“Como funciona a saúde”: Saúde mental dispõe de atendimentos de básica, média e alta complexidades no município
Atualmente, são cerca de 700 pacientes ativos na Ament. Além disso, mais de 100 pessoas são atendidas, por dia, no CAPS.
A Política Nacional de Saúde Mental tem espaço na rede de atenção à saúde, por meio de serviços prestados desde a atenção básica, passando pela média e alta complexidades. Em Marabá, há uma série de serviços à disposição da população. Tudo começa na Unidade Básica de Saúde (UBS), por meio do atendimento com psicólogo. Por serem porta de entrada, as UBS’s atendem os casos considerados leves, de menor complexidade.
O psicólogo Thiago Mousinho trabalha na atenção básica. Ele conta que, no primeiro atendimento, é feita a avaliação do paciente para saber qual o melhor procedimento a seguir, seja a escolha por sessões de terapia ou encaminhamento para a média e alta complexidade, como o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), localizado na Folha 31, Nova Marabá.
“Eles falam que gostam muito, sentem confiança no nosso atendimento. Às vezes não estão com problema de saúde, mas eles querem alguém para escutá-los. Hoje em dia, com a internet e o celular, a pessoa não tem contato com outra pessoalmente. É tudo no celular. Na consulta, é frente a frente, a gente conversa com a pessoa e, às vezes, essa escuta já faz uma grande diferença para a pessoa. Que as pessoas procurem um psicólogo, procure a gente. A saúde mental é muito importante”, explica o psicólogo.
Média e alta complexidade
Desde 2021, Marabá conta com o Ambulatório Especializado em Saúde Mental (Ament), localizado na Av. Minas Gerais, bairro Novo Horizonte, e é voltado para os casos de transtornos mentais considerados moderados. O serviço disponibiliza consultas com médicos especialistas em saúde mental, exames, psicoterapias individuais e em grupo, dinâmicas grupais terapêuticas, com grupo de mulheres, para autistas, para as mães de autistas, de ressocialização e testes neuropsicológicos para crianças.
“Moderado é aquilo que não é tão complexo para o CAPS e não tão leve para a atenção básica. São esses quadros que evoluem com um sofrimento significativo, que tem tendência a uma cronificação do transtorno. A gente sabe que o sofrimento pode ser desencadeado por qualquer situação, mas nem todo sofrimento é um transtorno mental. O luto é um sofrimento, mas se não for bem assistido e passar de um ano, com certeza pode já estar entrando em caso de depressão, um transtorno mental”, explica o enfermeiro psiquiátrico, João Augusto Miranda, Coordenador da Ala Psicossocial do Hospital Municipal de Marabá (HMM) e que também atua no Ament.
O acesso ao Ament se dá por meio da regulação. Tanto os profissionais das UBS’s, quanto os do CAPS, podem realizar encaminhamentos, quando houver necessidade. Atualmente, são cerca de 700 pacientes ativos no ambulatório. Quando a equipe do Ament identifica que o quadro do paciente está melhor, é realizada uma avaliação para saber se ele pode ser acompanhado pela atenção básica. Da mesma forma, quando há uma piora, a equipe decide se realiza encaminhamento ao CAPS ou à Ala Psicossocial do HMM.
O CAPS é responsável pelos casos de transtornos mentais considerados graves, severos e persistentes e possui um complexo de serviços e atendimentos disponíveis. O primeiro contato do paciente é por meio do acolhimento, que é a triagem realizada por profissionais de nível superior, que irão avaliar se o paciente atende ao perfil atendido pelo centro e quais atendimentos ele pode ter acesso. Todos os dias o CAPS disponibiliza 10 vagas para o acolhimento. O atendimento no CAPS é por livre demanda e acontece 24 horas por dia, incluindo feriados e finais de semana. Hoje, mais de 100 pessoas são atendidas diariamente, pelo Centro, nos diversos serviços disponíveis.
“Após essa avaliação, o paciente é encaminhado para os atendimentos dentro do serviço, como consultas médicas, oficinas terapêuticas, consultas com psicólogo, entre outros atendimentos”, enumera a gerente do CAPS, Morgana Lobo.
Um dos atendimentos requisitados no Centro é o acolhimento integral, quando, após a consulta com o médico, é identificado que o paciente está em crise e precisa ser observado. Além disso, o Centro organiza oficinas voltadas para artesanato, crochê, jardinagem, e outras de geração de renda. Há ainda atividades com educadores físicos, que atendem às propostas terapêuticas dos pacientes.
