Esporte: Em noite histórica, Águia de Marabá é campeão Paraense
Onde você estava na noite do dia 26 de maio de 2023? Provavelmente daqui há 10, 20, 30 anos, os torcedores de Marabá ainda saberão dizer como foi esse dia, que está marcado na história do esporte da nossa cidade. Pela primeira vez, um time marabaense é campeão paraense, após o zagueiro Betão, marcar o gol de pênalti que fez Marabá explodir em alegria.
Para muitos desses torcedores, a resposta será a Orla de Marabá, em um telão montado na Praça São Félix de Valois, reunindo milhares de torcedores que vibraram, se emocionaram e comemoraram o título tão aguardado.
O primeiro momento marcante veio antes mesmo da bola rolar. As equipes do Águia e do Remo foram muito aplaudidasquando entraram em campo usando roupas contra o racismo. Jogadores de ambos os times se ajoelharam ou se abaixaram em campo, por um minuto, em protesto contra o preconceito sofrido recentemente pelo jogador Vinicius Jr, do Real Madri.
“Nesse momento que vivemos e com tantos ataques que temos sofrido, como do Vini Jr, a atitude se torna muito importante e simbólica. Me arrepiei ao ver os jogadores se manifestando e a torcida apoiando a atitude, aqui na orla. Na luta contra o racismo não basta não ser racista, temos que ser antirracista”, opinou o torcedor Mailson José Silva.
Quando a bola rolou, a explosão veio logo aos 16 minutos do primeiro tempo. Em um “gol de Playstation”, o zagueiro Betão, que virou meme como o personagem Kratos do jogo God of War (deus da guerra), marcou um gol de bicicleta, que colocava o Águia muito próximo da conquista.
“Eu estava me cobrando bastante por esse gol. Quase todo ano eu faço de 5 a 3 gols, e até o momento eu não tinha feito um. Dedico para a minha família, para minha mãe e meu pai que faleceu. Ele e meu avô estão lá no céu torcendo por mim. Dedico também a minha filha, minha esposa e todos os meus companheiros”, declarou o nosso “deus da zaga”.
Mas uma conquista histórica não poderia vir sem drama. No final do primeiro tempo, Muriqui, em contra-ataque rápido, fez um belo passe para Pedro Vitor. O atacante invade a área e bate alto para empatar a partida, no Baenão.
Faltando 10 minutos para o fim, o zagueiro Rodrigo marcou um gol contra, dando vantagem de 2×1 para o Remo na partida. Como o Águia havia vencido a primeira partida, disputada no Zinho Oliveira, por 1×0, o jogo acabou indo para a cobrança de penalidades.
Nessa hora, um filme passou pela cabeça da estudante Letícia Medeiros. Ela começou a acompanhar futebol esse ano, por influência de um amigo e mudou sua visão sobre o esporte, após acompanhar o primeiro grande momento do Águia na temporada, quando venceu o Botafogo (PB), na primeira fase da Copa do Brasil, experiência que também havia sido relatada a nossa equipe.
“O engraçado é que nas primeiras conversas conjecturamos sobre o Águia ganhar o Paraense, trazermos um dos jogos pra cá, dávamos risadas pensando nessas possibilidades, que apesar de reais eram longínquas na nossa cabeça. Hoje, vendo todo esse filme passar, ver que estamos tão perto de superar todas nossas expectativas e metas, é muito satisfatório”, relata.
A torcedora pé quente revela que todas as vezes que foi assistir ao jogo no estádio ou na rua com a torcida, a equipe sagrou-se vencedora. Ela destaca que as experiências vividas até aqui, com o azulão de Marabá, ficarão marcadas para o resto da vida.
“É muito bom estar aqui essa noite e poder comemorar na orla ao lado da torcida, independente do resultado. Comecei a me envolver com futebol há pouco tempo, achava besteira. Mas comecei a acompanhar o Águia e conhecer a história do time. Viver essa experiência me fez enxergar que futebol vai muito além de esporte e torcida, envolve história de pessoas reais e muita emoção”, conta ela, que manteve sua invencibilidade.
Por falar em emoção, na disputa de pênalti bastante equilibrada, apenas uma das 10 cobranças não resultou em gol. E foi graças a ele, o grande herói do inédito título, o goleiro Axel, que conseguiu defender uma bola rasteira e no cantinho, do lateral Lucas Marques.
A cobrança decisiva, que garantiu o título, ficou nos pés do zagueiro Betão, que não vacilou. Bola em um lado, goleiro do outro. A cidade de Marabá sagrou-se campeã paraense de futebol. Esse foi apenas o terceiro título do interior do estado, em 110 edições de Campeonato Paraense.
Após a festa, as torcidas organizadas do Águia de Marabá tomaram conta do palco e deram o tom da festa com cânticos e gritos. A aposentada Tânia Figueiredo Maia, 59 anos, não arredou o pé, mesmo após o fim da partida.
“O jogo foi um espetáculo muito bacana. Um ambiente aberto e tranquilo. Torcedores cantando e sofrendo, suando até o fim. Parabenizar os organizadores do evento. Foi disputado, sofrido, emocionante. Os jogadores de Marabá foram guerreiros, fortes, lutadores e vencedores. Foi maravilhoso ter essa experiência com as pessoas na Praça da Marabá. Torcida organizada empolgou demais, ajudando a cantar e animar. Agora é só festejar”, celebra.
O jovem João Raul, 13 anos, foi um dos que invadiu o palco na hora da emoção. “Foi fantástico. Impressionante. Subi no palco, balancei a bandeira. Animação demais. Muita gente. Fico contente pelo Águia, pelos jogadores, pela cidade. Foi uma campanha histórica, todo mundo contra nosso time e ele conseguiu ganhar. Passamos pelos maiores da Amazônia que são Remo e Paysandu. Alegria e muita festa”, complementa o torcedor.
A conquista também foi muito comemorada pelo técnico Mathaus Sodré, que relembrou todo o trabalho realizado desde o dia 12 de dezembro.
“Foi uma conquista de muito trabalho, onde tive a felicidade de encontrar esse grupo. A diretoria acreditou demais em que fazer o planejamento, faz os resultados acontecerem. No dia 12 de dezembro, quando tive esse elenco à disposição, eu busquei características de cada um. Consegui montar um grupo muito aguerrido, aonde nós precisamos ralar muito, nos dedicar muito e sermos muito unidos dentro de campo”, relembra, relatando que a ficha não caiu e está ansioso para ver a torcida, que irá recepcionar a chegada dos jogadores, no aeroporto, neste sábado às 14h30 da tarde, com direito a carreata.
À noite, ainda estão marcados shows, a partir das 20 horas, com a presença do elenco, na Praça São Félix de Valois, local onde a torcida acompanhou a conquista.
“Vou ser bem sincero, a ficha ainda não caiu. Acho que faziam uns 10 ou 12 anos que nenhum time do interior era campeão. Então, sabemos da dificuldade, temos que valorizar muito essa conquista e continuar trabalhando, porque é só o início dessa minha caminhada”, conclui.
Texto: Osvaldo Henriques
Fotos: Osvaldo Henriques e Hygor Ítalo