulto, Urgência e Emergência atualmente coordena o setor COVID do HMM, onde a esperança se renova a cada paciente curado. Quando isso não acontece o sentimento predominante é o de impotência para os profissionais. É exatamente assim que Mauricia descreve o que sentiu quando perdeu a mãe dela para a covid-19, em fevereiro deste ano.
“Eu cuidei dela, no primeiro momento em casa, quando vi que ela estava agravando trouxe para o hospital de imediato. Foram dias muito difíceis. Passou 4 dias aqui depois foi transferida para o Hospital Regional. A sensação foi de impotência, porque eu sabia que ela estava recebendo todo o atendimento que podia ser dado, nem eu e nem a equipe sabíamos nenhum outro meio de salvar ela. E vi ela indo aos poucos”, descreve emocionada a enfermeira.
A perda da mãe impulsionou ainda mais a enfermeira Mauricia no combate ao coronavírus junto aos demais profissionais que dedicam a vida em prol do próximo.
“Eu sinto que eu tenho um dever. É fazer com que as pessoas consigam ter assistência precoce, apesar de tudo minha mãe teve assistência precoce. Que tenham a chance de poder sair. Me sinto na obrigação de cada vez mais poder propiciar isso pra as pessoas. Dar assistência adequada, porque não é fácil. A maioria dos municípios não tem uma bala de oxigênio, máscara, e chegam pessoas aqui asfixiando com falta de oxigênio” destaca a coordenadora do setor covid do HMM. Mauricia Macedo ainda alerta a população sobre o momento pandêmico. Ela diz existir muitos profissionais bons e dedicados que pretendem lutar em prol da população até o último suspiro, mas assume que estão cansados.
“Eu nunca vi, em 20 anos de profissão, uma doença tão cruel. Às vezes as pessoas chegam caminhando aqui e em menos de duas horas começam a rebaixar. A população precisa se conscientizar sobre as medidas protetivas, pois os profissionais estão cansados, os hospitais lotados e se não conseguimos reduzir o número de casos a saúde vai entrar em colapso total e mais vidas serão ceifadas. E aos profissionais de saúde que atuam na linda de frente, o mínimo é que sejam reconhecidos pelos seus esforços”, conclui a enfermeira.
Texto: Leidiane Silva
Fotos: Arquivo