Covid-19: Segunda onda de contágio promove mudanças em perfil e sintomas dos pacientes
O aumento das demandas no Hospital Municipal de Marabá e na Central de Testagem da covid-19 é um reflexo da segunda onda da covid-19 registrada no município. Os leitos de enfermaria chegaram a 100% de ocupação na quarta-feira (14) e os de UTI com pouco estão se mantendo na casa dos 90%. O número de óbitos atingiu a marca de 346 dos 16.905 casos confirmados até esta quinta-feira (15). Os pacientes recuperados somaram 16.363. Já na central de testagem têm sido realizados em média 100 testes por dia, com consultas médicas e de enfermagem.
Tatiana Carvalho, cirurgiã vascular intensivista, observa que neste momento de pandemia as variantes da covid estão circulando e algumas com potencial mais forte, a exemplo da cepa de Manaus, da linhagem P1.
“Nessa segunda onda o que veio, sem dúvidas, foi a mudança do perfil das vitimas, nas visitas que tenho feito aos hospitais tenho observado a data de nascimento. Muitos pacientes jovens e jovens sem comorbidades, saudáveis, magros que praticam atividades físicas. Mudou muito o perfil, a apresentação é diferente. Não tem mais aquela perda do olfato e paladar que era tão característico o ano passado. A gente ver mais algo parecido como uma gripe, alergia, espirro e a evolução é mais grave, de forma rápida, com envolvimento pulmonar de 80, 90 até 100%”, destaca a médica.
A médica esclarece ainda que devido à existência das variantes do vírus (Sars CoV-2) muitas pessoas podem ser contaminadas novamente, “pode ter uma infecção por outra cepa”, afirma. Por isso os cuidados para evitar a contaminação devem ser redobrados.
Incubação
“O período de incubação fica entre 3, 4, 5 dias, a covid, por um período um pouco mais longo, chega até 14 dias, são poucos os estudos, mas daí eles pegam essa janela para dizer que houve pessoas que acabaram tendo o contato com o vírus e desenvolveu os sintomas com 14 dias. É o prazo máximo”, explica Tatiana Carvalho.
Quando voltar às atividades normais após a infecção (período de quarentena)
“A literatura fala que a pessoa tem de ter pelo menos até 72 horas sem febre e acima de 10 dias. Hoje pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos e pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] são dez dias com 72 horas afebril. Já estudos mais novos da USP [Universidade de São Paulo], acham mais seguro 14 dias. Eles fizeram uma coleta de secreção nasal e identificaram o vírus e foram capazes de induzir a infecção em experimento. É discutido entre 10 e 14 dias mais depende muito dos sintomas. Se a pessoa ficou na UTI, caso mais grave, aí já é acima de 20 dias de isolamento para voltar ao convívio social”, esclarece a médica.
Prevenção (vacina)
“Temos duas vacinas hoje no nosso país, a AstraZeneca e a Coronovac, as duas exigem a segunda dose. A eficácia é após a segunda dose. Temos visto no país inteiro que tem muita gente que não está retornando para a segunda dose, por causa de várias notícias, eventos adversos. Mas a Anvisa tem fiscalizado. O momento é emblemático. Se a pessoa pegar a covid hoje terá 2% de chance de vir a óbito. Duas pessoas a cada 100 vão morrer. Se for entubado em UTI essa mortalidade é acima de 50%, ou seja, 50 de cada 100 vai morrer. Se tomar a vacina, o risco que se tem de ter uma trombose, um evento mais grave vai para mais de 100 mil. Se for colocar no papel ainda compensa mais tomar a vacina. É momento de se vacinar sim! Até que se prove que a vacina é mais letal que o vírus. Voltem para tomar a segunda dose. Após a vacina a pessoa tem até 14 dias em média para estar imune. Claro nem tudo é 100%, mas a chance de contrair o vírus com a vacina é muito menor”, pontua.
Cuidados e medidas de segurança
“Se a pessoa não mantiver o distanciamento, o uso de máscara, medidas de higiene rigorosas a gente vai ficar vivendo essas mutações anos até esse vírus perder essa força com a população, que é a seleção natural, que as pessoas vão se adaptando ao convívio do vírus, até pode acontecer outras pandemias, surgir outros vírus. Hoje o fato de ter tomado a vacina não quer dizer que a pessoa está livre. Às vezes as pessoas estão se cuidando, daí tomam a vacina e acabam se descuidando contaminando a si e outras pessoas. Lembrar que festinha em casa também provoca aglomeração. O momento é de união. Fazer o que temos nas mãos. Máscara, álcool, vacina e parar de reclamar e tentar viver o novo normal” conclui.
Vencedor da nova onda da covid-19
O servidor público Antônio Lacerda Veloso, 46 anos, foi uma das vitimas da segunda onda da covid-19. O caso dele foi moderado e já está se recuperando da infecção, a qual teria contraído dentro de casa, após cuidar por 11 dias da esposa e da enteada que haviam desenvolvido a forma leve da doença.
Os primeiros sintomas foram calafrios seguidos de uma febre. O vírus se manifestou também em desconforto e dores pelo corpo. Os testes rápidos e de sangue deram negativo para o coronavírus. Mas o corpo mostrava que algo não estava normal e o quadro se agravou em menos de 3 horas, quando precisou de atendimento urgente. Somente uma tomografia mostrou a gravidade do caso, comprometimento de 25% dos pulmões pela covid-19.
“O médico disse que o meu quadro não era de internação e passaram antibiótico e corticóide pra eu tomar em casa. Tomei as medicações, mas fiquei fraco, sem querer comer, com aqueles sofrimentos da covid, cansado, a comida fede no nariz, a água amarga, o fôlego, você não pode espirrar porque doí tudo, senti que estava agravando” relata o servidor.
Lacerda foi internado no Hospital Municipal de Marabá após 5 dias de tratamento em casa, já com fraqueza nas pernas, aceleração do coração, diabetes e pressão alterada, além de cansaço. Na enfermaria do HMM precisou de oxigênio e presenciou a gravidade em outros pacientes.
“De 4 conhecidos meus que estavam internados, 2 vieram a óbito. Os médicos fazem o que tem de ser feito e tem pessoas que não voltam pra casa com vida. Eu só tenho gratidão do tratamento que recebi lá dentro. Um cuidado muito especial parece que estão cuidando deles mesmos. São competentes. Eles demonstram o lado humano para com a gente, solidariedade que vai além do profissionalismo, um gesto de amor”, relata o professor de história.
Durante os 6 dias de internação, Lacerda disse que se apegou à fé e à oração, além dos cuidados dos profissionais para vencer a covid-19.
“Acima de qualquer coisa Deus. Com 5 dias internado, o médico disse que eu iria sair de lá com uns 7 a 8 dias porque o pulmão ainda estava muito inflamado, saturação ainda em 90, 92, e precisava tomar antibiótico. Após 12 horas, outro médico me examinou tirou o oxigênio e no outro dia me deram alta e vim pra casa”, contou.
Vitorioso e ao lado da família, ele segue se recuperando e faz questão de alertar as pessoas sobre a doença.
“A população tem de conscientizar, fazer a sua parte. Não se contamine. Porque quem passou por isso não deseja nem para o seu pior inimigo. É uma coisa surreal, muito ruim. Cada um tenha sua responsabilidade. Sair de casa apenas quanto tiver necessidade, usar a máscara corretamente, álcool em gel, evitar aglomeração. Esse comportamento vai fazer com que você salve a sua vida e a do outro”, conclui o servidor.
Texto: Leydiane Silva
Fotos: Paulo Sérgio e Aline Nascimento