Esportes: Pé quente, Padre torcedor, Fabricio Rodrigues, quer continuar dando sorte para o Águia de Marabá
Entre o sonho de ser jogador de futebol e de ser padre. Essa foi a dinâmica de parte da infância e adolescência do padre Fabrício Ribeiro, enquanto brincava pelas ruas do Bairro Liberdade, lugar que cresceu e jogava bola com os colegas da Escola Irmã Theodora, onde estudou. Filho de Marabá, o padre se destacou ainda mais nas redes sociais na última semana, após uma foto dele na arquibancada, vestido de batina, com a camisa do Águia por baixo, viralizar na vitória do time marabaense por 4×2 contra o Itupiranga pela 4º rodada do campeonato paraense.
A imagem ganhou ainda mais força, pois aquela foi a primeira vitória do clube no ano. “Eu ia para igreja depois. Como ia rezar missa após o jogo, coloquei a camisa do Águia, coloquei a batina e já sai pronto. A meta era: apitou o fim do jogo, sair acelerado para poder rezar a Santa Missa. O jogo começou às 16h e terminaria por volta das 18h. A missa era 18h. Tinha que estar pronto e deu tudo certo”, conta, rindo.
Além disso, o padre esteve na sexta-feira, antes da partida com o Itupiranga, no Zinho Oliveira, para acompanhar o treino do time. Na ocasião, ele rezou com os jogadores no gramado, abençoou o time e garantiu que iria voltar para acompanhar o jogo.
Essa foi a primeira vez que ele acompanhou o time do azulão no Zinho Oliveira. Ele conta que, como deu certo, voltou para o jogo seguinte, no que acabou sendo a segunda vitória do time na competição, contra o Tapajós. Coincidência ou não, ele foi para o jogo apenas após a missa, e o Águia, que havia tomado um gol aos 4 minutos, acabou virando a partida. “Dizem por aí agora que sou o amuleto do time”, brinca.
Mesmo sem ir ao estádio, o mais novo torcedor ilustre do Águia, sempre acompanhou o clube, através dos sites esportivos, rádio e televisão. “Tinha um desejo muito grande de ir para o Zinho. Mas não tinha condições porque morei muito tempo fora. Sempre acompanhei o time, mas era difícil conciliar o horário da missa e do jogo. Normalmente os jogos são na quarta e fins de semana. Quarta tenho missa de adoração, que se estende, e no fim de semana, eu tenho missa de manhã, tarde e noite”, conta, garantindo que a partir de agora irá se esforçar para acompanhar todos os jogos possíveis no estádio.
“Pretendo acompanhar os próximos jogos. É bom ver. Me marcou muito a época do ápice do Águia quando jogou com o Fluminense e ganhou. Vi nos momentos mais difíceis, vi em momentos muito bons e agora estou vendo o time em uma crescente e isso motiva a gente a ir ao estádio”, revela, convocando a torcida a apoiar o time.
“É gostoso ver a torcida de Marabá comparecendo. Gritando, cantando e apoiando o time da nossa cidade. Espero que a boa fase motive todos a comparecerem. Eu sei que, enquanto eu estiver indo ao estádio, o Águia vai ganhar”, brinca.
O próximo jogo do Águia é neste domingo (20), contra o Castanhal, às 17h, no Zinho Oliveira. O time ocupa atualmente a 2ª posição, com oito pontos, três pontos a mais que o 3º colocado, o Paragominas. Uma vitória pode garantir a classificação antecipada do Águia na competição. O time ainda encerra sua participação na primeira fase no próximo sábado, dia 26, às 15h30, contra o Remo, em Belém.
Para Fabrício, um dos principais componentes da vitória é a fé. “Quando um time, um atleta, está motivado, quando ele acredita, tem fé que vai vencer já é um passo dado. Aquele que entra com fé já tem uma possibilidade maior de vitória do que aquele que entra desacreditado. Acreditar em Deus, um Deus que cuida, mas ao mesmo tempo acreditar em si mesmo é o primeiro passo para a vitória”, completa.
