Dia da Pessoa com Deficiência Visual: “Representa muita luta da pessoa enquanto deficiente visual”, informou Ângela Araújo, aluna do CAP
“Na verdade, não é comemorar o dia do cego, acho que é um dia alusivo de luta, de conquista da pessoa com deficiência visual. Luta e conquista de espaços para que a pessoa com deficiência visual seja vista pela sociedade como um ser humano, como um cidadão e não como um coitado”. A afirmação sobre o Dia Nacional da Pessoa com Deficiência Visual, nesta quarta-feira, 13 de dezembro, é do Nacélio Madeiro, ex-aluno e revisor de Braille do Centro de Apoio Pedagógico ao Deficiente Visual (CAP), vinculado à Secretaria Municipal de Educação (Semed), que atende pessoas cegas e com baixa visão. Ele também é professor graduado em Química e tem bacharelado e licenciatura em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa).
“Esse é o trabalho que executo aqui. A produção do material passa por mim para revisar se está tudo de acordo para que o aluno consiga ter o atendimento e aprendizado necessário. (…) A acessibilidade é importante para a pessoa com deficiência e é importante para qualquer outra pessoa, quando o espaço se torna acessível, o cidadão ou a cidadã se torna uma pessoa totalmente independente”, enfatiza Nacélio.
É no Centro de Apoio Pedagógico ao Deficiente Visual que, pessoas de várias idades, adquirem o conhecimento e habilidade necessários para levar uma vida produtiva e satisfatória, sendo preparados para lidar com as limitações. Para isso, o CAP possui uma sala de AVD (Atividades para Vida Diária), salas de estimulação precoce, de matemática (voltada para o Soroban), sala de Braille e um centro de produção de materiais destinados à orientação de mobilidade de alunos com baixa visão.
O local tem ainda uma biblioteca com livros de várias áreas do conhecimento. Além disso, os alunos recebem apoio em disciplinas como português, ciências, língua estrangeira, dentre outras.
Para garantir a inclusão de alunos com deficiência visual na rede municipal de educação, o CAP, por meio do Núcleo de Produção, produz também cadernos de atividades curriculares elaborados pela Secretaria Municipal de Educação (Semed). O material é analisado pela equipe do CAP e reproduzido com fonte ampliada para os alunos de baixa visão, e em Braille para os cegos. Após o material impresso, os técnicos do CAP ainda fazem o acabamento final para fácil manuseio dos alunos.
O CAP conta com cerca de 108 alunos, sendo 89 alunos matriculados na rede municipal no primeiro e segundo segmentos do ensino fundamental. As matrículas podem ser feitas o ano inteiro por alunos de qualquer idade com deficiência visual congênita ou adquirida. Não há limites de vagas. O CAP está localizado na Agrópolis do Incra, no bairro Amapá, no núcleo Cidade Nova.
“O nosso atendimento funciona de duas a três vezes na semana, dependendo da necessidade do aluno, então são quatro horas de aula. Para a pessoa cega, nós temos orientação e mobilidade, nós temos AVD, que é Atividade Vida Diárias, nós temos o Braille, temos o Soroban e tecnologia assistida”, explica a diretora do CAP Josiane Soares Martins.
O CAP também dispõe de assistente social que auxilia os alunos na aquisição de benefícios. “Ela faz esse acompanhamento tanto aqui, quanto domiciliar, para ver questão de como é que o aluno está, aposentadoria, os benefícios do BPC (Benefício de Prestação Continuada), Bolsa Família etc.”, declarou a diretora. Ela ressalta que, nos dias de aula, os alunos ainda dispõe de um ônibus escolar.
Quem tiver interesse em participar ou matricular o filho, basta se dirigir ao CAP. “Importante trazer documentos pessoais, os laudos se tiver. Nós vamos fazer uma análise do aluno, fazer a entrevista com a família, e aí ele passa a frequentar o CAP. Temos alunos de Morada Nova, São Félix, Nova Marabá e Núcleo Cidade Nova”, comenta Josiane.
A aluna Ângela Maria Araújo, 22 anos, está no CAP desde os 5 anos. Local que considera a segunda casa, lugar que aprendeu a ler, escrever e conviver em sociedade, concluiu os ensinos fundamental e médio e foi aprovada no curso de Saúde Coletiva pela Unifesspa. Mas largou o curso, após dois semestres, para tentar cursar pedagogia.
“Tudo que eu aprendi, eu aprendi no CAP. Eu me criei no CAP, aqui foi, é e sempre será a minha segunda casa. Meu pontapé de crescimento foi aqui no CAP. Minha alfabetização no Braille, na mobilidade, atividades da vida diária. No que diz respeito à pedagogia também com o acompanhamento na escola regular, no ensino comum. É por causa disso que eu cheguei até aqui”, agradece a aluna.
Ela reforça a importância do 13 de dezembro, que foi escolhido por ser o Dia de Santa Luzia, santa católica que era cega e é considerada “protetora dos olhos”. “Representa muita luta da pessoa enquanto deficiente visual, porque nós temos conquistado muitas coisas. Têm pessoas que têm realmente levantado a bandeira, arregaçando a manga mesmo. Mas representa a luta porque ainda tem muita, muita coisa a se fazer em termos de sociedade, em termos de locomoção e muitas outras áreas”, garante.
Texto: Osvaldo Henriques
Fotos: Sara Lopes