Saúde: Em Marabá, 20 mil pessoas são acompanhadas pelo Hiperdia, programa de controle da Diabetes e Hipertensão
14 de novembro foi escolhido para o combate e controle da doença no mundo inteiro, com foco na prevenção e tratamento.
Uma das doenças que atinge em grande escala a população mundial é a Diabetes, aumento da glicose no sangue. Dia 14 de novembro foi escolhido para o combate e controle da doença no mundo inteiro, com foco na prevenção e tratamento. Em Marabá, cerca de 20 mil pessoas são acompanhadas pelo programa nacional Hiperdia, que é desenvolvido nas Unidades Básicas de Saúde, as responsáveis por cadastrar e fazer o acompanhamento de portadores de hipertensão arterial e diabetes. Os benefícios são os atendimentos preferenciais agendados, distribuição gratuita de medicamentos e monitoramento dos pacientes.
“Então se o usuário necessitar deve procurar a rede municipal mais próxima da residência para realizar esse acompanhamento. O nosso maior desafio é a sensibilização da comunidade em aderir ao tratamento, seja ele medicamentoso ou intervenções terapêuticas. Existe uma resistência dos usuários na mudança dos hábitos alimentares e prática de exercícios físicos que é o que melhora a qualidade de vida dessas pessoas”, comenta Gisele Leite, coordenadora do departamento de doenças crônicas da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
A endocrinologista Jaqueline Miranda de Oliveira, durante anos acompanhou pacientes do Hiperdia, na Unidade Básica de Saúde (UBS) Demostenes Azevedo, no bairro Francisco Coelho. Na comunidade de pouco mais de 8 mil pessoas, a SMS identificou 325 delas com diabetes. “Esse ano completou 100 anos da descoberta da insulina na vida dos pacientes com diabetes I, sem a insulina eles não conseguem sobreviver, então a gente comemora essa descoberta”, pontua.
Sintomas e tipos de diabetes
Além de comemorar essa descoberta, a médica alerta para sintomas e cuidados à doença. “Ela (diabetes) se caracteriza pelo aumento da glicose no sangue, hiperglicemia. Os sintomas que vão levar o paciente a pensar se tem diabetes ou não são: levantar várias vezes à noite para ir ao banheiro; o aumento da ingesta alimentar, uma polifagia, aquela fome desacerbada, às vezes a visão turva (embaçada) e também o ganho de peso, são questões relacionadas ao tipo 2. A perda de peso é no diabetes tipo 1, aquele que já precisa da insulina pra fazer a manutenção da vida. O pâncreas já não produz insulina suficiente ou já faliu de vez”, esclarece a médica.
Tratamento
“Pode ser através de uma mudança de estilo de vida. Fazer uma alimentação adequada, abrir mão e reduzir o uso de carboidrato. Fazer atividade física. Cortar o açúcar ou substituir por adoçante, de fonte natural, não sendo natural, usar em pequena quantidade. Tem de ter um acompanhamento multidisciplinar com médico, nutricionista, equipe da atenção básica voltada pra ele. As comorbidades são o que preocupam, porque a diabetes tem controle, mas não se pode descuidar”, alerta a médica, destacando que a falta de cuidado pode ser fatal.
“É preciso cuidar porque o paciente pode ter potencial agravo para uma amputação, perda da visão, evoluir para uma diálise, uma insuficiência renal”, aponta. Vale lembrar que a diabetes pode acontecer em qualquer faixa etária da vida.
Prevenção e cuidados
Manter uma alimentação mais saudável, com mais legumes, verduras, frutas, sem tantos carboidratos, doces, evitar refrigerantes que tem muito açúcar. Precisamos entender que estilo de vida saudável, não é pra quem é obeso, doente, é pra vida. Quem quer ter uma vida saudável, envelhecer saudável sem adoecer, precisa cuidar desde a gestação da mãe à alimentação saudável. Além de tudo isso, praticar atividade física para melhorar o condicionamento cardíaco, resistência e consequentemente consegue perder ou manter o peso e não evoluir para uma diabetes”.
