FCCM: Projeto Sarã realiza audiência pública com comunidades próximas à Vila Espírito Santo
Entre os objetivos inclui-se a ampliação das ações de conscientização ambiental e promoção do turismo sustentável na região, envolvendo comunidade local e visitantes
A erosão nas margens de rios como resultado do desmatamento nessas áreas é uma das principais preocupações do Projeto Sarã, da Fundação Casa da Cultura de Marabá, que existe desde 2018 e que na manhã desta sexta-feira, 30, realizou mais uma audiência pública com moradores, barqueiros e donos de bares e restaurantes das comunidades ribeirinhas próximas à Vila Espírito Santo.
O projeto busca também empreender e amplificar ações de conscientização ambiental e promover o turismo sustentável na região, envolvendo a comunidade local e os visitantes. O nome do projeto é uma referência às raízes das árvores que sobressaem ao solo nas margens dos rios e que são essenciais para evitar a erosão das encostas dos rios.
O desmatamento nessas áreas reverbera em outros problemas como o desaparecimento de ilhas e praias ao longo dos rios da região e essa preocupação resultou no Projeto Sarã.
“O projeto traz essa consciência, que as pessoas percebam a importância que o sarã tem para preservar as ilhas para as gerações futuras. Já fizemos reuniões na vila, ações nas ilhas, reunião no Ministério Público. Além da recomposição da mata ciliar, nós atuamos na enchente, trouxemos a Defesa Civil para cadastrar o pessoal das ilhas para que pudessem ser contemplados pela assistência do governo”, ressalta Vanda Américo, Presidente da Fundação Casa da Cultura de Marabá (FCCM).
O projeto conta com inúmeras parcerias, entre elas o Ministério Público, por meio da Promotoria do Meio Ambiente e o Poder Judiciário, por meio da 1ª Vara Criminal de Marabá. A titular da Vara Criminal, Juíza Renata Guerreiro Milhomem de Souza, esteve presente na reunião.
A magistrada afirma que a parceria tem por objetivo orientar e prevenir quanto a possíveis crimes ambientais, mas se for necessário, as sanções e punições serão aplicadas. Para ela, é imprescindível a parceria institucional entre os diferentes órgãos para a promoção da consciência ambiental e, assim, mostrar que o desenvolvimento socioambiental é factível.
O Poder Judiciário acaba recebendo o resultado negativo dessa exploração ambiental que degrada, na medida em que quem degrada acaba praticando crimes ambientais. A nossa postura aqui é exatamente trazer essa informação jurídica, essa orientação para prevenir que esses crimes ambientais ocorram. Eu tenho acesso à informação, sou bem orientado, logo eu sei o que fazer, não vou praticar nenhum tipo de contravenção, de crime e vou, então, ter uma vivência com o judiciário de parceria, orientação e não de punição”, explica a juíza.
As ações do Projeto Sarã acontecem ao longo do ano, atuando no reflorestamento das margens dos rios, capacitação da comunidade para a devida orientação aos turistas durante o período de veraneio e campanhas para evitar o descarte de lixo nos rios. O projeto também já realizou o georreferenciamento da região.
Nesse sentido, o projeto foi importante ao regularizar a situação da Associação de Barqueiros da Vila Espírito Santo e a ação do Projeto Gari dos Rios, que conta com moradores da região remunerados, que realiza a coleta dos resíduos das águas.
Maria Auxiliadora Rodrigues mora há 18 anos em uma das ilhas da região. Ela compartilha que áreas degradas foram recuperadas após a chegada do Projeto Sarã, assim como as praias ficaram mais limpas, em uma parceria da comunidade com o projeto.
“O projeto para nós, aqui da região, é muito importante; nos ajudou muito a manter a natureza como ela é, intacta. São muitas orientações que a gente recebe e que colocamos em prática. A limpeza das praias também é do Projeto Sarã. Nas áreas que foram degradadas nós recebemos mudas para replantar, reflorestar. São muitas oportunidades que o projeto nos traz. A gente mantém tudo limpo. Os animais do rio sadios e isso é muito bom porque a maioria aqui vive da pesca”, declara.
Quem também participou da reunião foi a assistente de regulação, Ciramar Rocha, que mora em uma das ilhas há cinco anos. Ela é uma das moradoras mais ativas no projeto no que diz respeito a orientar vizinhos e turistas quanto aos cuidados com o meio ambiente.
“Eu vejo que melhorou bastante para todos nós moradores. É muito importante esse projeto, que vai nos ajudar com a preservação e como agora tem a iniciativa de ir para as escolas orientar as crianças, isso aí vai ser bom demais para preservar”, comenta.
Além de levar o debate para as escolas da região, o Projeto Sarã também buscou parceria com a Secretaria Municipal de Agricultura (Seagri) para viabilizar sistemas de irrigação para os moradores que trabalham com agricultura nas ilhas, além do planejamento de outras ações como a produção de mudas para ajudar no reflorestamento e plantio para produção caso haja necessidade.
Lorena Florêncio é Agrônoma e representou a Seagri na reunião. Ela compartilha que além dos sistemas de irrigação, a secretaria também disponibilizará o departamento de assistência técnica para a comunidade.
“A gente entende a importância do Projeto Sarã e estamos aqui para dar todo suporte que eles puderem precisar, de acordo com as nossas limitações. O maior suporte que podemos dar hoje é a assistência técnica. A gente disponibiliza os técnicos para ajudarem eles e a gente entende que para a produção da agricultura é muito importante a água. A gente sabe que nosso período de seca afeta a proteção e a nossa secretaria está aqui para dar esse apoio”, explana.
Na ocasião também foram entregues 14 Cadastros Ambientais Rurais (CAR) emitidos pela Emater Pará – Empresa Pública de Assistência Técnica e Extensão Rural. Uma das funções do cadastro é incluir a propriedade em um moderno sistema de vigilância por satélite que realiza o monitoramento da área a fim de constatar qualquer tipo de degradação e orientar em relação a ações que devem ser executadas.
“Agora a gente vai fazer a questão do monitoramento efetivamente através de imagem de satélite. Se inicia um processo dentro da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e os compromissos que estão no CAR serão efetivamente implementados para as pessoas que estão dentro desses lotes”, destaca Donner Matos, engenheiro florestal da Emater.
Após a reunião, alguns participantes deram uma volta de barco a fim de ver como estão as matas ciliares e conhecer algumas ilhas, como a da Joana Batista, que mora na região há 30 anos.
“Depois do Projeto Sarã, que a gente tem muita conversa, muita explicação, muita orientação, a gente está achando que está diminuindo a erosão. Foi muito importante o Sarã para a gente ter conhecimento, que antigamente a gente não tinha. Aqui na ilha diminuiu bastante a erosão”, relata a moradora.
Vanda Américo reitera que o foco do projeto não é apenas conscientizar moradores e donos de bares e restaurantes a respeito dos cuidados básicos com o meio ambiente como não jogar lixo no rio ou desmatar, mas também alertar os turistas, visitantes e pessoas que acampam para também fazerem sua parte.
“Vamos respeitar a natureza. Se você levou seu lixo, leve para casa de volta. Não seja um turista sujo e procure contribuir para ajudar o planeta. O povo gosta de turismo limpo, espaço limpo. Onde tem limpeza, tem saúde. Aqui a gente está mantendo essa região limpa, mas a gente quer o turista que venha para cá com essa consciência, com essa responsabilidade, de manter as nossas praias limpas, de não jogar lixo nos rios”, reforça Vanda Américo.
Texto: Ronaldo Palheta
Fotos: Paulo Sergio Santos