Educação: Nielton Martins e a alfabetização como processo transformador
Quando teve o domínio das letras, aos 25 anos, Nielton Martins de Andrade, hoje com 29 anos, passou a ver o mundo de outra forma. O processo de alfabetização para ele veio tardio, aconteceu de fato, em 2017, quando conheceu a Educação de Jovens e Adultos (CEEJA), lá em Morada Nova, na Escola Pedro Peres. De lá pra cá, Nielton não mais parou de estudar e já cursa o 3º semestre de licenciatura em matemática na Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), após se submeter ao Enem. Uma história de sucesso que vale a pena ser contada neste dia 08 de setembro, data que é comemorada como o Dia Mundial da Alfabetização.
A história de Nielton se destaca pela força de vontade, perseverança e dedicação. Ele conta que quando criança até chegou a estudar, mas devido a vida nômade da família não conseguia concluir as séries iniciais, o que piorou quando os documentos escolares foram perdidos.
“Em 2017, eu comecei a estudar a primeira etapa, com a professora Neusa. Lá eu comecei a desenvolver a leitura, praticamente ser alfabetizado, fui me desenvolvendo e participando de algumas avaliações, para poder chegar nas séries maiores. Quando eu cheguei no CEEJA eu fui abraçado pelos professores que compõem a equipe, e foi muito importante para mim”, relata o estudante.
A vontade de vencer os desafios levou Nielton a prosseguir com os estudos iniciando o ensino médio, logo em 2018, por meio do programa Mundiar (proposta pedagógica de aceleração da aprendizagem e correção de fluxo escolar). Ele mora na zona rural de Nova Ipixuna, há 24 quilômetros de Morada Nova, pedalava até a escola e ainda tinha de dormir na casa de amigos. Nielton afirma que as dificuldades foram grandes, mas com apoio da escola e com os objetivos bem traçados, conseguiu superar as barreiras .
“Foi um esforço para aprender e fomos evoluindo, aprendendo. Foi muito importante esse processo. Me fez crescer bastante. Como já tinha família, meus filhos e minha esposa foram bastante importantes na caminhada. É importante na educação dos meus filhos, porque através do meu interesse, do meu esforço para estudar, a gente pode ver a motivação a mais para eles se dedicarem aos estudos”, enfatiza.
Pela sua história e pelo lugar que alcançou, Nielton se tornou uma referência não só para a família mas para toda a comunidade onde vive, por isso, ele faz questão de frisar o quanto a educação mudou a vida dele.
“A educação, a alfabetização teve um poder transformador na minha vida. Mudamos a forma de ver o mundo, de entender que nós fazemos parte, que precisamos contribuir com a nossa sociedade. Temos essa capacidade de contribuir para o desenvolvimento da cidadania, da sociedade, da comunidade onde nós residimos. Além de tudo, nossa história tem um poder transformador na vida de outras pessoas. As pessoas olham para gente de forma diferente, muitas pessoas se inspiram na gente para fazer alguma coisa, conseguir alguma coisa”, conclui.
Nielton agora sonha em concluir o curso superior e ingressar no mestrado de matemática pura, além de ajudar outras pessoas a realizar os sonhos.
Professora aponta força de vontade como ponto essencial para vencer os desafios da alfabetização na vida adulta
Há mais de 25 anos trabalhando na rede municipal de educação, é na Educação de Jovens e Adultos, que a professora Neusa Silva Souza, tem dedicado a maior parte da docência. Ela lembra bem de um dos alunos, do qual hoje se orgulha, e conta como trabalhou a aprendizagem com Nielton.
“A gente considera o processo de alfabetização como contínuo de aprendizagem, onde cada dia o trabalho de alfabetizar vai se realizando, e o Nielton, foi um aluno muito especial. Ele já conhecia as letras, lia pausadamente, então começamos a perceber que ele precisava de mais um motivo. De uma leitura maior do mundo, da realidade. Começamos a trabalhar questões de interpretação. Ele pegou muito rápido. Não deixou passar a oportunidade que teve de se alfabetizar na primeira etapa e dar continuidade os estudos. Hoje ele está se formando, graças ao esforço dele, dedicação e fé. Quando a gente acredita faz acontecer, nós fizemos isso, com a participação e vontade que ele tinha de aprender e mudar a realidade dele”, descreve a professora.
Educação de Jovens e Adultos na rede municipal de Educação
Segundo dados do IBGE, o analfabetismo no Brasil atinge mais de 16 milhões de pessoas, o que corresponde a cerca de 7% da população. A meta do Plano Nacional de Educação (PNE) é de zerar o analfabetismo no país até 2024. A Prefeitura de Marabá tem feito a sua parte, além de ofertar duas etapas da educação básica que são a Educação Infantil e o Ensino Fundamental, também oferta diferentes modalidades, a exemplo da Educação do Campo, Educação Especial e a Educação de Jovens e Adultos.
Atualmente, o município de Marabá conta com 2.119 alunos na Educação de Jovens e Adultos, sendo 1.727 deles no ensino personalizado (6º ao 9º ano) e 392 nas etapas. É justamente nesta última, onde os jovens a partir dos 15 anos e adultos têm a oportunidade de se alfabetizar.
Larissa de Almeida, coordenadora do departamento do EJA, explica que o ensino nas etapas funciona em turmas regulares, de segunda a sexta-feira, no horário noturno em pelo menos cinco escolas da cidade, espalhadas por todos os polos. Na Cidade Nova a modalidade é ofertada na escola Darcy Ribeiro, na Velha Marabá a Judith Gomes Leitão, na Nova Marabá na escola Martinho Motta, em Morada Nova na EMEF Pedro Peres e em São Félix na Walquise Viana.
“A EJA tem uma função, uma política muito linda. Ela atende aquele aluno que está fora da escola há um tempo, e ele tem a vontade de estar nesse meio, de alfabetização, de voltar a estudar, e a nossa rede ela atende. Isso é um prazer imenso pra gente, poder ter esse aluno novamente na escola”, destaca a pedagoga.
As pessoas interessadas em estudar as etapas devem procurar uma das cinco escolas citadas acima para se matricular. As aulas acontecem no mesmo período do ensino regular, inicio do ano letivo.
Texto: Leydiane Silva
Fotos: Divulgação