Cultura: Para matar a saudade, Museu Municipal traz exposição sobre carnaval de rua
“Tô me guardando pra quando o carnaval chegar…”. O famoso verso de Chico Buarque tem sido a tônica de muitos foliões nesses anos de pandemia. Com o cancelamento do carnaval de rua da cidade nos últimos anos, e enquanto o carnaval de rua não chega, o Museu Municipal Francisco Coelho resolveu levar um pouco do gostinho da popular festa para dentro de suas paredes com a exposição fotográfica: “De Outros Carnavais: perspectivas culturais a partir dos blocos carnavalescos em Marabá”.
A abertura da exposição foi realizada no finalzinho da tarde da última sexta-feira (26). Estão expostas fotografias que pertencem ao acervo fotográfico Manoel Domingues da Fundação Casa da Cultura de Marabá (FCCM).
A diretora do Museu Municipal, Wania Gomes, explica que a exposição ficará aberta durante todo o fim de semana e deve permanecer no museu por cerca de 15 dias. “O museu é uma casa de contar histórias e estamos aqui hoje com a abertura da exposição lembrando a década de 80 e 90, uma forma de contar a nossa história e a importância cultural dessa festa popular”, comenta.
O evento contou com a apresentação da banda da FCCM, que tocou marchinhas de carnaval e animou os presentes no local. A diretora da fundação, Vanda Américo, convida a população para curtir a nostalgia e a memória dos carnavais de rua de Marabá. “Venham interagir, os que já participaram podem se ver. Tinham blocos, marchinhas que cantavam na rua. Eram crianças, adultos. A primeira festa vesperal que eu fui essas marchas tocavam na escola municipal Mendonça Vergolino e o museu fez esse trabalho de retomar a história, trabalho bonito e estão de parabéns”.
O funcionário público Geraldo Rogério foi um dos que aproveitou para reviver esses momentos, já que em virtude da pandemia não teremos carnaval de rua esse ano em Marabá. “Fico feliz em ver que em um momento como esse de pandemia, onde as festas não podem acontecer presenciais sejam reavivadas pelas memórias da cidade. Ainda mais em um prédio histórico como esse e com as memórias de Marabá. Nos traz uma nostalgia e esperança de dias melhores”, conta.
Ele conta que não é marabaense e retornou a cidade recentemente, mas já morou na cidade, tendo participado de inúmeros carnavais de rua na Marabá Pioneira, inclusive atuando como drag queen. “Já fui montado em vários desses carnavais. Quando morava aqui fui todos os anos em alguns blocos. Gosto muito dessa memória afetiva que a cidade traz, meio interior, que já foi muito explorada, mas que as pessoas ainda mantêm essa raiz”, acrescenta.
Seu amigo, Rodrigo Marques, 30 anos, também não é da cidade, mas já mora aqui há algum tempo. Ele conta que não é muito da micareta, mas aprecia a arte do carnaval. “Fantástico. Muitas das fotografias aqui foram tiradas pouco tempo depois que eu nasci. Estou vendo fotos aqui de 1994 e nasci em 1992, me abriu a perspectiva do que era o carnaval naquela época. Não tinha ideia que havia na cidade toda essa produção, carros alegóricos, fotografias sofisticadas”, completa.
Parceria com a Unifesspa
A escolha das fotos que integram a exposição foi feita pelos estudantes de história da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) e educadores museais, Izanne Carvalho e Wellington Motta. Os dois atuam como guias no Museu Municipal em parceria entre a FCCM e a universidade.
“A gente fez a seleção no acervo situado na FCCM e todo esse processo foi realizado de maneira analítica. Utilizamos critérios de seleção histórica, quais dessas fotografias representam efetivamente o espírito carnavalesco que despertamos e encontramos na região de marabá. Fizemos seleção pensando nas rainhas de baterias, porta bandeiras, mestre salas e todos os aspectos do que acontecia na região, fazendo um mescla de cultura popular e erudita”, comenta Izanne.
Devido ao grande número de fotografias e o espaço reduzido também é possível observar outras fotografias da época em um tablete localizado no local. “Usamos esse recurso pois havia muitas fotografias que adoramos e achamos que mereciam espaço, mas temos que trabalhar com a logística do local da exposição. Então no tablet tem outras fotos que achamos relevantes”, conta Wellington Motta.
O coordenador do curso de História da Unifesspa, Geovanni Cabral, ressalta a importância da parceria. “É algo fantástico que possibilita, principalmente, ter espaço para pesquisa para poder realizar um trabalho de diálogo com nossos estudantes. Um orgulho muito grande porque estamos diante de estudantes que estão ocupando espaços que não são apenas a sala de aula”, ressalta.
Ele conta que é pernambucano, que adora carnaval e não conhecia o passado da festa em Marabá. “Pela exposição posso ver que demonstra ter muita beleza, festividade e felizmente está no registro da cidade e que quem sabe que possamos voltar a ter essa festa tão linda que é o carnaval em breve”, concluiu.
Texto: Osvaldo Henriques
Fotos: Aline Nascimento