“Como funciona a saúde?”: CCZ, Vigilância Ambiental e Coordenação de Endemias combatem, controlam e previnem doenças em Marabá
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o termo “zoonose” se relaciona a doenças ou infecções naturalmente transmissíveis entre animais e seres humanos, como o vírus da raiva (transmitido de morcegos e outros mamíferos); fungo da esporotricose (por arranhões e mordidas de gatos e cães infectados); bactéria da salmonelose (em contato com o pó das fezes de pombos); bactéria da leptospirose (por meio de ratos infectados) e os vírus da febre amarela, malária, dengue, zika e leishmaniose (causados por mosquitos vetores como o Anopheles darlingi, Aedes Aegypti e flebotomíneos, por exemplo o mosquito palha). Dessa forma, a zoonose torna-se uma questão de saúde pública, cuja a atuação é feita pela Secretaria Municipal de Saúde, por meio da Diretoria de Vigilância em Saúde, a qual está subdivida em Vigilância Ambiental, Vigilância Sanitária, Vigilância de Saúde do Trabalhador, Centro de Referência em Saúde do trabalhador, Coordenação de Endemias e Centro de controle de Zoonoses (CCZ).
Para evitar a propagação e prevenir a transmissão de zoonoses e doenças endêmicas, são realizados relatórios, como o LIRA (Levantamento Rápido de Índices para Aedes Aegypti), que norteiam ações necessárias, entre as quais estão as visitas domiciliares de Agentes de Combate a Endemias (ACE); aplicação de fumacês e atividades de educação à população sobre a limpeza de locais propícios à água parada e refúgio de vetores de doenças; bem como campanhas regionais de saúde para cuidados com os animais, principalmente os domésticos, a exemplo vacinação antirrábica, realização de testes e outros.
“Nós temos hoje uma tarefa muito árdua, porque nós fazemos a vigilância epidemiológica do município. O controle tanto das patologias, principalmente, porque nós queremos dar mais atenção àquelas doenças transmissíveis. Então, a Vigilância em Saúde é extremamente importante para o município, porque toda e qualquer variante em termo de doença dentro de um hospital ou em qualquer outro local, é a vigilância em saúde que deve estar presente para controlar e saber onde as medidas estão a ser adotadas, para diminuir aqueles eventos ruins”, enfatiza o Diretor da Vigilância em Saúde de Marabá, Geraldo Barroso.
Centro de Controle de Zoonoses
Em Marabá, o Centro de Controle das Zoonoses (CCZ) atua desde 2000 para combater, controlar e prevenir essas doenças. Localizado na Avenida 2000, bairro Belo Horizonte, o centro foi criado, inicialmente, para cessar os casos de raiva animal na época. Atualmente o CCZ dispõe de vários outros serviços, como vacinação, castração, doação de animais, testes, ações itinerantes, orientações, entre outras.
“Segundo a OMS, 69% das zoonoses são transmitidas de animal para o ser humano. E por isso a gente faz esse serviço para que as pessoas não venham adoecer. Há muita cidade que não tem esses programas funcionando, e, muitas vezes, as pessoas ficam à mercê, por isso o CCZ na cidade é fundamental, porque ele vai prevenir e controlar essa enfermidade, com ações à população, para que tomem conhecimento desse serviço e tenham uma qualidade de vida melhor a ela e também ao pet, fazendo desde a vacinação, exames e controle das enfermidades”, destaca Flávio Ferreira, coordenador do CCZ.
Durante os anos, o CCZ, junto aos departamentos de Vigilância Ambiental e Coordenação de Endemias, atuou contra várias outras doenças, como a leishmaniose, com registro de cerca de 800 animais infectados, em 2022, dados compilados a partir das ações de testagem. Hoje, o CCZ dispõe de profissionais especializados para atender à população por meio de serviços internos e externos, como vacinação e castração de cães e gatos e controle de animais sinantrópicos (os que transmitem as zoonoses).
Serviços do CCZ
Vacinação
Um dos programas mais ativos e pioneiros no Centro é a vacina antirrábica, disponível diariamente, das 7h às 18h, pelos agentes de endemias, mas também pode ser transportada pelo proprietário quando este não puder levar o pet até o local. Além disso, há a Campanha Anual de Vacinação Antirrábica, que ocorre geralmente de setembro a novembro e busca atingir melhores índices de imunização no município. “Fazemos a vacinação de casa em casa. Em todos os bairros de Marabá, a equipe de zoonoses passa, junto com o pessoal do Exército, Endemias e Saneamento Ambiental. Terminando na sede de Marabá, a gente vai para a zona rural, nas vilas e vicinais dessas vilas”, explica Flávio.
