Professor Fora de Série: 30 anos dedicados ao ensino e ao incentivo à leitura
A paixão pelos livros é uma marca da professora Valdirene Lima do Nascimento, 50 anos. Há três décadas, ela se dedica a ensinar as letras para crianças e adolescentes, na rede municipal de ensino em Marabá. Nos últimos quatro anos a docente atuou na sala de leitura da escola Albertina, na Folha 6, onde sela a missão e se despede do ofício de ensinar.
“A educação é tudo na nossa vida, na vida do ser humano. É onde a gente ver a oportunidade de transmitir, receber e de passar informações. A educação traz para o ser humano uma vida melhor. Quem tem educação consegue tudo na vida porque tem aquele foco. Tem o reconhecimento das coisas. Educação é a base”, comenta Valdirene.
A pedagoga, que com carinho ainda guarda na lembrança a primeira turma que lhe foi confiada há 30 anos, revela o amor e a satisfação pela prática da alfabetização, tendo começado a exercer a profissão aos 20 anos. “E daí não parei mais trabalhando com alunos, principalmente com os pequenos, para alfabetizar. Para mim era uma alegria, de ver com 3 meses, o aluno lendo, é minha paixão. Sempre trabalhei com os menores”, observa.
A escolha da profissão
A inspiração pela a docência veio por uma tia do Maranhão. “Eu escolhi ser professora! Começou numa cidadezinha do Maranhão. Eu ajudava uma tia minha. Estudava com ela pela manhã e à tarde ela me levava pra ajudar na alfabetização. Eu sou professora porque gosto de ser professora”, pontua.
Experiência
“Em 1995 cheguei em Marabá e já fui trabalhar no intermediário, na Escola José Cursino. Trabalhei lá por 10 anos. E depois eu vim pra esta escola [Albertina] que estou, antes era em outro prédio, na Folha 12, então, trabalho nessa escola desde que fundou”, ressalta a professora.
Relação com aluno
Valdirene conta que sempre primou pelo bom relacionamento com os alunos. Na sala de leitura, onde trabalha com as crianças de toda a escola, o cuidado dessa relação é ainda mais especial. Um dos desafios de Valdirene é atrair e cativar os alunos pelo gosto a leitura. As ferramentas para esta missão, ela adquiriu no cotidiano, mas contou com o apoio da Secretaria Municipal de Educação (Semed), por meio do projeto Marabá Leitora.
“É um trabalho que sou apaixonada, gosto demais. Eles (alunos) pedem pra aumentar o horário. Na hora do recreio eles pegavam um livro deitavam no tapete. Eu me sinto realizada em ver a alegria deles em ler, porque hoje no mundo que a gente ver, a criança geralmente é conectada no celular. Não faz muita leitura, e eu estava conseguindo, conquistando eles pra leitura. Eu ficava feliz quando chegava a hora do recreio e alguns correndo, enquanto outros vinham pra sala e faziam leitura espontânea”, descreve.
Técnicas para atrair o pequeno leitor
“Eu falo do livro, faço a leitura inicial, conto a história. Daí eles ficam curiosos, querem saber, querem ler. É um trabalho gratificante. Nós, da sala de leitura, temos formação, a Marluce (coordenadora do Marabá Leitora) e a equipe me ajudou muito, nos primeiros projetos, ela é maravilhosa”, reconhece.
Contribuições e reconhecimento
“Eu me sinto realizada. Esse período que estou na educação eu vi que contribui para muitas pessoas, jovens e adolescentes, hoje alguns já casados, que têm filhos na escola. Eu tenho inclusive um ex-aluno que é médico e mora em Goiânia, eu fui convidada para a formatura dele, não pude ir, mas o meu nome tá lá, ele fez uma homenagem, me agradeceu. Ele tinha muita dificuldade, não sabia ler, então, eu trazia atividades extras, atendia em outro turno, ajudei ele a ler”, enfatiza.
Ex-aluna
A professora do 1º ano de Ester Pereira Silva, 11 anos, ficou guardada na mente e no coração. Foi uma aprendizagem que se estendeu até a menina encerrar o 5º ano e foi por meio da leitura que Valdirene cativou a aluna, atualmente estudante do Colégio Militar Rio Tocantins, no 6º ano. “Ela foi minha professora no primeiro ano e depois foi professora da sala de leitura. Com ela eu aprendi a ler, me ensinando sempre com amor. Eu tive uma aprendizagem muito boa com ela e, assim, eu passei até o quinto ano, aprendendo com ela na sala de leitura . Eu agradeço a ela”, confirma.
Aposentadoria
Depois de 30 dedicados a ensinar, chegou o momento de se despedir da rede municipal. A professora Valdirene está no processo de aposentadoria , e a única tristeza que carrega é a de não poder se despedir dos alunos, como havia planejado, por conta da pandemia.
“Eu tô sofrendo em ver essa escola tão calada. Eu queria me aposentar e fazer minha aula de encerramento. Quando eu fiz meu projeto, antes do ano da pandemia, eu dizia: vai ser o meu melhor ano, vou dar o meu melhor, vou fazer tudo perfeito. Fiz tudo que eu queria realizar, vou ficar com essa tristeza de não encerrar com o meu público”, pondera.
O futuro
Valdirene tem três filhos, o mais velho é engenheiro mecânico, e os outros dois ainda estão na escola. E é junto da família que ela pretende passar a maior parte do tempo daqui pra frente. “Quero viajar, descansar um pouco. Nos primeiros dois anos quero curtir minha casa, minha família. Depois quem sabe volte à educação. Agradeço a Deus, pela oportunidade. Pelas pessoas maravilhosas que encontrei no caminho. Pelo aprendizado da vida, pelo o amor que eu recebi e dei. Então, deixo essa profissão, se encerra um ciclo, mas se inicia outro. Aos colegas que vão chegar ou que continuam ainda na luta , desejo força, coragem, sabedoria e amor, porque com amor a gente realiza tudo”, conclui.
Texto: Leydiane Silva
Fotos: Aline Nascimento