Cultura: Marabá teve pré-estreia do filme Pureza no Cine Marrocos
O auditório do Cine Marrocos esteve lotado no fim da tarde de sábado, (23), para a exibição do filme Pureza, que teve Marabá como cidade cinematográfica para as gravações do longa-metragem, em 2018, durante quatro meses. No filme, Marabá é o munícipio de Bacabal, do Maranhão, onde morava dona Pureza, interpretada pela atriz Dira Paes. O longa mostra a história da trabalhadora rural que durante três anos foi em busca do filho Abel, desaparecido em 1993, quando veio trabalhar em uma fazenda no sul do Pará. O filho viveu esse tempo em regime de trabalho escravo.
Dirigido por Renato Barbieri e produzido por Marcus Ligocki Jr, o filme deve estrear nas telas dos cinemas, em 19 de maio, mas o retorno da cidade é uma devolutiva à comunidade e fez parte do Festival Internacional Amazônida de Cinema de Fronteira (FIA Cinefront), promovido pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa). O evento está em sua sétima edição.
Genival Crescêncio, coordenador da Secretaria de Cultura (Secult), observa que a Prefeitura de Marabá deu todo o apoio institucional para realização do longa no município, inclusive com acompanhamento de técnicos na locação de alguns cenários para as gravações feitas na zona urbana e rural.
“Durante quatro meses estiveram aqui fazendo a rodagem do filme e em razão da pandemia, a apresentação do filme foi adiada aqui na cidade. E hoje dentro da programação Cinefront em parceria com a Secult, será apresentado aqui no Centro Cultural Cine Marrocos essa pré-estreia. Ficamos gratos pela presença dos diretores, produtor e atores, pois mostra o potencial de Marabá não só em estrutura, mas de cenários para novos filmes”, comenta o coordenador.
Renato Barbieri destaca o potencial do município e diz que o filme tem provocado grandes emoções por onde é exibido. Aliás o Pureza já é conhecido por 18 países, com 28 premiações. O filme segundo Barbieri é o maior lançamento de filme com relevância social, da história do cinema brasileiro, em cartaz no mínimo em 100 cidades. Uma das expectativas de diretor e produtor é que o filme concorra ao Oscar de 2023.
“Marabá tem no mínimo duas rodoviárias, bairros muitos diferentes uns dos outros, o que nos permite criar cidades diferentes da região norte, e Marabá acolheu nosso filme. Não tivemos uma palavra cruzada, só braços abertos. E hoje a qualidade do filme tá arrebatando emoções, isso se dá porque houve grande cooperação, todo mundo se engajou no filme, na causa abolicionista, que o Brasil precisa virar essa página, Brasil como um todo. Queremos passar no cinema de Marabá, pra população se ver, só tenho boas memórias de Marabá, minha gratidão eterna”, afirma Barbieri.
De igual forma Marcus Ligocki Jr. falou com entusiasmo do retorno ao município e relembrou a trajetória para produção do longa.
“O filme levou 12 anos para chegar, do início até a sua conclusão, foram mais de dez anos desenvolvendo roteiros com pesquisas e levantando recursos para fazer. E o fazer foi longe de casa, não conhecíamos Marabá, a gente queria filmar no Norte, com uma equipe grande e começamos a pesquisar cidades por onde dona Pureza passou e nesse processo descobrimos Marabá com uma excelente opção. A gente logo identificou como cidade cinematográfica, suportando uma estrutura muita especial, e foram quatro meses inesquecíveis em Marabá. E a gente sente a repercussão que ele está tendo nas pessoas, o impacto, o retorno de emoções, é transformador”, descreve Ligocki.
O ator paraense Alberto Silva Neto, também esteve presente nessa pré-estreia em Marabá. No filme, ele interpreta um aliciador de trabalhadores chamado João Leal, conhecido vulgarmente como “Gato”.
“É como se a gente revivesse toda essa emoção afetiva”, descreve o ator paraense Alberto Silva Neto
“É indescritível a emoção de tá de volta a Marabá, quatro anos depois de estarmos aqui fazendo as filmagens do Pureza porque esse projeto foi afetivo, em que os atores conviveram e viveram um processo produtivo muito tempo. E tudo isso acaba resultando numa qualidade de presença que aparece no filme. Além disso, nós tivemos o prazer de poder trocar conhecimentos que foram de verdade em determinado momento de suas vidas, trabalhadores escravos. É como se a gente revivesse toda essa emoção afetiva”, descreve o ator.
Edvaldo Pereira, estava na plateia ansioso para ver o resultado final do filme. Ele participou como figurante, era um dos trabalhadores escravos.
“Estou feliz, é uma coisa boa. Queremos que todo mundo goste, já está fazendo sucesso fora do Brasil e espero que todo mundo aqui também goste”, disse o trabalhador rural, morador da Vila São José.
João Pereira, recente professor de Artes Visuais da Unifesspa, estava no Cine Marrocos pela primeira vez e destacou a relevância do filme.
“A gente se sente muito feliz em ter a cidade como sede do filme, mostra um pouco da história de vários conflitos que acontecem aqui, no que diz respeito às questões da terra, do trabalho, uma oportunidade bem interessante e oportuna pra todo mundo”, comentou.
VII FIA Cinefront
O FIA Cinefront é um evento composto por mostra e debates de obras cinematográficas que abordam a realidade amazônica e de outras regiões periféricas que sofrem as consequências dos processos de desenvolvimento pautados pela expansão capitalista. De caráter não competitivo, o festival consiste também em oportunidade de pautar as lutas sociais por direitos, igualdade, justiça e dignidade das populações das regiões periféricas do mundo. Além de obras selecionadas por regulamento, a programação principal do VII FIA CINEFRONT será composta por trabalhos convidados pela curadoria, levando em consideração sua relevância à temática e homenagens a serem realizadas.
Claudiana Guido, coordenadora de cultura da Proex Unifesspa, explica que o Festival Cinefront já havia exibido o Pureza em 2021 no formato on-line, mas em 2022 foram surpreendidos com o pedido da inclusão do filme no VII FIA para o pré-lançamento no evento que terá sua culminância somente em agosto.
“A gente aproveita pra divulgar o festival em 2022, que terá culminância em si em agosto. Ainda está correndo o regulamento que foi lançado em 15 de abril e as inscrições de obras de cineastas da região e outras, estão abertos a partir do e-mail cultura.dext@unifesspa.edu.br. O regulamento está no nosso site, e qualquer pessoa que produza audiovisual nessa região pode se inscrever” comenta a professora.
Este ano foram apresentadas as sessões especiais no mês de abril, marcando a abertura do festival. Ainda na primeira quinzena de abril foi lançado o Regulamento desta edição, onde os produtores das obras audiovisuais poderão apresentar inscrições entre 17 de abril a 31 de maio para seleção da curadoria que irá ditar as exibições que irão ocorrer de maneira concentrada na culminância do festival no período de 12 a 19 de agosto de 2022. Haverá, ainda, sessões especiais nos meses de maio, junho e julho de 2022.
Texto: Leydiane Silva com informações da Cultura Proex/ Unifesspa
Fotos: Aline Nascimento