Fé e esporte
O padre torcedor conta que na hora do jogo a emoção toma conta e, apesar do sacerdócio, se comporta como um torcedor comum. “Já fiz promessa, rezei o terço, assisti pênaltis de joelhos, já me entreguei à fé nesses momentos de futebol. Peço gol, não posso negar. Mas sei que por mais que eu reze, tem outras pessoas rezando também, então são encontro de orações”, comenta.
A fé e o esporte ajudam a moldar a vida de Fabrício. Ele ressalta que os dois desempenham um papel muito libertador para as pessoas. “Quando eu faço missões, principalmente com a juventude, antes mesmo de chamar para um encontro, eu chamo para o esporte. Porque o esporte nos aproxima. Se eu chegar falando de Deus diretamente, muitas pessoas fecham os ouvidos, acham chato”, declara.
Ele conta que é comum encontrá-lo nas quadras do bairro Santa Rosa e da Folha 12, atuando como meia ou pivô. “Às vezes pego a batina, boto uma roupa de esporte por baixo e vou para uma quadra, vou para um campo. O futebol nos aproxima muito. Como aconteceu nesse episódio da foto. Começamos a criar laços e amizades e, a partir do esporte, mostrar como podemos servir à Deus e ser uma pessoa alegre, feliz. As pessoas ainda tem uma imagem de que entregar-se a Deus é algo muito sofrido, penoso”, destaca.
Rivalidade
Mas antes de torcer pelo Águia, Fabrício era um rival do time. Durante a adolescência, ele jogou em algumas escolinhas de futebol da cidade. Sendo a escolinha Duque de Caxias a que mais lhe marcou. “Eu via o Águia como um rival naquela época. Pois era o time profissional, mais famoso e sempre queríamos ganhar deles”, afirma.
No entanto, ele reforça que a rivalidade escondia também um desejo. “Ao mesmo tempo, havia desejo de ir para o Águia. Olhava como um rival porque não defendia o Águia, mas ao mesmo tempo, se uma oportunidade aparecesse eu mudaria de time”, disse, rindo.
Atualmente, ele tem ainda uma outra ligação com o Águia. O padre treina na academia em que o elenco do Águia faz a preparação física e diz que espera a oportunidade para atuar com a equipe. “Brinco com meus amigos que é porque não surgiu a oportunidade, mas o dia que me chamarem eu vou ali ser jogador profissional. Já vimos padre cantor, ator, agora precisamos de um jogador. Alô Águia, precisando de um meia, pode chamar que já vai um jogador abençoado. O dia que o falar vêm, eu estou pronto”, desafia.
Quem é o Padre Fabrício
Fabrício Rodrigues cresceu no Bairro Liberdade, estudou na escola Irmã Theodora e só foi embora de Marabá aos 15 anos, quando começou a caminhada para ser padre. Cursou filosofia em Vitória-PR e teologia em Ananindeua-PA. Desenvolveu trabalhos na Paróquia São Sebastião, em Parauapebas, e Paróquia Jesus Misericordioso, na Vila Cruzeiro do Sul, popularmente conhecida como Quatro Bocas.
Em 2019, retornou à Marabá, onde foi ordenado sacerdote, tornou-se padre e vem desenvolvendo trabalho na Paróquia Bom Pastor, na Folha 33, e na Paróquia São Félix de Valois, na Marabá Pioneira. Por volta dos 4 anos, já brincava de ser padre. “Pegava o folheto da missa, levava pra casa. Brincava sozinho no quarto de rezar a santa missa. Para mim, o padre era o referencial do homem bom. Foi aonde despertou meu desejo de ser sacerdote”, conta.
O esporte também entrou muito cedo na vida dele, já que assistia jogos com o paí são-paulino. Fabrício acabou se tornando flamenguista e cresceu com o esporte fazendo parte da vida. Ele revela que, até mesmo na formação sacerdotal, o esporte é obrigatório.
“Temos que fazer um tipo de esporte porque esporte é vida. Somos seres espirituais, mas também corporais, temos que cuidar do corpo. A fé atua da seguinte forma. Cremos em um Deus que nos dá força, mas ao mesmo tempo essa força, para desenvolvermos um bom trabalho, a fé em Deus tem que levar a fé em si mesmo”, conclui.
Texto: Osvaldo Henriques
Fotos: Sérgio Barros e Jordão Nunes (foto do dia do jogo)