Seaspac: Histórias de esperança marcam a vida dos idosos do Cipiar, que tem programação especial de final de ano
“A guerra deixou marcas profundas na minha família e todos eles se desfizeram e aqui estamos costurando na memória o que foi do passado”. O relato é do Israelense Olmay Laad, 70 anos. Ele nasceu em Jerusalém e aos 5 anos migrou para o Brasil com a família. Aqui constituiu uma nova identidade e desde a adolescência se chama Sebastião Vieira. Hoje, é o mais novo dos 18 moradores do Cipiar – Centro Integrado da Pessoa Idosa Antônio Rodrigues -, um espaço de acolhimento aos idosos em Marabá.
Sebastião Vieira ao chegar no Brasil, foi trabalhar com a família no ramo de panificação no estado de São Paulo. Ainda na capital paulista casou e teve filhos, mas há 30 anos, com o falecimento da esposa, os filhos retornaram para Jerusalém e ele veio tentar uma nova vida no Pará, no entanto o dinheiro acabou, sem recursos, foi obrigado a morar na rua.
“Eu cresci no Brasil, minha família trabalhava com panificação e eu aprendi a trabalhar nesse ramo e na minha vivência, aqui no Brasil, fui trabalhando, depois de velho fiquei doente e tive que vir para Marabá. Fiquei sem abrigo, sem nada, vivi muita dificuldade, fui morar na rua e depois conheci uma pessoa que me falou do espaço (Centro), mas não deu certo e aí depois conheci outra pessoa, um médico urologista que me tratou e me direcionou para minha cirurgia no Hospital Regional, fui operado e depois vim para cá (Cipiar) e aqui foi uma surpresa, aliás a cidade foi uma grande surpresa, pois aqui tudo tem e de muito bom, educação, turismo e a cidade é limpa e organizada”, relata Sebastião Vieira.
Sem dinheiro e muito doente, Sebastião Vieira era visto sempre pela Feira da Folha 28, onde dormia nos bancos ou calçadas. “Meu tempo de rua foi muito difícil para fazer qualquer necessidade, tomar banho, beber água. Eu vivia ali pela Folha 28 e Deus sempre me deu um abrigo e aqui estou tentando me reerguer e estou me refazendo, pois aqui tem assistência, tem enfermeiro, médico e estou vivendo uma nova fase na vida, pois o que você planta na juventude você vai viver na velhice e sei que o mundo não é tão mal, as pessoas não são tão más”, conta o idoso.
Sebastião Vieira chegou ao Cipiar há duas semanas, encaminhado pela equipe médica do Hospital Regional. Ele conta que não tem notícia dos familiares e nem mesmo os familiares devem ter alguma notícia do paradeiro do velho panificador, que morou em São Paulo, e hoje conta com o apoio dos profissionais do Cipiar.
“A guerra deixou marcas profundas na minha família e eles se desfizeram e aqui estamos costurando na memória o que foi do passado e aqui têm pessoas com histórias escondidas que ninguém sabe, e quantos idosos estão por aí que ninguém sabe o paradeiro, e a história está na minha mente, o trabalho que cada um fez, trabalho bonito e quando contamos ninguém acredita. E aqui é um mundo que eu não conhecia e aqui neste Centro vou começar uma nova vida, já estou começando. Aqui é como se fosse um oásis no deserto”, conta emocionado Sebastião Vieira.
PROGRAMAÇÃO DOS MESES DE NOVEMBRO E DEZEMBRO DO CIPIAR
As atividades com os 18 idosos do Cipiar são ininterruptas, praticamente toda semana há algo para se fazer dentro e fora do espaço de acolhimento. Neste mês de novembro, com a instalação de circos na cidade, os idosos foram se divertir com as apresentações circenses, malabaristas, trapezistas, palhaços entre outros.
E não apenas no circo, os idosos também foram conhecer a nova Encontro dos Rios, no bairro Francisco Coelho, e contemplar o pôr do sol mais bonito do Pará. “Esse mês de novembro está sendo bem interessante, bem produtivo. Eles conheceram o circo, fomos conhecer a nova orla, um ponto turístico maravilhoso e muitos idosos moravam lá próximo e foi uma história muito divertida. Fomos a pizzaria e nós estamos aqui para proporcionar o melhor para eles”, comenta Adriana Ferreira, coordenadora do Cipiar.
E no período da Copa do Mundo, nos jogos da seleção brasileira, o espaço já está quase tudo pronto para que os idosos acompanhem as partidas da seleção. “Estamos na copa e vamos preparar todo o espaço para fazer a torcida dos idosos e eles vão no comércio para que possamos estar bem organizados para a copa”, diz.
Em dezembro, no dia 22, já está agendada a confraternização do Cipiar e também o tradicional almoço de Natal. Além da confraternização e do almoço, há o momento de confraternização dos aniversariantes do mês.
“Dezembro é a época mais linda do ano e já estamos preparando uma grande confraternização e também o almoço de Natal especial com direito a peru e também temos idosos que fazem aniversário em dezembro e vamos fazer uma festa para eles”, finaliza Adriana.
A sociedade também pode ajudar sendo padrinho de um dos idosos, doando roupas, material de higiene e muito carinho e amor. O Centro Integrado de Proteção à Pessoa Idosa Antônio Rodrigues (Cipiar) está localizado entre as Avenidas Minas Gerais e Itacaiúnas, no bairro de Novo Horizonte, núcleo Cidade Nova em Marabá.
Texto: Victor Haôr
Fotos: Paulo Sérgio