Festejo Junino: Cordão de Pássaro e apresentações das campeãs marcam última noite da festa
O encerramento da programação do 36º Festejo Junino de Marabá reuniu milhares de pessoas, que acompanharam apresentações especiais e das cinco juninas mais bem posicionadas na competição. A última noite contou ainda com homenagem e a entrega dos troféus às primeiras colocadas.
A abertura ficou com a participação especial do Grupo Junino Estrela da Noite, do Projeto de Assentamento Grande Vitória, no KM 21. A junina existe há 23 anos e tem 12 pares entre crianças e adolescentes.
A marcadora Carlene Oliveira destacou a importância de haver um espaço de fortalecimento e incentivo às iniciativas culturais juninas da zona rural do município. Para ela, é imprescindível levar o grupo para a arena como forma de mostrar que a tradição segue viva.
“A emoção é muito grande não só para mim, mas em ver essas crianças e jovens vindo em um espaço tão bonito como esse. Por isso, eu abraço o projeto e tenho uma grande satisfação em trazer eles aqui, porque eu gosto de ver o brilho nos olhos deles. As chamas de São João acendem nos olhos deles e nos meus quando estamos aqui e isso que me eleva, que me motiva a não desistir de um projeto bonito como esse. A gente não quer competição, quer mostrar o trabalho, quer incentivar. Hoje é tão difícil ainda encontrar jovem que gosta de dançar junina, porém esses pequenos projetos incentivam eles. E, quem sabe, na frente não serão grandes dançarinos, grandes representantes de Marabá?!”, ressalta.
A noite também contou com a apresentação da campeã do Rainha da Diversidade, Katerine Bardon, que reapresentou a performance, tendo como enredo a personagem central da música Geni e o Zepelim, de Chico Buarque.
E muito além do incentivo, o Festejo Junino é importante para resgatar práticas culturais esquecidas pelo tempo. A segunda apresentação da noite foi do Cordão do Pássaro Rouxinol. Fruto da cultura popular do Japão, a história foi trazida para o Pará por meio da imigração japonesa, no final da década de 1920.
O espetáculo conta a saga do pássaro, misturando música, canto, dança e teatro em uma trama que envolve personagens como caçador, cigana e cangaceiro. Na época, havia também o Cordão da arara, tucano e beija-flor. A manifestação cultural seguiu até os anos 1970.
Desde 2019, há o projeto de retorno do espetáculo, que se consolidou em 2022. Além do resgate do Cordão de Pássaro, a soltura de todas as aves presas em gaiolas é uma das mensagens principais da apresentação.
“O Rouxinol é para nós a cultura mais rica de Marabá, que envolve canto, dança, música e teatro e foi vivenciada muitos anos atrás e a gente resolveu resgatar porque Marabá é um berço da cultura. Você pode ver aí os Bois-Bumbás, as quadrilhas juninas e outras coisas mais, outras vertentes das artes que realmente colocam Marabá como um berço da cultura da região norte”, comenta Manoel Reis, o Mestre dos Reis, um dos idealizadores da volta do Cordão de Pássaro.
Na ocasião, Raimundo Coelho de Souza, de 78 anos, e um dos resgatadores do Cordão de Pássaro, recebeu uma homenagem de Honra ao Mérito da Secretaria Municipal de Cultura de Marabá (Secult) pelas importantes contribuições às práticas culturais do município.
Ele conta que, em 2019, o Mestre Zequinha entrou em contato com ele para retornarem com o Cordão. A partir daí, outras pessoas se juntaram ao grupo.
“Muito prazer em receber, grande honra. Eu não estava esperando, mas agora aconteceu. Eu fico muito feliz de contar com esse pessoal, de nós resgatarmos uma brincadeira que estava quase esquecida. O pessoal cobrava e eu dizia ‘um dia, nós vamos realizar’. Um dia, o Mestre Zequinha me convidou e perguntou se a gente sabia o enredo do rouxinol, eu disse que sabia. Então, ele perguntou se queríamos resgatar e eu disse que era um bom projeto. Nós convidamos o Mestre dos Reis, Terezinha Maravilha, Ana Luiza. Quando foi em 2022, nós colocamos para frente com ajuda do Zé do Boi, Soraia e mais outros. Para mim, é uma grande honra ter resgatado essa brincadeira popular”, declara o mestre de cultura.
Top 5 do Grupo A
A apresentação das campeãs iniciou pela quinta colocada, a Balão de Chita, do núcleo São Félix. Com o tema “Entre profecias, conflitos e concórdias: o acordo junino”, a junina retratou a história de duas famílias do sertão, que viviam em conflito, mas que encontraram no amor o fim das discórdias.
A junina trouxe efeitos especiais e um canto forte. Um dos ápices da apresentação foi a saída da rainha de dentro de um grande balão, cuja abertura era automatizada.
Já a quarta colocada, Splendor Junino, levou bastante brilho para a arena com o enredo “Cara ou coroa, sertão, oh terra boa”. Em cores, predominantemente laranja e verde, a junina buscou desconstruir a ideia de que o sertão só tem fome e seca, mas sim, é uma região complexa que tem as próprias batalhas e modos de viver.
A Arrastão do Amor, terceira colocada, contou um pouco de um doce pra lá de raiz, da cultura nordestina. Em 2005, uma empresa alemã tentou patentear a rapadura. O enredo gerou o tema “A rapadura é nossa”.
