Assistência Social: Centro POP acolhe pessoas em situação de rua
De 2017 até o início de 2021, 352 pessoas já passaram pelo Centro POP
Há duas semanas, Lindomar Pereira dos Santos, 55 anos, teve a perna esquerda amputada. Hoje ele se encontra no Centro de Acolhimento de População em Situação de Rua (POP), onde dorme, recebe alimentação, é transportado e acompanhado até o Hospital Regional para fazer fisioterapia duas vezes por semana e já tem consultas marcadas no Centro de Especialidades Integradas (CEI).
Assim como Lindomar, outras seis pessoas estão vivendo no Centro POP no momento. O local é um espaço de moradia provisória e pernoites para pessoas em situações de rua. Além dos cuidados necessários com a saúde e alimentação, a equipe do Centro faz a busca dos familiares dessas pessoas.
A titular da Secretaria de Assistência Social, Proteção e Assuntos Comunitários (Seaspac) Nadjalucia Oliveira explica que a maioria das pessoas em situação de rua da cidade são itinerantes, ou seja, pessoas que estavam em trânsito pela cidade e passaram por algum tipo de acidente ou eventualidade que os levaram a ter uma vida andarilha.
“Temos vários tipos de situações, por isso fazemos a abordagem, damos o acolhimento, buscamos algum vinculo que essa pessoa tenha e, se for o caso, pagamos a passagem dela e a acompanhamos até a volta a sua família. Importante ressaltar que enquanto estão conosco há uma equipe multiprofissional que trabalha 24h com essas demandas”, completa.
Neste ano, por exemplo, houveram dois acolhidos que a Seaspac conseguiu encontrar os parentes em Minas Gerais e São Paulo. “O nome que eles nos davam era diferente do real. Todo dia era uma conversa nova para ir montando o quebra-cabeça das informações. Até que descobrimos, nos dois casos, um irmão nesses estados que aceitaram acolher eles. Pagamos passagem de avião e os levamos de volta às suas famílias”, comenta Regina Francisca Ribeiro, assistente administrativa e auxiliar técnica que participa da equipe de abordagem.
Um caso famoso na cidade, que teve um final feliz através do trabalho do Centro POP, foi o do chinês Tao Yan, de 32 anos, conhecido na cidade como Chinguilingui. Após o trabalho da Seaspac sua família foi encontrada na China. Ele saiu da cidade para embaixada chinesa em Brasília, de onde retornou para seu país.
De 2017 até o início de 2021, 352 pessoas já passaram pelo Centro POP. A maioria é de cor parda, sexo masculino e idade entre 30 e 49 anos, menos da metade sabe ler e escrever e apenas 22% concluíram o ensino médio.
A abordagem
A maior parte das abordagens é feita através de informações que chegam por meio do telefone (94) 98803-2214. “Nós recebemos a informação e vamos até o morador de rua, perguntamos se quer ser acolhido. Muitas vezes eles não querem, preferem ficar na rua. Mas sempre voltamos e conversamos. Procuramos saber se tem família, filhos”, comenta Regina.
A equipe de abordagem é composta por assistente administrativa, assistente social e psicólogo.
Outra demanda costuma vir do próprio Hospital Municipal de Marabá (HMM), já que a maioria se encontra em situação debilitada de saúde ou foi vitima de algum acidente. “Chegam no HMM e acionam a gente. Às vezes estão em transito, sequelado de algum acidente, ou até de covid. Acionam a gente para tomarmos as providências”, comenta Nadjalucia.
Pandemia
O Centro POP funciona na Folha 30, Nova Marabá, mas durante esse período pandêmico, outro lugar, aonde era o antigo Centro, está funcionando como local de quarentena para novos acolhidos, principalmente os de idade mais avançada. Os que chegam são levados ao CTA para fazer exame, nas Unidades Básicas de Saúde se necessário, depois vão para quarentena na Folha 29. “Eles ficam em quarentena. Isolados. Até que possam ser mandados para outros lugares. Principalmente quando é idoso e vão ser encaminhados aos locais de acolhimentos de idosos do município, como o Cipiar [Centro Integrado da Pessoa Idosa] ”, comenta Nadjalucia Oliveira.
Vale lembrar que a maioria dos moradores de rua do município já foram vacinados contra a covid-19, tanto os que se encontram no Centro, como os que preferem continuar na rua.
É o caso da cadeirante, Raimunda Pereira, 72 anos, nascida em Bacabal-MA, ela sempre viveu em Marabá. Há mais ou menos um mês se encontra no Centro POP, enquanto tentam localizar sua família. Caso não seja possível, ela pode ser transferida ao Cipiar. “Todos nos tratam bem, nós dão o que comer. Estou gostando daqui, não tenho do que reclamar”, comenta.
O Centro
O Centro POP hoje tem capacidade para abrigar 20 pessoas, 10 no local oficial e 10 no local de quarentena. Entre os serviços realizados pela equipe de 16 funcionários do Centro estão: servir refeição, lavanderia, encaminhamento para outras políticas públicas, fortalecimento da autonomia deles, ajuda na busca por trabalho, auxílio na regularização de documentos e outros. “Buscamos verificar se eles têm algum direito como auxilio para os que já trabalharam, verificamos com INSS. Auxiliamos na retirada de documentos pessoais etc.”, comenta Maria Teixeira, coordenadora do Centro POP.
“A sociedade quer a higienização das cidades, têm situações de extrema vulnerabilidade em que não se tem os meios materiais para sobreviver, mas tem questão subjetiva que é do indivíduo que, às vezes, preferem ficar na rua e nós não podemos obrigar. Às vezes, os familiares não querem aceitar, principalmente quando é idoso, preferem institucionalizá-lo. A gente está constantemente nessa luta porque não podemos lotar o local e nem abandonar ninguém”, conclui Nadjalucia Oliveira, titular da Seaspac.
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Texto: Osvaldo Henriques
Fotos: Aline Nascimento