Gestão em Saúde: Unidades Básicas de Saúde de Marabá disponibilizam diagnóstico e tratamento gratuito de Hanseníase
UBS oferecem suporte aos pacientes desde o período do diagnóstico ao período de tratamento. O município de Marabá disponibiliza cestas básicas com alimentos integrais nutritivos que melhoram a imunidade dos portadores de hanseníase.
Dados preliminares do Ministério da Saúde apontam que em 2022, mais de 17 mil novos casos de hanseníase foram diagnosticados no Brasil. Em 2021, o número de registros alcançou 18 mil casos, com 11,2% dos pacientes considerados como grau 2 de incapacidade física — quando são identificadas lesões consideradas graves nos olhos, mãos e pés.
A doença tem cura e o tratamento está disponível na rede pública de saúde, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Em Marabá, as Unidades Básicas de Saúde (UBS) dão todo o suporte necessário aos pacientes, desde o diagnóstico até o tratamento.
O primeiro passo é o diagnóstico. Ao primeiro sinal, que são manchas esbranquiçadas, amarronzadas, acastanhadas e alteração de sensibilidade na pele, o paciente pode ir até uma UBS fazer o teste ou um Agente Comunitário de Saúde (ACS) verifica em campo, nas visitas domiciliares.
A coordenadora de Doenças Crônicas da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Lília Moura, explica como funciona o fluxo.
“Cada unidade tem um fluxo próprio, porém o paciente pode ser verificado pelo ACS em campo mesmo, em sua área. Esse paciente vai ser encaminhado à unidade para fazer a avaliação dermatoneurológica pelo enfermeiro. Ele faz a avaliação e dependendo do resultado, ele já inicia o tratamento”.
Lorena Ferreira, enfermeira da Unidade Básica de Saúde Demósthenes Azevedo, na Marabá Pioneira, explica que o diagnóstico da hanseníase é feito através da avaliação do aparecimento das manchas, de perda de função e alteração da marcha (modo de andar).
“A mão pode ficar em formato de garra. Os testes são clínicos e dependem muito do profissional que avalia com o teste dermatoneurológico, que é determinante para o diagnóstico. A suspeita da hanseníase ocorre quando o bacilo começa a afetar a coloração da pele e surgem as manchas esbranquiçadas. Os pacientes vêm por livre demanda ou encaminhados por outros profissionais que avaliaram e suspeitaram. Pode ser enfermeiro, médico clínico geral ou dermatologistas. Alguns já vêm com o encaminhamento para início de tratamento”, comenta.
Segundo Lília, as UBS possuem o teste rápido de contatos de hanseníase, que é um teste para quem teve convivência com uma pessoa portadora da doença.
“Por exemplo, uma criança que teve contato intradomiciliar com outra criança que tem a doença. Esse paciente vai ser beneficiado por esse teste rápido, onde coleta-se um pouco de sangue do paciente e coloca no teste, que pode dar negativo ou positivo. Esse teste é um auxiliar do diagnóstico, ele não é para diagnóstico. A gente sabe que até hoje o diagnóstico de hanseníase ainda é clínico. Por mais que seja positivo no teste rápido, mas ele não tenha nenhum sintoma, foi descartado o diagnóstico primeiramente lá no exame dermatoneurológico, aí eu não vou fazer o tratamento. Eu vou manter a vigilância desse paciente”.
Lorena explica que existem diversos tipos de graus da Hanseníase e o que muda é o tempo de tratamento. “Hoje em dia é o mesmo tratamento. O que diferencia é se vai tratar seis meses ou um ano. E aí há as formas mais graves, no caso da virchowiana, o paciente fica com face leonina, ele tem infiltração, pode ter perda de septo nasal, infiltração na região das orelhas e o mais perigoso são as lesões incapacitantes, como perder a marcha, a forma de andar, a função do tato da mão, a mão pode ficar no formato de garra. Por isso é importante o diagnóstico precoce”, frisa.
Todos os pacientes são monitorados mensalmente pela equipe da UBS onde o paciente faz tratamento. O tratamento é realizado através de antibióticos em formato de cápsulas e comprimidos, tomados todos os dias. Quando um paciente inicia o tratamento, todos que moram na casa, que têm contato, são vacinados com a BCG e durante cinco anos, o paciente e os contatos são monitorados. Uma vez iniciado o tratamento, em apenas 4 dias, a pessoa não transmite mais a doença.
