Secult: Grupos juninos recordam festas juninas de Marabá
“Cheguei ao ponto de sonhar que estava no festejo, muito animado, e quando acordei estava sozinho. Saudade daquele calor que treme o chão, da arena de Marabá. Poucos festejos do Brasil tem uma arena quente como a de Marabá” descreve o coordenador do Flor do Campo.
Pelo segundo ano consecutivo a arena não foi montada para o Festejo Junino de Marabá. Não há festa e nem clima com a pandemia do coronavírus ainda em alta no município. Do arrasta pé e das batidas dos bois restam apenas lembranças de quem fazia parte dos espetáculos juninos nesta época do ano, como José Rodrigues, o Zé do Boi e o quadrilheiro, Ademar Dias.
Usando parte da indumentária, Zé do boi, coordenador do Boi Flor do Campo, se emociona ao relembrar as apresentações no arraiá, na presença do público. Já são 31 anos fazendo parte do grupo, 29 deles mostrando a cultura na festa municipal. O Flor do Campo acumula 8 títulos de campeão municipal. Na última apresentação, em 2019, levou 101 integrantes aos arraiás, mas agora as apresentações se restringem às telas, através de lives.
“É uma perda muito grande daquilo que gosta de fazer. A gente faz o boi por prazer, por gostar. Quando chega essa época, de boi-bumbá, começa as fogueiras, quadrilha, aquela cultura que há muitos anos vínhamos fazendo…tenho saudade de mais. Cheguei ao ponto de sonhar que estava no festejo, muito animado, e quando acordei estava sozinho. Saudade daquele calor que treme o chão, da arena de Marabá. Poucos festejos do Brasil tem uma arena quente como a de Marabá” descreve o coordenador do Flor do Campo.
Para o quadrilheiro, Ademar Dias, coordenador da Fogo no Rabo, o sentimento não é diferente, a saudade se mistura a sensação de perda. A quadrilha que é uma das maiores de Marabá nasceu no Bairro Santa Rosa, que abriga as noites de festejo. A junina de 33 anos já conquistou 25 títulos intermunicipais, 10 municipais, 02 estaduais e este ano estão na luta para participar da disputa de casal de noivos em um campeonato nacional em Palmas.
“Não tem jeito, a gente chora porque a cultura é o ar que a gente respira. Imagina você olhar para uma arena que comporta 10 mil pessoas, em plena noite de São João e saber que não vai ter essa festa que envolve a criança, o jovem, a família. É muito triste para nós. Sinto saudade de tudo. Dos amigos, porque somos uma família; mas o que mais sinto são as perdas importantes, que contribuíram com o movimento junino de Marabá e região. As perdas que jamais serão esquecidas pelos quadrilheiros”, destaca Ademar.
Apesar da tristeza pela falta das apresentações, o quadrilheiro destaca a importância das medidas de segurança para o combate da covid e otimismo para seguir em frente. “O movimento junino ajudou na conscientização das pessoas e isso é importantíssimo. A gente tá vivo”, pondera.
Para quem trabalha na organização do evento, o vazio também fala alto. Genival Crescêncio, assessor especial da Secretaria de Cultura, lembra que o festejo junino de Marabá, na forma presencial, geralmente dura entre 09 a 10 dias, e Marabá se transforma na capital do forró. É uma das maiores do estado. A última edição foi a 34ª, realizada em 2019, e movimentou as noites da cidade com apresentações de quadrilhas, bois-bumbás, shows artísticos e vendas de comidas típicas. A festa também abriga disputas juninas intermunicipais e até estadual.
“A gente sente falta porque faz parte do nosso trabalho, gostamos muito de desenvolver essa atividade e não vemos a hora de voltar a normalidade para estarmos executando a atividade com toda a segurança”, enfatiza Genival.
Apresentações virtuais
O calor humano da arena vem sendo substituído pelos olhares fixos dos internautas, nas apresentações virtuais dos grupos juninos. Genival Crescêncio explica que o evento pela segunda vez teve de ser adiado por conta da pandemia, mas para diminuir os impactos causados no setor da cultura, os grupos puderam contar com a Lei Aldir Blanc, iniciativa voltada para o fomento de artistas.
“E podem desenvolver suas atividades em forma de lives, apresentações virtuais, oficinas. Basta acompanhar as páginas oficiais dos grupos”, observa o assessor.
Esperança para 2022
A alegria dos brincantes dos bois-bumbás e das quadrilhas juninas está escondida por detrás de máscaras. Os integrantes seguem separados pelo distanciamento. Mas o brilho ainda está aceso em forma de esperança de um 2022 com novos espetáculos.
“Vamos apoiando uns aos outros, por meio de lives, participando de concursos, inclusive nacional, a nível estadual. Uma das maiores preocupações de quem trabalha com grupos juninos é o que vai acontecer no pós-covid. Os quadrilheiros abraçaram a ideia de usar máscara, o gel, distanciamento, a esperança é de 2022 a gente ter uma arena lotada, que o movimento venha mais forte ainda. Tenho fé que juntos vamos superar esse momento difícil”, enfatiza Ademar Dias.
“Esperamos que Deus abençoe que com essa imunização, as vacinas, a gente vença isso aí” conclui Zé do Boi.
Confira abaixo algumas imagens dos últimos festejos juninos da cidade, na sua forma virtual e presencial.
Texto: Leydiane Silva
Fotos: Paulo Sérgio