Semed: Alunos da EJA concluem 2ª etapa na escola Martinho Motta da Silveira
Tirar a tão sonhada carteira de habilitação só se tornou uma realidade na vida de Antônio Ribeiro aos 53 anos, graças ao programa Educação de Jovens e Adultos (EJA), onde aprendeu a ler e escrever, na escola Martinho Motta da Silveira, na Folha 27, Nova Marabá. Ele concluiu a 2ª etapa do programa, que compreende do 1º ao 5º ano, cuja cerimônia de formatura dele e dos colegas de classe foi realizada no hall da escola, nesta quarta-feira (08).
Antônio conta que chegou há 27 anos no Pará, vindo da Paraíba. Atualmente, ele rabalha como pedreiro. Durante a infância e juventude sempre interrompia os estudos por não ter interesse em aprender e por causa da vida difícil trabalhando na roça.
“Aprendi a ler aqui. Foi bom pra mim porque tirei minha carteira de motorista. Hoje sei ler, sei escrever um pouco, sei fazer minhas contas de construção, graças a Deus serviu muito pra mim. Eu fiquei muito alegre porque era meu sonho aprender a ler e escrever. Graças a Deus tirei minha carteira, tenho meu carro, minha casa, minha família, deu tudo certo”, ressalta.
Depois de quase 25 anos, a dona de casa Elizângela Mendes voltou para as salas de aula. Recém-chegada à Marabá, ela procurou uma escola para dar continuidade aos estudos
“Eu parei na quarta série por causa de algumas dificuldades. Voltei a estudar, mas parei de novo e agora estou retornando. É muito importante saber que estou terminando e ano que vem quero poder continuar com a força e garra do Senhor, não quero desistir. Porque, por eu ter desistido, perdi muitas oportunidades na minha vida e hoje digo para meus filhos nunca desistirem. Eu incentivo meus filhos a estudarem e eles vão muito bem na escola. Eu vou até o fim no que puder fazer para terminar meus estudos”, destaca Elizângela.
Ao todo, 52 alunos concluíram a segunda etapa da EJA entre jovens, adultos e idosos. A pandemia impôs desafios para as professoras e alunos que tiveram que se adequar aos novos padrões de ensino à distância.
“Foi um desafio grande para todos. Para eles, que não tem muito essa vivência, foi mais difícil. A ferramenta que eles mais utilizam no cotidiano é o whatsapp, então nossa interação em relação ao ensino-aprendizado foi mais por eles. Não foi fácil para nós professores também, nos depararmos com essa situação e buscar alguma forma de ajudá-los”, pontua a professora Edinalva Andrade.
Grande parte dos estudantes da EJA na escola Martinho Motta da Silveira é composta por idosos que vêem no ambiente escolar uma oportunidade para alfabetização.
Conforme esclarecido por Edinalva, as aulas aconteceram de forma remota com interação por meio de grupos do whatsapp de forma cotidiana com as professoras. Em algumas ocasiões, elas marcavam tutorias presenciais de maneira individual ou em dupla, na escola, onde os alunos buscavam apostilas para o desenvolvimento das atividades.
Com o tempo, os próprios alunos solicitaram o retorno às aulas presenciais, pelo fato de não conseguirem conciliar os afazeres domésticos com os estudos, além do fato de o ambiente escolar ser mais propício para o processo de escolarização e socialização, onde eles trocam ideias e interagem uns com os outros.
A professora Célia Regina Costa atua há sete anos com a EJA. Ela compartilha seu sentimento sobre a importância de dar aula para esse público. “Eles têm uma necessidade maior que, às vezes, é uma coisa bem simples de saber o nome de um ônibus, ler uma etiqueta. Já teve aluno que me disse que se sente cego por olhar muitas coisas e não compreenderem. Para mim é gratificante esse trabalho”, conclui.
A autônoma Cacilene Pantoja acompanhou o esposo, Domingos de Sousa, na cerimônia de formatura. Ela foi a maior incentivadora para que ele concluísse essa etapa dos estudos.
“É muito gratificante. A luta foi muito grande, mas o retorno é maravilhoso, de sentir o prazer de acompanhar ele nessa grande vitória. Ele tinha um pouco de timidez para perguntar sobre as questões, mas com o tempo e ajuda da professora foi se desenvolvendo”, destaca.
Domingos trabalha como pedreiro e passou mais de dez anos sem estudar. “Eu tinha muita vontade de concluir porque sabemos que hoje temos que ter algo para oferecer e agradeço por essa oportunidade. Eu vou levar mais vontade de viver, mais amor porque aprendi com meus amigos aqui. Porque se em cada coração tivesse um pouquinho de amor com o que a gente aprende, o mundo seria muito melhor do que é hoje. A vida continua e enquanto há vida a esperança está junto”, observa.
Atualmente, Marabá tem 392 alunos matriculados na modalidade EJA e 1.647 no Centro Estadual de Educação de Jovens e Adultos (CEEJA). A coordenadora da EJA urbana da Secretaria Municipal de Educação (SEMED), Larissa Alves, traça um panorama do programa no município.
“A EJA é uma política pública e vem se expandindo em nosso município. Temos alunos que estão ingressando no ensino médio e na universidade também. Nós trabalhamos na formação dos professores dessa modalidade para que os alunos tenham um ensino de melhor qualidade, para que possamos alfabetizá-los até que concluam todo esse processo de ensino-aprendizagem deles. A educação é a base dessa transformação”, explica.
Agora, os formados seguem para o CEEJA para realizarem a etapa que compreende entre o 6º e o 9º ano.
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Texto: Ronaldo Palheta
Fotos: Paulo Sérgio