Só ano passado, 36.578 animais foram imunizados contra a raiva, 29.906 na zona urbana e 6.672 na zona rural de Marabá. Todas essas campanhas, segundo o coordenador do CCZ, são barreiras imunológicas para a prevenção dessas enfermidades.
Em várias ações, o CCZ atua em parceria com universidades que dispõem do curso de Medicina Veterinária, e dessa forma, são levados serviços gratuitos à população. “Em 2022, nós tivemos uma parceria com uma faculdade particular de Marabá, onde ela levou ao bairro Liberdade profissionais como médicos veterinários e os estudantes estagiários, para oferecer consultas e orientações aos proprietários dos animais”, revela Flávio.
Leishmaniose
O diagnóstico de leishmaniose também é oferecido no CCZ, de forma gratuita, nas segundas e quintas, das 8h às 10h e às terças e quartas, das 13h às 15h, independente de haver sintomas ou não, pois segundo o coordenador, o animal pode ser assintomático. “Às vezes, a pessoa vem vacinar um animal e quer fazer o exame, a gente faz também, mesmo que não apresente sintomas”, completa Flávio.
O combate à leishmaniose também é conduzido por meio de ações externas nos bairros, para prevenir, diagnosticar e fazer inquéritos sobre os locais de maior incidência do “mosquito-palha”, transmissor da doença. “O pessoal das Endemias vai de casa em casa, fazendo coleta de sangue dos animais para fazer um dados epidemiológico e saber como devemos agir nesses locais para combater e prevenir essa enfermidade. A gente também tem a parte de distribuição de repelentes nessas ações. Nós temos a parte de educação e saúde, onde as pessoas são orientadas como prevenir o animal para não contrair, além do controle ambiental, em relação à limpeza de quintal”, pontua Flávio.
Além das ações, são feitas rondas que atuam na captura de animais de pequeno porte que são abandonados nas ruas. O animal vai para adoção, caso o teste de leishmaniose dê negativo. Falando nisso, geralmente o Centro disponibiliza para a adoção, cães e gatos resgatados pelos Agentes de Combate a Endemias (ACE). Atualmente, mais de 30 animais estão disponíveis para adoção, com vacinas e testagem de leishmaniose em dia. No ato de adoção, um dos agentes faz um termo, que garante a castração, com agendamento especial. Há também orientações quanto à vacinação, viroses e vermífugos.
O agente de combate a endemias Valterson Nunes, que atua no CCZ desde a criação, é um dos que alimentam os animais todos os dias. Segundo o agente, os animais geralmente são resgatados por maus-tratos, alguns abandonados e outros chegaram a nascer no próprio centro, nos casos de resgate de cadelas ou gatas grávidas. Vale ressaltar que o CCZ não é abrigo, portanto não pode receber animais.
“A gente mora numa cidade muito grande e muitas pessoas largam os animais quando se mudam, principalmente nos alagamentos. E é importante as pessoas que pegam os animais aqui e cuidem bem deles e levem junto quando se mudarem. Muitas vezes, as pessoas só ouvem falar no CCZ, mas não sabem as coisas boas que o centro realiza. A castração, por exemplo, é um trabalho muito bom, porque se a pessoa castrar sua cadela, já é um problema menor, porque muitas vezes não tem condição de alimentar muitos cães e gatos, e acabam abandonando”, compartilha o agente.
Castração
Para reduzir tanto as enfermidades, quanto o abandono de animais, o CCZ dispõe também do Centro de Esterilização, para castração de cães e gatos, tanto fêmeas como machos. As equipes trabalham com sistemas de agendamento, por meio do WhatsApp. Em 2022, houve um acréscimo nos procedimentos, alcançando 1800 castrações, 600 cirurgias a mais que em 2021, quando foram registradas 1200 esterilizações em cães e gatos e a expectativa para 2023 é castrar 2500 animais. “As pessoas podem agendar, e após a castração fazemos a primeira medicação no animal, e assim sai pronto para o proprietário fazer as outras medicações do pós-operatório”, ressalta o coordenador.
Controle de sinantrópicos
O Centro também atende denúncias de infestação de animais transmissores das zoonoses, como pombos, ratos, baratas, atuando na retirada e controle. “Esses dias nós tivemos denúncia na escola Anísio Teixeira, onde havia infestação de pombos. A gente mandou uma equipe lá para fazer as orientações para a prevenção desses animais nas escolas e no ambiente. A gente vai lá, faz a orientação para colocar tela no ambiente, e prevenir esses animais no local”, relata Flávio.
Os pombos podem transmitir várias doenças a outros animais e ao ser humano, como salmonelose, histoplasmose, ornitose e até mesmo a meningite. Nesse sentido, o CCZ atua continuamente no combate a esses problemas em Marabá. Além disso, as Unidades Básicas de Saúde dispõem de vacinação contra a meningite.
