Educação: Escola Irmã Adelaide Molinari, na Vila Sororó, ganha prêmio nacional com projeto teatral
A arte promove infinitas possibilidades de utilização em práticas de ensino e aprendizagem e permite que os professores ofereçam novas formas de apreensão de conhecimento aos alunos. Foi por meio do recurso artístico, que fez a professora de artes Socorro Camelo, da escola municipal Irmã Adelaide Molinari, na Vila Sororó, distante cerca de 35 quilômetros da sede de Marabá, desenvolveu um projeto vencedor do 23° Prêmio Arte na Escola Cidadã, promovido pelo Instituto Arte na Escola, cujo resultado foi divulgado na semana passada.
O Projeto Teatral Canoeiros e Canoeiras das Palavras: Construção Cênica “O menino que ouvia estrelas e se sonhava canoeiro”, desenvolvido pela professora Socorro Camelo, envolveu quatro turmas do 5º ano do ensino fundamental dos dois turnos, durante quase dois meses. Toda a produção foi realizada no retorno presencial das aulas, no ano passado.
O projeto venceu a categoria voltada para o Ensino Fundamental I. O prêmio visa incentivar cerca de 500 mil professores de artes do Brasil e dar visibilidade a projetos que garantam mais cidadania a alunos e comunidades. O instituto é sediado em São Paulo, com um polo em Marabá.
O projeto da professora Socorro Camelo inicialmente foi selecionado entre os 100 melhores trabalhos do país com cerca de 1000 iniciativas inscritas. Logo após, foi avaliado por uma equipe do polo local do instituto passando para a etapa regional, onde projetos da região norte foram selecionados para a etapa nacional. Foi o único do Pará a alcançar essa marca, indo para a final e vencendo em sua categoria. A premiação foi divulgada por meio de uma live pelo Youtube.
A escola Irmã Adelaide Molinari ganhou um certificado e a professora Socorro Camelo, além do certificado, recebeu uma premiação em dinheiro. A escola também receberá, agora no segundo semestre de 2022, uma equipe do Instituto Arte na Escola, que fará um documentário sobre o trabalho realizado com os alunos.
Durante o período de preparação da apresentação teatral, os estudantes participaram ativamente da produção, elaboração de cenários e figurinos, além da atuação, adaptação pela professora da obra “O menino que ouvia estrelas e se sonhava canoeiro”, do professor, poeta e contador de histórias paraense Antônio Juraci Siqueira, que autorizou a adaptação da literatura de cordel.
“Esse projeto teve o intuito de promover, proporcionar não só uma linguagem teatral, mas também uma linguagem literária, através desta obra, que foi adaptada. Eu pedi autorização do autor, transformei em uma peça teatral e iniciou o processo de construção cênica, onde os próprios alunos trabalhavam o elenco, outros trabalhavam figurino, trabalhavam cenário. Toda a construção foi realizada pelos próprios alunos”, explica Socorro Camelo, que buscou um projeto que envolvesse diversas linguagens artísticas.
O espetáculo foi apresentado no dia 14 de dezembro de 2021, no último dia letivo do ano. Além de todo empenho dos alunos, contou com o apoio dos pais, o que envolveu a comunidade escolar. Para uma cena da apresentação, o pai de um aluno, que é professor de música, ajudou os estudantes a ensaiar flauta para a construção da cena, por exemplo.
“Eles abraçaram o projeto. Eles se envolveram muito. Então, eu costumo dizer que eu fui mais uma mediadora, porque quem realizou, realmente, o projeto foram os alunos, tanto na parte de buscar materiais que a escola não tinha. Então, a gente foi em busca de materiais alternativos para montar cenário, para construir figurinos. Teve toda a participação, não só dos alunos, mas também dos pais dos alunos”, pontua a professora.
A obra de Antonio Juraci Siqueira venceu, em 2010, o Prêmio do Instituto de Artes do Pará, na categoria Literatura de Cordel. É uma autobiografia em que o autor conta sobre sonhos da infância de ser canoeiro até que se torna um canoeiro das palavras.
A professora e os alunos fizeram o convite por meio de vídeo para que o autor estivesse presente na apresentação, mas por causa do trabalho ele não pôde participar. No dia da apresentação, Juraci Siqueira enviou um vídeo que foi apresentado à comunidade escolar.
O escritor paraense, nascido em Afuá, na ilha do Marajó, comenta a alegria em ter a obra dele representada em um projeto tão importante para a educação, reconhecido nacionalmente.
“A vitória em si já seria motivo de imensa alegria para mim, pois, além de escritor e contador de histórias, também sou professor. Esse é o resultado da importância de projetos pedagógicos, que levam a arte para dentro das salas de aulas, ação tão salutar quanto necessária para a educação artística e cultural de nossas crianças jovens e adultos. Não me canso de falar que as professoras e professores são os nossos grandes aliados por divulgarem nossas obras entre seus alunos. A esses abnegados incentivadores da arte na escola, na pessoa da querida professora Socorro Camelo, eu tiro o meu chapéu em reverência, gratidão, respeito e carinho”, ressalta.
Para a professora Socorro Camelo, ações como o projeto teatral são importantes porque mostram que a arte é significativa para trabalhar as diversas linguagens. Neste projeto foi trabalhado com os alunos além do fazer teatral, a literatura amazônica, o cordel e a realidade local vivida pelo personagem da obra apresentada.
“A arte fortalece o ensino e desabrocha outras atividades dos alunos porque, como eu trabalhei o projeto numa linguagem interdisciplinar, os alunos não ficaram presos só ao texto; aqueles que não tinham habilidade para atuar foram na parte cênica. O painel que foi construído para o cenário foram os próprios alunos que produziram com as ilustrações a partir do livro”, explica.
A professora ainda ressalta a importância de ter sido uma escola do campo a receber o prêmio. “Enfim, foi uma escola do campo, foram os meninos de uma escola do campo, que vivem em comunidade que chegaram na final e ganharam um prêmio nacional; que eles vão ser de uma certa forma eternizados porque vai ficar o documentário no instituto. O campo tem movimento. O campo está sempre em movimento, tem ações, tem meninos talentosos, tem vida”, destaca.
Após oito anos como professora da rede municipal e, nesse período, dois anos na escola Irmã Adelaide Molinari, agora Socorro Camelo atua na formação continuada de professores de arte nas salas de leitura junto à Secretaria Municipal de Educação de Marabá (Semed).
“Eu estou hoje trabalhando como formadora nas salas de leitura e eu espero contribuir para que esse fazer teatral também aconteça em outras escolas do campo. Que esse projeto inspire outras escolas, outros professores a realizarem esse trabalho e que outros professores também tenham coragem de se inscrever para as próximas edições do prêmio”, conclui.
Texto: Ronaldo Palheta
Fotos: Ascom PMM / Arquivo pessoal