Nos figurinos, representações dos canaviais resultam no açúcar com que é feito o doce, colheres de pau na hora de mexer o tacho e teatro para explicar o processo de resistência do povo nordestino, diante da tentativa de usurparem algo que é seu.
A apresentação teve ainda troca de figurinos, elevador para os noivos e o xaxado para os cangaceiros, que deram um show à parte com a coreografia.
“Todos os anos, quando a gente pensa em um trabalho, executa um trabalho, sempre é para mirar as primeiras colocações. Graças a Deus, conseguimos chegar no pódio. O trabalho foi merecido. Eu acredito que a gente se dedicou bastante e tudo dentro da possibilidade. Acontecem erros, acertos, então, agente está sempre disposto a contribuir e aprender. Foi maravilhoso. Estamos satisfeitos com o resultado. Que seja assim sempre”, destaca Will Alencar, marcador da Arrastão do Amor.
O público pôde cantar e dançar todas as variações do ritmo brega, com a vice-campeã Fogo no Rabo, do bairro Santa Rosa. A junina incendiou a arena, transformando-a em uma verdadeira festa de aparelhagem.
Com o tema “Meu coração é brega: o importante é ser feliz”, a junina levou para a arena diversos sucessos e vertentes do brega, o ritmo paraense. Bandas como Fruto Sensual, Calypso e Companhia do Calypso tiveram os grandes sucessos coreografados, assim como músicas marcantes das últimas décadas, como Ao pôr do sol, de Ted Max; Traficante do amor, de Wanderley Andrade; Profisisonal papudinho, de Roberto Villar; Baby, Baby, de Adilson Ribeiro; Itamaraty e Está no ar, da banda Fruto Sensual; Ouro negro, de Marquinho Pará e Banda Skema Dance; e Meu coração é brega, de Fafá de Belém, além de outros sucessos da música paraense.
A Fogo no Rabo apresentou uma dramatização, que contou a história de uma banda que queria retornar aos palcos. Entre coreografias roceiras e estilizadas a junina buscou desenvolver o enredo com o marcador sendo o DJ da aparelhagem e efeitos de pirotecnia, que não podem faltar.
No início da apresentação, o coordenador da Fogo no Rabo, Ademar Gomes, conhecido como Ademar da Santa Rosa, fez um forte discurso sobre a importância da participação e incentivo a todos os grupos culturais que se apresentaram durante as nove noites do Festejo Junino. Ele pontua o sentimento de felicidade por estar no pódio mais um ano e a grandeza da festa.
“Parabenizar a Prefeitura de Marabá, a Secretaria de Cultura, a todas as pessoas envolvidas no melhor festejo junino do Brasil, que é Marabá. Estou muito emocionado, feliz demais. Você não tem noção o tanto que nós estamos felizes, a Junina Fogo no Rabo, por mais uma vez estar no pódio, por mais uma vez levar alegria através da cultura, que é o nosso principal objetivo”, celebra.
A última apresentação da noite foi da grande campeã Fuá da Conceição, que levou o título pela primeira vez, apresentando como tema “Parece mágica: nos embalos do Forró 2000”, uma homenagem ao ritmo que fez grande sucesso na primeira década do século por meio de bandas como Calcinha Preta, Mastruz com Leite, Cavaleiros do Forró, Aviões do Forró e Limão com Mel.
A apresentação também rendeu homenagens póstumas às cantoras Paulinha Abelha, que foi vocalista da Calcinha Preta, e Rita de Cássia, compositora do sucesso “Meu vaqueiro, meu peão”, um dos maiores nomes femininos do gênero.
A história contada na apresentação retratou um amor de infância de um casal que cresceu junto, mas que por causa dos estudos, tiveram que se separar. Anos depois, ele retorna à cidade e o amor entre os dois aflora novamente.
As coreografias bem sincronizadas, os fogos e pirotecnias deram o tom da apresentação. O marcador Anderson Alves relembra a trajetória da junina até alcançar o título e celebra o sentimento de felicidade.
“O sentimento é de muita gratidão. Foram nove anos de luta, várias vezes batemos na trave e agora a gente vem com esse tema maravilhoso, que ressalta o Forró 2000. É um tema tipicamente junino, que a gente trouxe para as arenas. A gente tem que agradecer por isso e agora ganhar na nossa casa esses prêmios. A gente ficou muito feliz de verdade”, comemora.
A premiação das primeiras colocadas aconteceu durante as apresentações, com a entrega dos troféus realizada pelo prefeito de Marabá, Tião Miranda, pelo vice-prefeito, Luciano Dias e por Genival Crescêncio, Secretário de Cultura.
Na Praça de Alimentação, as apresentações musicais ficaram por conta do DJ Marcos, Júnior Ceceu e Charles do Arraiá e Banda.
A dentista Hingrid Sarrazin é de Santarém e mora em Marabá há três anos. Este foi o primeiro ano que ela participou do festejo. Mesmo sendo o primeiro dia que ela foi, gostou bastante da programação.
“Tem muita gente e está muito legal. Muitas barracas, a gente fica sem saber o que comer e o DJ Marcos está arrasando. Eu acho muito importante para toda a população de Marabá, principalmente a população carente. Imagina se fosse pago para entrar, muita gente não viria. Então, pelo fato de ser de graça, o povo vem, tem curiosidade de saber e tem gente que não tem acesso a muitos eventos culturais e esse é um evento muito grande, muito cultural mesmo, rico em cultura para toda a população marabaense”, declara.
Texto: Ronaldo Palheta
Fotos: Sara Lopes e Jordão Nunes