Vigilância Ambiental e Coordenação de Endemias
Coordenação de Endemias
A Coordenação de Endemias e a Vigilância Ambiental, que ficam anexa ao prédio do CCZ, são voltadas para o controle e a vigilância de doenças endêmicas, assim como também de questões ambientais, como o controle da qualidade da água, do solo e do ar. Há uma infinidade de doenças epidemiológicas, cujas mais comuns na região Norte são a dengue, Chikungunya, Zika, Leishmaniose, Malária e Doença de Chagas.
A cada dois meses, a coordenação realiza o Levantamento de Índice Rápido (LIRA), que mede a quantidade de criadouros do mosquito Aedes Aegypti vetor da dengue, zika vírus e chikungunya, ou seja, quais locais podem ter maior incidência dos vetores, a fim de direcionar as ações preventivas.
Durante a ação, os 32 Agentes Comunitários de Endemias, que trabalham diariamente nas visitas domiciliares para eliminar focos larvários dos vetores (seja com produtos químicos ou de forma manual), fazem a coleta de larvas. Os agentes também orientam os moradores quanto aos cuidados, que devem ser tomados para evitar o acúmulo de água parada. As larvas são analisadas com microscópio para saber se são do mosquito Aedes Aegypti.
“É importante também a colaboração da população. O morador é o hospedeiro desse ‘inquilino’, que está na casa de todo mundo, em todos os bairros da cidade e vilas urbanizadas, que é o mosquito Aedes Aegypti. Então, o morador tem um papel importantíssimo de manter a sua casa limpa, seu quintal limpo, evitar água parada em qualquer recipiente que possa acumular, para ali não começar a aumentar o número de criadouros dos mosquitos”, esclarece o coordenador do Departamento de Endemias e Vigilância Ambiental, Amadeu Moreira.
Segundo ele, quando a quantidade de mosquitos aumenta, uma força tarefa é realizada pelos agentes, através do controle químico de fumacê na área afetada. “Uma fêmea do Aedes, por exemplo, chega a colocar até 2 mil ovos. Ela se reproduz de forma muito rápida e pode ficar durante anos esperando a água para fazer a eclosão desses ovos e se transformar em larvas. Por isso, esse trabalho de bloqueio intenso é feito diariamente em Marabá e também nas vilas urbanizadas, para que a gente continue mantendo o controle dessas doenças”, relata o coordenador.
Entre 2015 e 2017, o município de Marabá registrou altos índices de casos de dengue, mas nos últimos anos os esforços dos órgãos municipais fizeram com que os números caíssem.
Vigilância Ambiental
Enquanto os Agentes de Combate a Endemias atuam no combate às zoonoses, os Agentes de Vigilância Ambiental monitoram a qualidade da água, do ar e do solo no município. A água distribuída pela Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa) é analisada diariamente, assim como os chafarizes públicos de escolas e postos de saúde. O coordenador afirma que as equipes, compostas por 6 agentes, também analisam qualquer fonte de água, o que é feito por meio do Laboratório para Provas Básicas da Agua para Consumo Humano (LPBA). “Caso alguém também precise, basta nos solicitar que a gente manda a equipe lá pra colher a água e trazer aqui para o laboratório de análises, onde a gente faz esse monitoramento”, afirma Amadeu.
O LPBA, cujo objetivo principal é realizar a vigilância ambiental na qualidade da água para consumo humano, é pactuado com o estado para atender outros 17 municípios vizinhos (Abel Figueiredo, Bom Jesus do Tocantins, Brejo Grande do Araguaia, Breu Branco, Canaã dos Carajás, Eldorado dos Carajás, Goianésia do Pará, Itupiranga, Jacundá, Nova Ipixuna, Novo Repartimento, Palestina do Pará, Parauapebas, Piçarra, Rondon do Pará, São Domingos do Araguaia, São Geraldo do Araguaia, São João do Araguaia e Tucuruí). “Toda semana, as cidades mandam suas coletas de água, a gente realiza esses testes aqui e devolve resultados em tempo hábil a eles”, comenta o coordenador.
Assim como a água, a Vigilância Ambiental também alimenta as informações da plataforma do Ministério da Saúde, com informações sobre a qualidade do ar, por meio do programa ‘VIGIAR”, para informar aspectos como umidade e fatores poluentes como fumaça, agentes nocivos etc. Junto a esse monitoramento, as equipes coletam materiais do solo em pontos específicos da cidade, como cemitérios, postos de gasolina e lixões, a fim de averiguar possibilidades de contaminação do solo por substâncias químicas. Todos os dados são alimentados no programa de Vigilância do Solo, o “VIGISOLO”.
Texto: Sávio Calvo
Fotos: Paulo Sérgio e Divulgação