O diagnóstico de cura também é feito por meio do teste dermatoneurológico. “O paciente faz o teste dermatoneurológico no início do tratamento, na metade e no final. O diagnóstico de cura é um diagnóstico médico. Nós enfermeiros informamos o número de doses que esse paciente tomou e isto auxilia o médico a avaliar e dar esse diagnóstico”, informa a enfermeira.
Para garantir que as pessoas não abandonem o tratamento, o município dispõe de uma cesta básica de alimentos para os pacientes, instituída por meio da Lei nº 17.915, assinada em julho de 2019 pela Prefeitura de Marabá. A parceria com a Nippon Foundation existe desde 2016, através do Ministério da Saúde, injetando recursos financeiros para análise dos dados sobre hanseníase, capacitação de profissionais e monitoramento e orientação sobre a doença.
“Nós temos a Lei nº 17 .915, de 1º de julho de 2019, que dispõe sobre a concessão de cestas básicas aos pacientes portadores de hanseníase no município de Marabá. Se o tratamento for de 6 meses, eles vão ter o direito por 6 meses. Se for 12 meses, eles terão o direito por 12 meses de receber essa cesta básica. Essa lei foi instituída pelo prefeito Tião Miranda para ajudar esses pacientes”, explana Lília.
Lilia conta que nos últimos três meses foram distribuídas cerca de 80 cestas básicas. Atualmente, existem 72 pacientes ativos, ou seja, cadastrados no sistema de saúde, e todos foram beneficiados.
“Cada paciente tem direito a receber uma cesta básica. Ela foi pensada para a questão nutricional, então é mais voltada para alimentos integrais, por causa da nutrição e para melhorar a imunidade. A gente inclui ovos, azeite, no lugar da margarina tem a manteiga, porque tem que ter uma redução da questão da gordura”, explana.
Um desses pacientes beneficiados é o estudante João Felipe Carneiro, 10 anos, que foi com a mãe buscar a cesta mensal na UBS Demósthenes Azevedo. Ele conviveu com a doença por um ano. “O que eu mais gosto na cesta é o óleo, leite e farinha de trigo, porque com eles eu posso fazer bolo”.
A mãe de João, a diarista F. Carneiro, conta que o filho contraiu a doença do pai, hoje falecido, e só depois de 10 anos descobriu que ele também era portador da Hanseníase.
“Veio aparecer agora, depois de 10 anos. Começou a aparecer a mancha nele e eu trouxe ele aqui no postinho. Quando ele veio já estava bem avançada. O tratamento aqui é muito bom. Agora já acabou, porque completou um ano. Ele fez o exame e já está tudo bem”.
Quanto à cesta básica, a diarista agradece a ajuda e diz que alimenta todos os filhos. “Essa cesta ajuda muito. Eu dou para ele, mas eu divido para os meninos também. Vai ovo, café, macarrão, arroz, feijão, azeite. Ajuda meu filho a comer bem, para ficar curado. É bom demais”, elogia.
Outra UBS que dá assistência para pessoas com hanseníase é a unidade do bairro Laranjeiras. Hoje são acompanhados seis pacientes no tratamento da doença e eles também recebem a cesta básica fornecida pela Prefeitura Municipal de Marabá.
O gerente da UBS Laranjeiras, Fábio Oliveira, afirma que o tratamento pode durar de seis meses a um ano e todos recebem a cesta mensalmente.
“Nesse período, os usuários recebem essas cestas básicas, que são fornecidas para a Saúde, através de um programa. Então essas seis pessoas também recebem essas cestas básicas, como um subsídio, pela questão do tratamento. Esses pacientes são de baixa renda, o recurso é pouco, e com esse problema de saúde, a reclusão se torna maior ainda. Eles vêm aqui mensalmente pegar essa cesta e fazer o tratamento. Assim como têm que apanhar a medicação conforme seja o acompanhamento do tratamento, todo mês eles vêm e buscam essa cesta básica”, informa.
Texto: Fabiana Alves
Fotos: Secom