Saúde: Dedicação e empatia marcam a trajetória da enfermeira Soraya em Marabá
O cuidado com o próximo é uma das principais marcas de quem escolhe a enfermagem como ofício. Foi assim com Soraya Maria Amoury Assunção, 65 anos, que dedicou 37 anos à profissão, sendo 30 na Rede Municipal de Saúde. Uma trajetória marcada por determinação e coragem.
“Eu acho que Deus me escolheu porque achou que eu servia para ajudar. Não foi por acaso. Me identifiquei. Nunca reclamei. Nunca tive tempo para isso”, enfatiza a enfermeira.
A enfermeira Soraya vive a aposentadoria há pouco menos de dois anos, mas durante o tempo que esteve servindo ao município, assumiu missões importantes, além da enfermagem. Esteve a frente do Departamento de Atenção Básica (DAB), na Secretaria de Saúde, no então governo de Nagib Mutran Neto. Na SMS montou um grupo de teatro para dinamizar as palestras de saúde, gostava de conhecer a realidade dos pacientes procurando manter a empatia sempre.
Também gerenciou Unidades Básicas de Saúde, como a Pedro Cavalcante, no bairro Amapá, e a UBS Mariana Moraes, no Km 07. Aliás, foi na UBS Mariana Moraes que Soraya dedicou a maior parte do serviço público. Foram 18 anos atuando no Programa Saúde da Família (PSF). Lá também fez os seus últimos atendimentos na profissão.
“No Km 07 trabalhávamos em dois cubículos. Lutei até a gente mudar para o novo, eu estava na direção. Mas exigia muito naquele tempo, a gente tinha que dirigir, atender pela manhã e à tarde. Escolhi trabalhar no programa Saúde da Família. Naquele tempo era uma enfermeira, para atender nove Folhas. Trabalhávamos dois dias na rua e três na sede. Depois o Ministério da Saúde modificou esse atendimento. Na equipe que eu atuava, entraram quatro enfermeiras. Para ver o tanto que eu trabalhava”, relata.
Ainda da rotina no PSF, a enfermeira relembra que na época não havia médico na equipe, então era missão dela fazer os atendimentos sozinha.
“Eu atendia criança, paciente de tuberculose, diabéticos, hanseníase, hipertensão. Fazíamos exames na gestante, preventivo, troca de sonda. Se a pessoa estava acamada, a gente ia. Fiz tudo isso sozinha. Era meu jeito de ser”, recorda-se da rotina no trabalho.
Formada pela Universidade Católica de Goiás (PUC), em Enfermagem Obstétrica e Licenciatura, lembra da garra que teve para vencer na vida. Todo o curso foi feito por meio de bolsa integral, mas as boas notas renderam também um estágio nos últimos dois anos de curso. O retorno a Marabá aconteceu após uma visita para uma festa de carnaval onde conheceu o marido, com quem tem dois filhos. Com um sorriso no rosto e olhar sincero, lembra quando iniciou na profissão em Marabá.
“Voltei para Goiânia faltando seis meses para terminar o curso. Então, logo prestei concurso para as Forças Armadas, passei, mas iria demorar três anos para me chamarem. Foi quando inaugurou o Hospital Santa Terezinha e me chamaram. Depois prestei concurso para a Prefeitura. Acabei me casando, constitui família”, conta a enfermeira.
Soraya Amoury revela que a Saúde Pública não foi o seu foco inicial, mas era a oportunidade de conciliar a profissão com os negócios, já que mantinha três farmácias na época do garimpo. Apesar de dar expediente em hospitais, a enfermeira pontua que a maior parte do tempo trabalhou mesmo foi na Atenção Básica passando por diferentes centros de saúde para não deixar os pacientes sem atendimento.
“Ia inaugurar uma Unidade em Morada Nova e ninguém queria ir pra lá. Soraya vai: Vou! Vai inaugurar em São Félix. Vou! Não que eu fosse um tapa buraco, mas porque eu tinha disposição. Ah vai inaugurar na Laranjeiras e não tem enfermeira para ir pra lá: eu vou! Sempre foi assim”, comenta.
Mesmo vivendo a aposentadoria, a enfermeira Soraya ainda não conseguiu se desprender do ofício. Sente saudades dos pacientes, de cuidar do próximo, embora vez ou outra receba ligações de alguém pedindo orientações de saúde. No entanto, tem se dedicado a ajudar nos negócios da família no ramo imobiliário e à Arte, uma paixão da juventude. A enfermeira desenvolve técnicas maravilhosas na pintura e na culinária. São delas as telas que tem na parede da sala, sem falar da maestria na culinária.
Por todo o serviço e dedicação ao município, Soraya Amoury recebeu muitos reconhecimentos. A Câmara de Vereadores a homenageou com títulos de Honra ao Mérito e Moção de Aplausos. Ela também guarda com carinho o prêmio Gente que Faz.
“ Valeu a pena, tanto que quando eu tive o AVC e não fiquei com sequela, acredito que foi Deus me retribuindo o que fiz. O que eu fiz e faço até hoje é por amor”, conclui a enfermeira.
Soraya Amoury é descendente, por parte de pai, de uma das famílias Libanesas que vieram para Marabá, na década de 20. Já a mãe era sobrinha e filha de criação do coronel João Anastácio de Queiroz, ex-prefeito do município.
Texto: Leydiane Silva
Fotos: Aline Nascimento e arquivo pessoal
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