Cidadania: “Internet potencializou o preconceito das pessoas”, diz psicóloga sobre intolerância nas redes sociais
No crescente mundo da tecnologia, as redes sociais e os aplicativos de relacionamento ocupam cada vez mais espaço na vida das pessoas. Elas se relacionam com amigos, familiares e clientes do outro lado mundo, numa velocidade em constante rapidez. Uma pesquisa recente exibida pelo Jornal Nacional, em meados de abril, mostrou que nesse mundo cibernético, 32% dos brasileiros não gostam de conversar com quem tem opinião contrária.
Os estudos revelam que tanta modernidade traz consigo alguns ônus, como as chamadas “bolhas sociais”, onde as pessoas estão cada vez mais fechadas a aceitar a opinião alheia, principalmente na área política. As reações diante das manifestações são variadas. Alguns ignoram, mas existem os que preferem o isolamento.
Clarissa Ataíde, estudante de Pedagogia da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, conta que nas últimas eleições, ao revelar apoio a um candidato à presidência da república, foi vítima de ataques nas redes socais e teve até amizades abaladas por conta de posicionamento político. A intolerância e o desrespeito na internet deixaram sequelas.
“Eu expressava minha opinião e recebia muita mensagem negativa das pessoas. Xingando, falando besteiras só porque eram contrárias ao que eu falava e eu fui me cansando, até que me calei. Atualmente, para não ouvir ofensas eu prefiro ficar calada, porque sinto um desgaste muito grande. Eu não sinto mais vontade, prazer em falar de política. Não expresso a minha opinião, para também não ouvir a do outro”, enfatizou a universitária.
Joyce Oliveira, modelo fotográfica e digital influencer, que tem mais de 15 mil seguidores no Instagram, também conta o quanto já sofreu com o desrespeito e a intolerância na internet. Ela utiliza as redes sociais para falar sobre moda e divulgar os trabalhos que faz. A influenciadora digital acredita que a exposição diária, por conta da profissão, facilita as críticas.
“Eu busquei encarar sob outra perspectiva porque através da internet as pessoas buscam se esconder, falam o que querem achando que não há nenhuma punição, mas pelo contrário, nós sabemos que, hoje em dia, a internet não é mais uma terra sem lei. Eu tento levar da melhor maneira possível, não dou muita atenção para isso porque são pessoas frustradas”, comentou a modelo.
Para a psicóloga Juliana Martins, é importante observarmos que a internet não tem apenas aspectos negativos. Ela esclarece que as redes sociais facilitaram as relações entre as pessoas. O que é preciso considerar é a forma como as pessoas estão se comportando no mundo virtual.
“As pessoas estão se expondo muito e ficam mais vulneráveis aos tipos de ataques. Não é o discordar de uma ideia, elas têm a necessidade de ferir, de agredir quem está por trás daquela ideia. Nós somos seres sociais, pensamos diferente. O problema começa quando temos dificuldade em aceitar o diferente e começam os ataques, o ferir o outro com palavras, esquecendo que atrás da tela de computador há outra pessoa que está sendo vítima da violência”, ressalta a psicóloga.
Ainda de acordo com Juliana, quem ataca não tem a sensibilidade de perceber a condição de sofrimento do outro, infelizmente a internet potencializou o preconceito das pessoas. São os chamados “haters”, pessoas que cultivam a cultura do ódio na internet, elas atacam nas redes sociais sem motivação especial.
“Muitas vezes as pessoas expõem uma situação de sofrimento esperando um apoio e acabam recebendo o contrário, vem o preconceito, o julgamento. Os ataques por necessidade de ferir, fazem parte de um comportamento doentio que gera muitos problemas psíquicos nas pessoas e que dependendo da situação podem até desenvolver um quadro depressivo”, alerta Juliana.
As recomendações para quem sofre emocionalmente com os ataques virtuais, chegando ao isolamento, é buscar acompanhamento de profissionais e, assim, tentar entender porque o comentário do outro incomodou e afetou tanto a ponto de restringir as relações nas redes sociais.
Empatia
Além de Clarissa e Joyce, Erivan França também já foi vítima de comentários preconceituosos nas redes. O estudante de Artes da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) acredita que a intolerância pode ser rebatida com a tolerância. “Não importa se você é branco, negro, magro, alto, sempre tem preconceito, devido as pessoas criarem esteriótipos pelo que você aparenta ser. Existem campanhas de pessoas que tentam diminuir isso, apesar de ser difícil, acredito que é possível, com conversa e mais educação, sem o discurso de ódio. Temos que revidar isso de outras formas. Ser tolerante diante da intolerância”, finaliza.
Texto: Leydiane Silva