Paciente fala da convivência com a doença
A professora Terezinha Maravilha, 70 anos, convive com a diabetes tipo I há 15 anos, mas leva uma vida normal dentro das possibilidades. Ela conta que isso só foi possível quando decidiu lutar, vencendo as resistências e se adaptando a um novo estilo de vida.
“Teve pessoas que achavam que eu não iria resistir, dada a fraqueza imensa que eu apresentei, mas consegui com ajuda médica e seguindo dieta e tomando medicação. Se não fizer isso não tem jeito. Tem de ter disciplina, principalmente na questão de exames na data certa que o médico pedir, retorno, esse acompanhamento é importante. Eu diria que eu vivo uma vida normal. Amava doce, hoje até esqueço de comprar açúcar. Substituí arroz. Dá trabalho no início, mas com o tempo se acostuma”, aconselha.
Terezinha descreve como descobriu o diagnóstico e como lutou pela vida. “Eu descobri a doença passando mal, urinando bastante, sem saber de onde vinha tanta urina, esmorecimento no corpo, vista turva, e no Hospital Municipal foi constatado que eu estava com a glicose em 629, foi uma surpresa imensa, um susto. Depois disso eu me consultei, fiz exames, medicamentos, chegou um momento que eu me descompensei. Eu pesava 68 quilos e fui para 38 em dois meses, foi quando eu passei a fazer o acompanhamento no postinho”, relata.
A professora aposentada participa do programa Hiperdia na UBS Demósthenes Azevedo, há 10 anos e assim como os demais pacientes recebe do município medicamentos e insumos para o tratamento.
Projeto experimental vai monitorar pacientes para controle sobre diabetes em Marabá
Há 10 anos trabalhando com pacientes diabéticos, Jaqueline Miranda, está dando um passo importante na carreira médica, mas também para os pacientes da cidade. Ela escolheu para o projeto de pesquisa do mestrado, o desenvolvimento de um aplicativo para o controle da doença. O App, estudado há 3 anos, terá capacidade para armazenamento de todas as informações do paciente, tais como o prontuário, exames, uso de medicamentos, imagens de lesões, bem como, cardápios voltados para diabéticos com auxílio de nutricionista, calculadora para correção alimentar na hora das refeições.
De acordo com a médica, a ideia é que o App seja alimentado pelo próprio paciente, mas também pelas equipes da atenção básica no monitoramento dos dados. O projeto piloto foi desenvolvido com 83 diabéticos que utilizam a insulina, atendidos pelo programa Hiperdia, na UBS Demósthenes Azevedo, dando maior agilidade e eficiência no atendimento e acompanhamento dos casos.
“Vamos começar com eles porque nossa preocupação maior é que quem utiliza a insulina é porque já não tem a produção de insulina pelo pâncreas, e esses pacientes se não olharmos com mais atenção para eles podem descompensar, agravar, evoluir para cegueira, diálise, amputação e outras inúmeras comorbidades”, esclarece.
Vale ressaltar que o App também poderá ser consultado por outros profissionais e especialistas, a exemplo do cirurgião vascular do município. Jaqueline informa ainda que um GPS vai garantir o mapeamento dos pacientes.
“Outra opção dentro do aplicativo é a interação para ações em saúde, fazendo buscas, mandando mensagens para todos ao mesmo tempo, marcando consultas. O GPS foi desenvolvido para que nós possamos ter um mapeamento de quantos pacientes nós temos em potencial agravo, queremos evitar amputações mensurando no mapa o ponto vermelho, com nome do paciente, endereço e telefone, indicadores em mãos. A ferramenta vai ajudar muito as equipes de saúde”, pontua a médica.
A previsão pra defesa da tese é até dezembro deste ano, só então, o projeto piloto será implementado.
Texto: Leydiane Silva
Fotos: Paulo Sérgio