Cidade: Programa profissionalizante da APAE muda vida de pessoas com deficiência intelectual
Em janeiro deste ano, a vida de Ana Paula, 22 anos, ganhou novos desafios. Ela conseguiu seu primeiro emprego, trabalhando em uma farmácia. Mas a história de Ana Paula não é uma história comum. Ela é portadora de deficiência intelectual e conseguiu a vaga graças às aulas ministradas pela Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) e seu programa profissionalizante.
“Experiência muito boa, limpo arrumo, organizo, ponho preço, ajudo as meninas quando me pedem. Entrei em janeiro aqui. Era um desejo meu conseguir um emprego. Fiquei muito alegre e feliz quando me chamaram para trabalhar aqui. As aulas do curso foram difíceis, mas deu tudo certo. Me tratam muito bem, é um ambiente ótimo”, comenta Ana Paula que trabalha em farmácia na Folha 32.
Seu gerente, Brenner Castro, garante que ela é o braço direito dele e uma das melhores funcionárias.
“A Ana Paula é bem ativa, ela é meu braço, me ajuda em várias funções dentro da loja. Ela tem pego de forma bem rápida. Ajuda a repor, precificar, organizar lá atrás. As pessoas às vezes tem receio de contratar pessoas que tenham dificuldade, mas Ana Paula ajuda de forma até melhor que alguns colaboradores que não possuem dificuldade. Muito esforçada e competente”, comenta o gerente.
Não muito longe dali, Adriele Maria, também de 22 anos, já comemora seu quarto ano como contratada da Farmácia Drogasil. Apesar das dificuldades em comunicação, ela não esconde a alegria estampada em sorriso enquanto realiza suas atividades.
“Limpar, repor mercadoria. Gosto do meu trabalho, estou feliz de estar aqui”, comenta a jovem.
A gerente Júlia Rebeca define a experiência de trabalhar com Adriele como “enriquecedora” e destaca que é nítida sua evolução com os anos.
“Antes, ela só fazia reposição de produtos pela identificação visual, agora ela precifica, bipa, consegue identificar os números, limpa, arruma. Ela é muito sistemática e o trabalho fica muito bom.
Ela garante que assim como Adriele evoluiu com o emprego, também ajudou os outros funcionários a evoluírem. “Os funcionários gostam dela. Quando está de férias ela manda mensagem no grupo com coração partido que está com saudade. É bom para diminuir o preconceito. Ninguém é igual a ninguém. Ela ensina para gente sobre superação. Ela está aqui todo dia lutando para fazer o melhor dela. A gente aprende a lidar com ela, aprender a entender com ela, aprende empatia”, destaca a gerente.
O curso
O curso profissionalizante da APAE Marabá faz parte do Programa Nacional de Autogestão e autodefensoria da instituição que busca estimular a autonomia da pessoa com deficiências em diferentes aspectos da vida.
“Dentro dessas coisas, uma que é estimulada é a inserção no mercado de trabalho. É um programa bem sucedido, pois percebemos como eles adquiriram responsabilidades e sentem felizes e pertencentes a sociedade”, comenta Silvana Marques, assistente social da APAE e coordenadora do programa.
Atualmente há 10 alunos que estão trabalhando em empresas e lojas de Marabá. O programa seleciona alunos a partir de 14 anos de idade e desenvolve aulas práticas e teóricas. “No campo teórico será explicado o que é o trabalho, a importância, o que você ganha trabalhando, o que isso te proporciona. Falamos também dos documentos, da responsabilidade de acessar seus direitos e deveres”, explica Silvana.
Já na parte prática é ensinado a lidar com roupas, dobrar, colocar em cabides, selecionar materiais por tamanho, cores, ver data de validade, verificar preços, mexer em jardins, entre outras outras atividades. “São atividades simples, mas o público com dificuldade intelectual tem essa dificuldade, como na leitura e escrita. Isso traz a visão de incapacidade, mas quando trabalhamos essas prática aqui a gente começa a ver que eles se desenvolvem e tem a capacidade de avançar”, complementa a assistente social.
Cada aluno passa por uma avaliação, por uma anamnese para saber qual área tem maior aptidão para trabalhar. A responsável pelas aulas práticas, professora Suênia Aguiar, explica que a aula é dividida em três salas e parte.
“Temos o almoxarifado e a dispensa que eles organizam, veem data de validade dos alimentos, essas coisas. Temos aulas no jardim, onde eles praticam jardinagem, regamos as plantas e outras atividades e a nossa lojinha bazar, onde recebemos roupas e calçados de doações. Eles aprendem a organizar e vender. É bom porque aqui é um teste para o mercado de trabalho.”, explica.
A instituição tem parceria com Ministério Público do Trabalho que diz que empresas a partir de 100 funcionários têm que ter um PcD contratado. Eles também têm parceria com empresas da cidade.
“Quando eles estão lá nos esforçamos para fazer acompanhamento, falar com a empresa, ver qual dificuldade eles possam estar encontrando, ou não. Se disponibilizamos a ir, dar palestras aos funcionários, ensinar como se portar, como é a convivência, quais direitos. Fazemos o acompanhamento para que ele permaneça naquele espaço”, destaca Silvana Marques, coordenadora do programa.
Atualmente há 40 alunos participando das aulas, com o objetivo de conseguir seu emprego. Um deles é Marcos Diones, 40 anos.
“É muito bom participar das aulas. Aprendo a escrever, a vender, dobrar roupa e aprendo cada vez mais. Quero desenvolver mais e cada vez aprender mais e seguir em frente. Quero arrumar emprego, conseguir alguma coisa na vida e seguir em frente, ajudando uns aos outros”, comenta o aluno.
Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla
Esse é só um dos serviços desenvolvidos pela APAE de Marabá. Para divulgar o trabalho feito pela instituição está ocorrendo nesta semana, de 20 a 28 de agosto, a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla. Durante esses dias, a instituição intensifica seu trabalho de divulgação para conscientizar a sociedade sobre a importância do olhar diferenciado às pessoas com deficiência.
“Nosso papel junto à sociedade é divulgar os direitos da pessoa com deficiência e dar entendimento para que todos possam proteger e defender os direitos deles. Todas as deficiências precisam ser respeitadas e nosso trabalho das 2224 Apaes espalhadas por todo o país é lutar por esse direito. Participem, visitem a APAE, temos uma programação enorme”, convida a diretora da APAE Marabá, Socorro Cavalcante.
A abertura aconteceu com 5ª Corrida Solidária, que contou com apoio da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer (Semel). Na segunda-feira foi realizada uma programação dentro da instituição com pais e alunos e exibição de um filme sobre superação e conscientização.
Na terça-feira, 22, a programação seguiu com arte e terapia levando o tema para escolas do município com apresentações culturais dos alunos da APAE. Hoje, 23, a programação continua com a participação no Programa Brasil em Cena, com o artista visual Valdsom Braga.
Na sexta-feira, 25, a programação ocorre no Partage Shopping, das 10h às 22h, com uma mostra de todo o trabalho da instituição ao longo dos seus 25 anos de existência. Com apresentações de arte, cultura, trabalhos pedagógicos, trabalhos manuais, programas desenvolvidos e apresentação do setor de reabilitação da instituição.
Texto: Osvaldo Henriques
Fotos: Sara Lopes