Dia da Pessoa com Deficiência: Professor surdo da rede municipal de ensino supera desafios e é exemplo de inspiração
Em uma sala de atendimento especializado, o professor Hugo de Araújo Freires, 39 anos, vai realizar um de seus maiores objetivos, que é o de ensinar crianças surdas a compreenderem o mundo. O pedagogo e professor de Educação Física conhece com propriedade os desafios a serem vencidos por essas crianças. Nos tempos de estudo dele havia bem menos recursos, acessibilidade e inclusão. Atualmente, Hugo é um dos mestrandos em educação da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) e trabalha no Centro de Atendimento Especializado na Área da Surdez (CAES). Ele é concursado da Prefeitura de Marabá como professor no ensino de Libras da Educação Infantil.
“Foi difícil, eu não sabia de nada, tinha dificuldade na comunicação até com a família. Na escola o professor ensinava e eu não entendia, observava. Comecei a alfabetização aos 17 anos, aprendi Libras. A inclusão era difícil, não tinha comunicação com os ouvintes. E o professor também não conseguia. No AEE (Atendimento de Educação Especializada) estudei o português, a matemática, geografia, fui observando e conseguindo. E depois eu mesmo fui ajudando os alunos ouvintes, aí foi quando começou a inclusão, compartilhamento de informações”, lembra Hugo.
A surdez de Hugo Freires, aconteceu aos 2 anos de idade como consequência de uma meningite. Natural da cidade de Tucuruí, no Pará, já morou em Florianópolis, Jacundá, mas foi em Marabá que a sua história começou a ter um rumo diferente. Iniciou os estudos na Escola Jonathas Athias, na sala de recursos. Em 2001, foi incluído no ensino regular da mesma escola onde concluiu o ensino fundamental, mas nunca deixou de frequentar a educação especial.
“Não havia qualificação para os professores, adaptação das provas e por várias vezes eu ficava reprovado nas disciplinas. Minha mãe dizia que eu precisava de adaptação, para ter acessibilidade, compreender e aí sim eu começava a responder” comenta sobre as experiências em sala de aula.
O ensino médio de Hugo foi estudado na capital paraense, Belém, devido ao acompanhamento especializado. De volta ao município, ele cursou o ensino superior em Pedagogia, na faculdade Metropolitana e logo foi aprovado no concurso público. Hugo tem história com as duas universidades públicas da cidade, é graduado em Letras- Libras pela Universidade Estadual (Uepa) e atualmente estuda o mestrado na Universidade Federal (Unifesspa). Ele também cursou Educação Física pela Faculdade Anhanguera. Conquistas das quais tem orgulho e que servem de inspiração a outras pessoas com deficiência.
“Não foi fácil chegar até aqui, mas eu me esforçava, corri atrás, pedia aos ouvintes para fazer traduções, isso já na faculdade. Me sinto orgulhoso, feliz por ter aprendido, formado. Feliz pelas vitórias. Quero crescer cada vez mais, pra que possa compartilhar mais informações. A inclusão é importante, tem de ter muita estratégia, material pedagógico, adaptação, diagnóstico, é um processo demorado. Às vezes é difícil contar uma história, ensinar, mas é muito gratificante”, pontua Hugo.
No Dia da Pessoa com Deficiência, 3 de dezembro, o professor Hugo comemora os avanços na educação inclusiva e acessibilidade. Ele enfatiza os recursos tecnológicos, como o aparelho celular, aplicativos, que permitem o uso de videochamada facilitando a comunicação pela Libras.
Hugo é casado com uma surda, e os dois têm um filho ouvinte. Angelo José tem dois meses de nascido.
Hugo Freires é inspiração para surdos diz ex-professora orgulhosa
Quando chegou a EMEF Jonathas Athias foi a professora Iracelma Costa quem acompanhou o então aluno até a conclusão do ensino fundamental. Desde 2013, Hugo já não é mais apenas o ex-aluno de Iracelma, mas um colega de trabalho que assim como ela contribui na formação de surdos e professores ouvintes a fim de garantir a educação inclusiva.
“Eu sempre falo que ele é exemplo de superação. Um exemplo para a comunidade surda, porque sempre vem buscando a igualdade, lutando por oportunidades de melhor convivência dentro da sociedade. Para que os surdos observem e lutem por uma vida melhor. Eles são iguais aos ouvintes, a única diferença é a comunicação, que é uma limitação que não impede eles de ocupar qualquer espaço dentro da sociedade”, ressalta Iracelma Silva Costa, diretora do CAES.
Hugo representará Marabá na Surdolimpíadas Nacional 2021
Dentre os novos desafios de Hugo está a participação na terceira edição da Surdolimpíadas Nacional que acontecerá entre os dias 04 e 07 de dezembro em São Paulo, promovida pela Confederação Brasileira de Desportos de Surdos (CBDS). Ao todo 18 estados terão surdoatletas nas competições. Hugo vai disputar na modalidade de vôlei de praia.
“Fiquei surpreso com a carta de convocação. Em Marabá só eu irei participar. Fiquei muito feliz. Estou na esperança de que vou conseguir e se eu me classificar, em 2022 irei para o Rio de Janeiro”, finaliza Hugo Freires.
Texto: Leydiane Silva
Fotos: Paulo Sérgio / Arquivo ASCOM