Festejo Junino: Brega é tema da quadrilha Fogo no Rabo
O 36º Festejo Junino de Marabá está se aproximando e as quadrilhas estão empolgadas para a grande festa que movimenta toda a cidade e arredores. A Fogo no Rabo, do bairro Santa Rosa, na Velha Marabá, é uma das juninas mais tradicionais do município e desde abril, logo após a semana santa, ensaia intensamente para as apresentações.
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São três ensaios por semana e à medida que o evento se aproxima eles vão aumentar para cinco semanais, sempre no período da noite para não atrapalhar os estudos, nem o trabalho dos integrantes. Aos finais de semana, geralmente, acontecem apresentações em outros eventos dentro e fora da cidade.
Segundo o coordenador geral, Ademar Gomes Dias, conhecido como Ademar da Santa Rosa, a agenda já está lotada. “Esse ano, já se apresentaram no arraial da Águia de Fogo e do Boi Estrela Dalva, no bairro Liberdade, e na vila São José, no arraial da Coração da Juventude. E no final de semana, vamos dançar no arraial da Levada Louca e mais uma. E ainda têm os convites para apresentações nos municípios vizinhos e escolas”, enumera.
O coordenador conta que a junina de adultos já tem 35 anos e possui 52 pessoas e o marcador, todos com idade acima de 14 anos. Ela iniciou em 1988, de um trabalho social da igreja católica, com a união de dois grupos de jovens, com o nome Barca Furada. Já a mirim surgiu em 1990, completando 33 anos de tradição, agregando mais de 50 integrantes, entre 7 e 13 anos.
Além do cunho cultural, a Fogo no Rabo é um trabalho social que visa atender, em diversos aspectos, as crianças e jovens. “Começamos a trabalhar a questão da cultura para trazer o jovem para poder orientá-lo e livrá-lo da marginalidade e da violência”, ressalta.
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Ademar conta que a quadrilha hoje é uma das mais organizadas, aumentando a diretoria, com o tempo, para atender todas as áreas. “A gente tem diretor na área espiritual, temática, de figurino, coreografia, musicalidade. Tem todos os departamentos e a gente respeita o que a maioria decide”, revela.
Em Marabá, as quadrilhas sempre apresentam temas que são elaborados e executados em consonância com as coreografias e figurinos, um trabalho intenso de pesquisa e experimentações, inclusive com festa de lançamento das roupas e temática, que esse ano é “Brega: meu coração é brega”, para a junina adulta.
“Desde o surgimento, em 1988, em todos os arraiais, quando passa as musicalidades de quadrilha, sempre tem a questão do brega. E como o nosso pessoal gosta muito de dançar brega, costumam até disputar competições, foi unânime e a aceitação foi 100%”, pontua o coordenador.
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A temática escolhida para a quadrilha mirim foi “ABC: toda criança tem que ler e escrever”, que reúne músicas de cantigas de roda, que são brincadeiras infantis dos anos 80 e 90. “A Fogo no Rabo mirim tem essa questão social de envolver a criança na questão cultural, porém, ensinando os valores familiares que estão se perdendo, infelizmente. A questão dos afazeres em casa, para ajudar a mamãe. A questão de tirar notas boas na escola. Se não tirar notas boas, fica impossibilitada de dançar. Precisa ser aprovada no final do ano, se não, não dança no ano seguinte. É uma forma da gente motivar eles”, elucida.
Em relação aos figurinos, a cor escolhida para as crianças será o azul e branco, com toques coloridos. Já dos adultos, a cor predominante é o preto, em alusão ao estilo musical brega, que é muito usado pela cantora Joelma e por ser uma cor mais elegante.
Ademar relata que as dificuldades são imensas, pois um figurino custa em torno de R$ 2.000,00. Somente os acessórios femininos ficarão em torno de R$ 500,00 para cada dama, mas a comunidade abraça a causa, fazendo diversas promoções e eventos para arrecadação de fundos. “Dia 21, teremos a nossa feijoada e todos os ingredientes é a comunidade que doa, juntamente com os integrantes para a gente pagar esse figurino”, completa.
Toda a família de Ademar é envolvida na coordenação das quadrilhas mirim e adulta. Uma das irmãs dele, Clarisse Dias, é secretária da junina e auxiliar na quadrilha mirim há quatro anos. Ela sempre fez parte do grupo, desde os 8 anos, inclusive como dançarina. Agora até a neta faz parte. “Desde a fundação, era criança e já dançava. Era a última, no tempo que ainda era Barca Furada. Aí surgiu a mirim, dancei na mirim, depois fui para a de adulto. Hoje são meus filhos que dançam, e a minha neta, que é a mascote”, afirma.
Os filhos de Clarisse também participam da área de comunicação do grupo. O filho mais velho é o designer gráfico e faz parte da equipe de transmissão e redes sociais. Clarisse fica com a parte de comunicação com as mães para divulgar ensaios, viagens, figurinos, além de todo um ensino de disciplina, comportamento e religiosidade.
“Todos têm que fazer catequese. Isso é muito importante e a gente exige muito isso deles, porque sem Deus não somos nada. Quando eles chegam no ensaio, já é dando benção para todos nós, porque aqui a gente ensina, não é só a questão da dança. E eles serem sempre muito felizes, porque isso é o mais importante. E tem a recompensa. É muito gratificante quando a gente vê o sorriso deles na quadra, dançando”, elucida.
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A auxiliar administrativo Taiza Gomes, de 34 anos, já foi dançarina na quadrilha mirim e adulta e hoje acompanha os dois filhos, Thaisson Gomes da Silva, de 11 anos, e Aylla Manuelly Gomes Costa, de 5 anos.
“Hoje já não danço mais, mas os meus dois filhos estão com esse cargo no meu lugar. O Thaisson já dança desde os três anos e a Aylla Manuelly também começou com três anos. Quando voltou os festejos, ela engatou e já começou a dançar. Eu costumo dizer que são quadrilheiros desde o ventre, porque quando eu engravidei deles, eu e o pai deles já dançávamos. Eu costumo dizer que eles são frutos de uma noite de São João”, brinca.
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O adolescente Wendel Monteiro, de 17 anos, já dançou no bloco de carnaval da Fogo no Rabo, foi integrante da quadrilha mirim e, desde o ano passado, faz parte da junina adulta. “A expectativa para a apresentação desse ano é muito grande. Com um tema desse, a gente fica com a autoestima lá em cima. Estou empolgado demais. Gostei muito desse tema, estilo paraense, é do nosso Pará, aí a gente está lá em cima. A gente vai trazer a torcida para a gente”, comemora.
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Outro que está bastante empolgado para as apresentações é Hugo Rodrigues, de 19 anos. Ele é esposo de uma das dançarinas, que tem a família toda de quadrilheiros.
“Entrei para a quadrilha há uns dois ou três anos. A quadrilha ensina muito sobre família, união e paz, e eu já conhecia a Gisele desde a escola, mas foi na quadrilha que rolou o clima e a gente se juntou. Hoje temos um filho de cinco meses, que já fica aqui pelo meio, e ano que vem já vai embalar também. Só tenho a agradecer a Deus por ter encontrado essa família. Fico lisonjeado e é muito gratificante pra mim”, agradece.
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Ao longo dos anos, a quadrilha coleciona dez títulos municipais, 24 títulos intermunicipais e dois estaduais.
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Texto: Fabiana Costa
Fotos: Sara Lopes