A equipe do CAPS é composta por terapeuta ocupacional, assistente social, educador físico, psicólogo, enfermeiro, médico psiquiatra e com especialidade em saúde mental. Cada profissional desenvolve atividades específicas com os pacientes. Esses profissionais também são os técnicos de referência, responsáveis pelo acompanhamento dos atendidos.
A convivência é uma das principais ferramentas do Centro. Nela, os pacientes passam o dia no serviço, quando precisam de atenção especial. A abordagem é fundamental para a avaliação do estado do paciente e se faz uso da medicação, por exemplo.
“É o processo de reabilitação e ressocialização desse usuário, que é uma luta constante que temos. O CAPS tem uma trajetória na saúde mental de desenvolver e poder estabilizar, para a gente poder ressocializar esse usuário dentro da própria sociedade, evitando os tabus que existem com o paciente de saúde mental”, reitera Morgana Lobo.
Juscelino Lopes realiza acompanhamento no CAPS há 8 anos. De lá para cá, ele conseguiu estabilização e, agora só realiza consultas a cada 60 dias. Enquanto isso, aproveita as oficinas e atividades do centro.
“Tenho duas terapias, às terças e quintas, de atividades manuais como costura, pintura, desenho, floricultura e de dança de carimbó. Eu tomo meu remédio em dias, acordo no horário normal. Eu acho um lugar bom, porque aqui dá para a gente refletir mais e andar aí fora, onde as pessoas não aceitam a gente”, compartilha.
A enfermeira psiquiátrica Paula Aviz é responsável por outro serviço importante, oferecido pelo CAPS: o grupo de redução de danos com usuários de álcool e drogas com grau de dependência química.
“O importante, para nós, é que esse usuário consiga novamente voltar às suas habilidades, seja trabalhar, seja estudar. Na redução de danos, a gente trabalha a questão do controle de novo sobre a sua vida, reduzir o uso da substância. O foco é que cada indivíduo tenha um pensamento diferente, tenha uma vivência diferente. A redução de danos vem para a pessoa voltar a ter o controle sobre vários aspectos da sua vida, que foram perdidos em função do uso da substância”, explica.
A Ala Psicossocial do HMM atende aos casos mais graves, quando os pacientes apresentam estado de surto. O serviço está disponível, desde 2014, e dispõe de 6 leitos, que também atendem outros 7 municípios da região.
A internação é de curta duração e visa estabilizar os pacientes. A alta ocorre quando ele estiver apto para ser reinserido no ambiente familiar ou acompanhado pelos outros serviços da rede de atenção como UBS, Ament ou CAPS.
“É um serviço de extrema importância para poder assistir a esse indivíduo que está em situação de desorganização comportamental e mental também, a ponto de se expor socialmente e se colocar em vias públicas, com comportamentos desorganizados. Então, a ala psicossocial é o instrumento de maior complexidade da Rede de saúde mental, que vai dar retaguarda para esses serviços ambulatoriais, com internações de curta permanência, para tirar desse quadro de surto e devolver para os instrumentos assistenciais ambulatoriamente”, explana João Augusto Miranda, Coordenador da Ala Psicossocial.
De acordo com Gisele Freitas, Coordenadora de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde de Marabá (SMS), é imprescindível o cuidado com esse aspecto da saúde, que por vezes é negligenciado.
“É muito importante a gente trabalhar a saúde mental, assim como a gente trabalha a saúde física. A maioria das pessoas, quando sentem dor, procuram atendimento, diferente da saúde mental. A gente também tem que trabalhar a saúde mental em uma forma de prevenção. Isso é muito interessante. Que a gente comece a pensar a saúde mental também nessa forma de prevenção”, pontua a coordenadora.
Para o enfermeiro João Augusto Miranda, é importante destacar as mudanças trazidas, pela reforma psiquiátrica de 2001, na assistência à saúde mental, substituindo a forma de tratamento dos pacientes, com maior foco na estabilização e reinserção do indivíduo no convívio social.
“A reforma psiquiátrica brasileira prega a assistência em rede, e como objetivo maior das políticas públicas de saúde mental é promover a redescoberta do indivíduo com transtorno mental, porque muitas vezes, nem o indivíduo se sente mais capaz de poder provocar essa ressocialização dele, tornar ele um sujeito ativo, um cidadão consciente e que tem um papel a ser desenvolvido na sociedade”, conclui.
Texto: Ronaldo Palheta
Fotos: Paulo Sérgio Santos e Arquivo Secom