Dia das Costureiras: As mãos que preparam a festa de cores das juninas
Respeitadas no mundo todo, as costureiras são as responsáveis por uma grande movimentação financeira no Brasil com o setor de confecções. Diante da importância dessas profissionais foi criado o Dia das Costureiras, 25 de maio, como forma de agradecimento.
E nesse período de proximidade dos festejos juninos, o trabalho de muitas costureiras é intensificado, inclusive para a produção de trajes para as quadrilhas, bois-bumbás e outras agremiações. Uma dessas artistas dos tecidos é Geisa Mendes, de 37 anos, que é costureira há 22 anos. Ela tem o próprio ateliê em casa e costura o ano todo. Faz vestidos de festa, como formaturas e casamentos, e nessa época de festas juninas, ela começa em abril, totalmente dedicada aos figurinos dos dançarinos.
“Nessa época não consigo pegar costuras de fora, apenas quadrilhas. O espaço de tempo que tenho para produzir é pequeno e se eu pegar muita coisa para fazer, depois eu não consigo dar conta e fica feio pra mim e pra quadrilha também, pois não vou terminar o serviço a tempo”, justifica.
A costura das vestimentas de juninas começou em 2018, por meio de um amigo que a convidou para fazer as roupas da quadrilha “Anjos do Sertão”, do grupo Segue-me da Igreja Católica. Depois não costurou mais devido o nascimento da filha e da pandemia. Mas voltou a produção dos figurinos, em 2022, para a Quadrilha Riba Saia, de Goiânia. Este ano, além de costurar para a Riba, está trabalhando para as juninas Fuá e Amor Perfeito. Geisa conta relata que em 15 dias consegue fazer cerca de 120 peças. Uma curiosidade é que ela não pode mostrar nada do que está fazendo, pois faz um compromisso de sigilo com os organizadores das quadrilhas.
“O grande ápice é quando eles vão chegar lá, que se abrem as cortinas, que o público vai ver o figurino. Então não posso tirar foto, não posso postar, não posso mostrar nem um pedacinho do tecido, porque eles gostam de exclusividade”, enfatiza.
Geisa explica que faz adapta as roupas dentro das possibilidades e limitações da nossa região, pois nem todo material é encontrado aqui e o figurino não é experimentado no ateliê. Ela faz apenas um modelo piloto e vê como vai ficar e depois faz as outras de acordo com as medidas de cada um. E depois, com tudo feito, vendo os quadrilheiros na arena, o sentimento é de trabalho realizado.
“É uma recompensa de um mês que eu passei, que eu não tive praticamente vida, que eu vejo eles dançando, é gratificante demais. Vale a pena cada minuto, cada segundo que eu deixei de sair, de estar com a minha família”, revela.
Talento
Geisa relembra que aprendeu o ofício com a mãe, que já exercia a profissão e, às vezes, solicitava a ajuda da filha. O talento foi mostrado ainda bem cedo. “Quando eu estava de saída para a escola, via ela tentando cortar o molde da roupa e ela ficava quebrando a cabeça, aí eu pegava e falava – mãe, deixa eu te mostrar como é que faz – cortava o molde e deixava pronto e ia para a escola. Quando eu voltava, ela tinha terminado a roupa e ela ficava admirada – como é que você consegue? – eu não sei, vem na minha cabeça e vou lá e corto, e dá certo. E foi assim que eu comecei. Tinha de 13 para 14 anos”, relata Geisa.
A costureira é formada em Matemática, mas nunca exerceu a docência. Para ela, o verdadeiro dom que tem é o de costurar, algo que atribui a Deus, pois desde pequena gosta de fazer roupas. “Eu já nasci assim, já nasci gostando mesmo de moda, de costura, de fazer roupa. Meu negócio é fazer, ver, pegar o tecido, recortar com aquilo que tem na minha mente e eu fazer”, acrescenta, ressaltando que na faculdade, aproveitava para mostrar os dotes.
“Eu ia para a faculdade todo santo dia e eu não queria repetir roupa, então eu fazia uma roupa nova para ir para a faculdade. Todo dia, durante quatro anos e meio, era uma roupa diferente. As meninas ficavam brigando porque não tinham condições. Se eu não conseguisse fazer, eu não ia para a faculdade. Eu gosto muito muito de roupa mesmo”, informa.
Rotina
Casada e com dois filhos, a rotina de Geisa é puxada. Divide o tempo entre ser mãe, deixando e buscando-os na escola e em outras atividades, como o futebol; ser dona de casa, com limpeza, almoço e tudo que uma casa requer; ser costureira; de manhã, tarde e noite, e ainda cuidar de si, fazendo academia. O trabalho só acaba umas 22 horas. O marido trabalha viajando de 7 a 15 dias direto. Com a vida corrida, para aproveitar mais a família, tira férias duas vezes por ano. Mas mesmo com toda a correria, revela que não trocaria essa vida por outra, já que a costura vai além do ofício.
“É de paixão mesmo. Se eu passar dois dias sem costurar, me dá ansiedade, eu sofro de ansiedade por pelo menos picotar um pano e sentir a máquina puxando o pano”, expressa.
Texto: Fabiana Alves
Fotos: Aretha Fernandes