Dia do compositor: A poesia e melodia das composições dos artistas Clauber Martins e Mestre Zequinha
Que a música é a mais popular das artes pouca gente discute. E por trás de cada melodia que toca nossa alma e coração, há sempre alguém que compôs aquela letra, aquele som. Nesse dia 15 de janeiro, em que é comemorado o Dia Mundial do Compositor, a gente traz para vocês a história de dois compositores que representam nossa cidade por meio desta arte.
Guardião da Amazônia
José de Jesus Marques de Sousa nasceu no bairro Francisco Coelho, ou Cabelo Seco, como ele gosta de chamar. Mas não demorou muito para começar a se transformar no Mestre Zequinha, que já rodou o mundo cantando músicas com a temática amazônida.
Aos 4 anos, Zequinha de Souza ganhou o primeiro instrumento, uma flauta que recebeu do pai, que não durou muito na mão do menino que gostava de ir para o rio tocar, mas que serviu para lhe despertar a paixão pela música.
“Fui tocar na beira do rio, veio um barco chamado Vendaval, carregava castanha. Barco pesado, o banzeiro (onda) foi mais forte do que eu podia prever, eu cai e a flauta se perdeu no rio”, conta o compositor.
Mas mesmo com o rio, que viria a ser tema de várias de canções, tendo levado aquela flauta, a paixão pela música já não tinha mais quem levasse. Após muito choro, ele conta que o pai lhe fez uma violinha de buriti, adaptada para o tamanho dele. “Violão eu não conseguia porque era muito pequeno”.
Aos 12 anos, o povo de Marabá já comentava: “Tem um menino que toca ali no Cabelo Seco”. E assim começou a carreira. Com 12 anos, já tocara no Festejo do São Félix de Valois e formara a primeira banda de pau e corda.
Nessa época, ainda apenas como instrumentista, a inspiração veio de longe, de 5 meninos de Liverpool, na Inglaterra, que marcariam o mundo da música para sempre. Assim surgiu a banda The Lions. “Estava muito no auge os Beatles. Daí colocamos o nome em inglês para o pessoal ver. Tocávamos uns rocks mesmo. Tudo chutado na decoreba. Ninguém sabia inglês”, conta rindo, o Mestre Zequinha.
A banda durou uns três anos. Depois foi formada a banda Os Invencíveis, dessa vez focada no reggae. Segundo Zequinha, eles foram os precursores do estilo na região. “Naquela época nem no Maranhão se tocava muito reggae. Ele veio daqui, passou e foi desembocar lá”, garante.
ALERTA AMAZÔNIA
Foi só na década de 1990 que a ideia de compor as próprias canções apareceu. Em 1992 seria realizada, no Brasil, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, a ECO-92, na cidade do Rio de Janeiro. Agora, com 37 anos, Zequinha aprendeu sobre a exploração da Amazônia pelo governo militar, Canudos, Chico Mendes e isto o inspirou a ser, como ele define, “Um defensor da Amazônia na arte”.
“Já tinha saído ouro, castanha, diamante, seringa, tudo sendo explorado da nossa terra e aqui não ficava nada. Por que isso acontecia? Daí, fui saber quem eram os defensores dos índios, dos rios. Políticos da época dos militares que não sabiam a nossa realidade. Então pensei, vou fazer uma música daqui, que fale dessa realidade. Essa música é um protesto”, revela.
Assim nasceu Alerta Amazônia: “Hoje eu te abrigo na sombra do verde com muito prazer. Se dormires muito amanhã será tarde para lhe proteger. Acorda esse povo, nesse canto novo e falo entender. Quer internacionalizar usando a Amazônia, seremos o que? Gente brasileira, colônia estrangeira mesmo sem querer. Alerta Amazônia para a vida. A tua sorte já está sendo discutida”, diz um trecho da música.
Depois disso, outras músicas vieram, como Mãe Natureza, que fala da relação entre o sistema econômico e a natureza; Verão Multicor, que fala das praias e do verão marabaense; Pare o Trem (Stop the Train), que fala sobre como nossas riquezas são levadas da nossa terra; entre tantas outras.
Músicas que ressoavam no Projeto Cultural Rio de Encontro, que o levou a viajar por “Toda a América Latina, Europa e Estados Unidos. Lá, tocamos Stop the Train e eles todos olhando. A música me levou a rodar o mundo, mas sempre voei de volta e voltei para meu ninho que é Marabá”, comenta.
