Dia Nacional do Surdo: Por meio de suporte pedagógico e intermediação, CAES e CIL promovem a integração de pessoas surdas
Carlos Gamarra tem 11 anos e estuda na Escola Jonathas Pontes Athias, na Folha 22, Nova Marabá. Há sete anos, ele realiza acompanhamento junto ao Centro de Atendimento Especializado na Área da Surdez (CAES), que funciona na Folha 26, e é ligado à Secretaria Municipal de Educação (Semed).
Por meio de intérprete, ele explica que o CAES é muito importante para o aprendizado da Língua Brasileira de Sinais (Libras), principalmente em uma sociedade que não é tão acessível para as pessoas surdas.
“Eu tenho a minha mãe, Leidiane, que vai junto comigo ao médico, porque se eu for sozinho não ia conseguir porque me comunico por Libras. Ela vai comigo porque se torna mais fácil a comunicação e, aí, eu consigo porque ela interpreta e faz essa mediação. Aí eu consigo me comunicar”, ressalta.
Esses desafios enfrentados, diariamente, por pessoas como Carlos, são temas de discussões nesse 26 de setembro, Dia Nacional dos Surdos. Data essencial por fazer alusão à luta por inclusão e acessibilidade das pessoas surdas. Portanto, para ele é imprescindível a ampla divulgação do trabalho do CAES.
“É muito difícil para mim, como filho surdo, não ter essa comunicação em alguns lugares que eu vou. Muitas vezes, eu fico triste. Quando você vem aqui, você conhece. É muito importante essa valorização. Então, é preciso divulgar porque nós precisamos de intérpretes em vários lugares para que a gente possa ir e tenhas as portas abertas”, reitera.
Especificações entre surdos
No universo da surdez, há detalhes que precisam ser explicados. A fonoaudióloga Karine Costa, que atua no CAES, ressalta a diferença entre surdos e surdos oralizados.
“O surdo tem uma deficiência auditiva de grau profundo e o surdo oralizado pode ser um surdo de grau profundo que usa alguma tecnologia auditiva para ter percepção auditiva novamente e pode também ter graus diferentes de perda auditiva: graus leve, moderado, severo e profundo. Essas tecnologias podem ser aparelhos auditivos ou implantes coclear, que permitem a percepção auditiva da voz ou de sons ambientais”, explana.
Júlia Carvalho, de 9 anos, por exemplo, é surda oralizada, com implante coclear. Às quintas-feiras, ela realiza atividades no CAES para aprender a Libras. A respeito de sua surdez, ela afirma que não vê diferença alguma entre si e as outras pessoas.
“Eu acho normal, igual as outras, mas você tem que se dar [relacionar] normal com as outras pessoas. Por exemplo, eu sou uma pessoa, então, eu posso ser uma pessoa igual, só que surda. A minha diferença é só ser surda, não é outra coisa. Nada mais”, destaca.
Desafios diários
Em meio a uma sociedade que ainda não está totalmente adaptada à acessibilidade, as dificuldades encontradas pelas pessoas surdas no dia a dia são pertinentes. O fato de muitos lugares não terem intérprete de Libras para atender esse público afeta diretamente a autonomia das pessoas surdas, como avalia o professor Diego Fiuza, que é surdo, e ministra aulas no CAES.
“Muitas vezes, há um preconceito: ‘como o surdo trabalha?’ As pessoas precisam abrir a sua mente e entender que o surdo precisa trabalhar. Tem que ter essa valorização da pessoa surda. Como as pessoas não sabem a Libras, nós acabamos sem informação. E, às vezes, não entendemos o que as pessoas estão falando”, afirma.
Trabalho do CAES
Em Marabá, o CAES atende estudantes surdos e surdos oralizados no âmbito pedagógico, com a alfabetização na Libras e língua portuguesa, além do ensino de matemática, sempre no contraturno do ensino regular. O CAES realiza acompanhamento junto às escolas e formação com os professores. Hoje, são mais de 50 estudantes atendidos, bem como outras pessoas da comunidade.
“A inclusão, infelizmente, ainda não acontece em diversos lugares. Há, ainda, uma barreira muito grande e, às vezes, com a própria família que tem essa dificuldade de se comunicar com a pessoa surda. A comunidade surda precisa de você. Então, seria muito importante que, nesse dia 26, você pudesse dizer para você mesmo ‘eu vou aprender nem que seja o básico da Língua de Sinais porque eu quero me comunicar com o surdo, eu quero fazer essa mediação'”, declara Michelly Matoso, a coordenadora do CAES.
Atuação da CIL
Outro serviço importante é a Central de Interpretação de Libras (CIL) voltada aos públicos interno e externo, onde a pessoa interessada em ter uma consulta médica, por exemplo, ou outra atividade que precise de interpretação de Libras, pode solicitar um tradutor para acompanhá-la. O serviço também pode ser disponibilizado na modalidade on-line. Na central, chegam a ser atendidas, atualmente, 80 pessoas.
A coordenadora da CIL, Alzira Pinto, explica que central tem o objetivo de promover a sensibilidade na comunicação para as pessoas surdas e deficientes auditivas.
“Se a pessoa surda precisar ir ao hospital em uma consulta médica, ela faz a solicitação de um intérprete de Libras e o intérprete vai até o local para fazer essa intermediação na comunicação. A partir desse momento, ele vai começar a ter informações porque a língua do surdo é a Libras”, relata.
Programação
Para ampliar as ações de divulgação sobre o CAES e a CIL, os centros realizam programação relacionada à campanha Setembro Azul com panfletagem e passeata neste dia 26 de setembro.
Serviço
O CAES e a CIL ficam localizados na Folha 26, próximo à Ordem dos Advogados do Brasil, na Nova Marabá.
A solicitação na CIL deve ser feita com antecedência de, pelo menos, 24 horas ou ainda emergencial, se imprescindível, por meio do telefone (94) 9816-1150.
Texto: Ronaldo Palheta
Fotos: Sara Lopes