Educação: Professoras desenvolvem projeto que conta a história do antigo bairro São Félix
Em 1967, Manoel Alves de Souza mudou-se para Marabá, vindo do Maranhão. Ele é um dos moradores antigos e icônicos do Bairro São Félix, hoje parte dos núcleos urbanos do município.
Remir da Voz, como é conhecido, fez registros de tudo que acontecia no bairro. Fotos, entrevistas, pedidos de ajuda, nota de falecimento. Essa história era passada para comunidade, através de alto-falantes que mantinham a população informada, em outros tempos.
Um pouco dessa história de como era a vida antes da criação da ponte, a nomeação do bairro, a ligação com o padroeiro, as mudanças nas rotinas, entre outras histórias, serão revividas pelos alunos do CEEJA da Escola São Félix Pioneiro. Além do Remir da Voz, outros moradores e arquivos farão parte da pesquisa dos alunos.
O projeto é desenvolvido pelas professoras de Língua Portuguesa, Mirian Leila Ribeiro e de Geografia, Luísa Elena Pinto Pinheiro. “Trocamos informações em relação ao bairro, voltadas para questões dos alunos e o reconhecimento do próprio bairro, da identidade e da história. O que é o bairro para eles?”, explica Luísa Elena.
“Há um vilarejo ali, onde areja um vento bom. Na varanda, quem descansa, vê o horizonte deitar no chão. Pra acalmar o coração, lá o mundo tem razão. Terra de heróis, lares de mãe. Paraíso se mudou para lá. Por cima das casas, cal. Frutas em qualquer quintal. Peitos fartos, filhos fortes, sonhos semeando o mundo real’. Esse é um trecho da música Vilarejo, da cantora Marisa Monte.
Foi essa música que inspirou as professoras a iniciarem o projeto. “Esta música fala de uma forma nostálgica de pessoas guerreiras que sobressaem na vida. Dentro da geografia temos uma categoria que se chama lugar, onde construímos relações e já vim para cá com essa ideia de fazer isso com os alunos”, explica.
Segundo as professoras, os alunos sentem-se marginalizados por morarem em um local mais distante do centro da cidade. “Parece que tudo de bom não acontece aqui, acontece em outro lugar. Do lado de lá. Então é para trazer esse sentimento de conhecer São Félix, que é um bairro na beira do rio, na beira da estrada. Vamos juntar essa construção geográfica com a memória e a construção do espaço”, reforça a professora Luísa Pinheiro.
A ideia é trabalhar em conjunto com outros órgãos. “Vamos falar com a SDU, tentar conseguir os mapas”, explica a professora Mirian Leila. Ela conta também que outras disciplinas devem juntar-se ao projeto. “Na parte de Língua Portuguesa trabalharemos muito essas questões de histórias e memórias. Vamos montar um gráfico para saber como eles vieram para cá, porque a maioria dos alunos veio através dos projetos habitacionais, que são mais recentes. Outros módulos devem se juntar como História”, ressalta.
A pesquisa tem início nesta sexta-feira, 4, com uma discussão em roda viva e deve ser concluída na sexta-feira, 18, antes do feriado de São Félix de Valois, no dia 20. Na ocasião haverá exposição do trabalho dos alunos, aberta à comunidade. A exposição deve ocorrer na Escola Walquise Vianna, pois a Escola São Félix está em obras, mas ainda será confirmado.
“É uma pesquisa importante porque se você procurar pela história do bairro na internet não encontra muita coisa. A maioria dos alunos não conhecem. Eles ficam muito curiosos, fazem perguntas interessantes, até mesmo as crianças”, comentou Manoel Alves de Souza que já participou de algumas atividades em escolas da cidade para falar do trabalho que desenvolve na comunidade.
Desde a década de 70 que ele guarda registros, avisos, notas de falecimento e mais recentemente, com o advento da internet, faz vídeos que ajudam a contar a história do São Félix. “Foram mais de 5 mil avisos feitos. Uns 2 mil ainda tenho guardado os escritos. Pedidos de ajuda, notas de falecimento, registros”, conta. Tudo isso era transmitido pelos alto-falantes para a população.
Ele conta que acompanha os trabalhos da associação desde 1985 e sempre participou das reuniões e assembleias. “Já são 34 anos que falava na voz. Agora gravo os vídeos e posto em minha página do Facebook. Fiz muitas entrevistas com os moradores antigos que já faleceram e cada entrevista conta um pouco da história do bairro”.
Texto: Osvaldo Henriques
Fotos: Aline Nascimento