Marabá 109 anos: Artista Zé do Boi, 73 anos, homenageia sua terra natal
“Marabá e a natureza, temos que nela falar, lembrar das nossas riquezas, castanheiras e seringais, lembrar daquelas belezas, o diamante que não brilha mais, lembrar de tudo que era bom, canela fina da beira do cais, Santa Rosa, Cabelo Seco, hoje existe aquela obra que nos satisfaz”.
Com estes versos de uma de suas canções que fazem parte da coreografia do Boi-Bumbá Flor do Campo, José Rodrigues da Silva, 73 anos, homenageia Marabá, sua terra natal. Conhecido como “Zé do Boi” produz cultura no município há mais de 30 anos e é fundador do Boi Flor do Campo, um dos grupos folclóricos mais antigos de Marabá, com sede no bairro Independência. O artista foi criado no bairro Santa Rosa, na Travessa Antônio Pimentel.
O artista passou a infância e adolescência pela beira-rio mergulhando nas águas do Tocantins e do Itacaiúnas, mas também foi ali que aprendeu os ofícios do pai, exerceu diversas atividades braçais e vivenciou ciclos importantes do desenvolvimento econômico do município.
“ A beira rio antigamente era horrível, sem cais. Hoje tem uma orla bem-feita, bonita. Você chega no fim de tarde é bacana. Lembro dos castanhais, do garimpo. A economia foi muito grande e é grande. Hoje em dia não se fala mais em castanha, mas era uma grande festa uma hora dessas [tardezinha], castanha chegando, castanha saindo, barcos, dá saudades”, descreve Zé do Boi sobre suas lembranças.
Outra recordação que guarda com carinho é a paz e a tranquilidade de uma cidade pequena. Para ele eram terras seguras, que permitia vastas amizades e todos se conheciam no bairro. Ao se tornar adulto, Zé do Boi, constituiu família ao lado de Raimunda Silva. Com a atividade de pedreiro criou os 10 filhos, que geraram 35 netos e multiplicaram a família com 12 bisnetos. “Vamos fazer 50 anos de casados e não pretendo sair de Marabá”, disse o marabaense.
“Hoje nós somos ricos, Marabá tem muita coisa, naquele tempo era devagar! O primeiro carro de Marabá tinha cabine de madeira. Hoje Marabá tem carro demais no horário de pico. Marabá é gigante. Marabá é uma cidade boa de viver, daqui não saio para lugar nenhum. E para as pessoas que vem de fora, porque temos mais gente de fora do município do que daqui, [de origem marabaense] peço pra que conserve a nossa cidade boa, sem violência, se amar mais. Marabá é a terra do futuro”, explica Zé.
Para Zé do Boi, Marabá melhora a cada dia e apesar da saudade comum do tempo de criança reconhece na terra natal um futuro promissor para as novas gerações.
Cultura do boi-bumbá
O Boi Flor do Campo surgiu na década de 90, desde então, mesmo sem ter fins lucrativos, apenas com esforço dos brincantes e do fundador, só deixou de se apresentar ao público, durante a pandemia do coronavírus. Vale enfatizar que o Boi-Bumbá é uma das festas populares mais antigas de Marabá. Naquela época os arraiais eram diferenciados e a atração principal era mesmo o Boi-Bumbá. Zé do Boi conhece bem a festa, pois ele mesmo realizou algumas no município, em 1993.
“Era a coisa mais bonita do mundo. Dentro dos matos, o pessoal amanhecia o dia dentro desses arraiais. Eram 30 a 40 barracas, uma festa muito gostosa. Em 93, ainda realizei três arraiás: 2 onde é a feira coberta, da Laranjeiras e 1 na Transamazônica, Cidade Nova, mas vi que já estava ultrapassado e tinha de ser de outro modelo.” comenta o artista.
Texto: Leydiane Silva
Fotos: Aline Nascimento
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