Em 2016, o poeta gravou o primeiro disco. “Deixa o Rio Passar”, que pode ser encontrado no Youtube. “Fiz músicas para vários artistas, fiz brega, gravei com Chimbinha, ia para Belém fazer guitarra. Mas, nesse, eu fiz o que queria fazer mesmo. A gente compõe de tudo, mas esse foi do jeito que eu queria mesmo, com a bandeira com o que me propus que é a problemática Amazônia”, enfatiza.
O músico consagrado deixa um recado para todos os compositores. “O compositor se sente um portal. Sente vontade de fazer e faz. Ninguém que compõe, eu critico, Seja o Caneta Azul, ou “Tem Cabaré Essa Noite”, para mim não diz nada, mas para alguém quer dizer e eles foram um portal daquilo que tinham que ser naquela hora”, completa.
E finaliza saudando os artistas de nossa terra. “Tem uma galera, chegando agora, que gosta de música, aproveitem que hoje tem aulas, cursos, vídeos. Marabá tem oportunidades. Na minha época não tinha isso. Era um barco sem remo no meio do mar. Aqui temos muitos talentos na área da música e da dança. Portanto, aproveitem e façam, sem medo”, conclui.
Marabela
Clauber Martins não é marabaense. Nascido no pequeno município de Grajaú, no Maranhão, ele adotou Marabá como a terra natal. Já rodou o Brasil todo com sua música, mas foi aqui que plantou raízes. “Fui para São Paulo, Pernambuco, São Luís, Brasília e tinha Imperatriz como meu porto seguro, que depois se tornou Marabá. Já fazem 18 anos que vim para cá e me apaixonei pela cidade”, confessa.
Ele conta que ao chegar na cidade achava “meio fraco, retrógrado”, mas pôde acompanhar a evolução da cidade. “Nesses 18 anos, houve grande evolução e muita gente nova produzindo, compondo e assumindo a cidade como roupa, vestimenta e armadura. Sentia rejeição e o bairrismo do pessoal da capital. Mas, agora, as pessoas da cidade têm orgulho de beber da própria fonte”, destaca.
Clauber se tornou um dos expoentes da cidade. Nos últimos anos, tem produzido músicas e vídeos que viram clipes para o aniversário da cidade. Um dos mais marcantes “Marabela”, serviu para homenagear os 109 anos do nosso município.
“Com a benção do meu padroeiro e a força do meu orixá, te quero viva, te quero feliz, te cuida minha Marabá. Marabela há terra issomeu tesouro, meu amor, teu povo é fruto dessa miscigenação. Francisco Coelho quando aqui chegou, se encantou e não saiu mais não. Tem um abraço para quem tá chegando. Sempre sorriso para quem quer ficar. Quem está partindo, vai levar saudade, dessa menina bela Marabá” (trecho da canção)
Clauber também ganhou o primeiro instrumento do pai, aos 8 anos, depois aprendeu clarinete. Aos 13 anos, mudou para o saxofone e começou a participar de festivais e arranjos. Aos 14 anos, venceu o festival de sua cidade. E também foi nesse período que compôs a primeira música, “Sentimento Rei”.
Naquela época, o menino apaixonado fez a composição para, como ele disse, “ o amor da minha vida”. Naquela idade, sempre achamos que será para sempre. E a música fala desse sentimento que tem mais radioatividade que a bomba atômica, essa coisa fugaz e febril da adolescência”, relembra.
O compositor já cantou junto de outros músicos consagrados, como Oswaldo Montenegro e Chico César.
De lá para cá, foram mais de 150 festivais em todo Brasil e mais de 70 troféus. As composições dele começaram a abordar outros temas, como comicidade, temas sociais, mas sem esquecer do romance. Os estilos também são variados, como samba, axé, xote, baião e bossa nova. “Sem limites”, ele descreve.
Atualmente, Glauber montou o Kalango Estúdio, e nos últimos seis anos, começou a trabalhar também com o audiovisual. Produzindo clipes, documentários e ajudando os artistas da região.
“Sempre vivi da arte e da música. É minha montaria. Montado nela, eu visitei vários mundos, tanto físico, quanto espiritual. Ela é meu veículo desde sempre e tenho percebido evolução da música marabaense por conta de tudo que a cidade proporciona. Minha inspiração maior é o Elomar e Luiz Gonzaga. Todos os artistas que admiro e tenho realizado um sonho de estar perto dos meus ídolos. Viva a música brasileira e a música nordestina”, encerra.
Texto: Osvaldo Henriques