Dia da Língua Portuguesa: Em Marabá, Centro de Apoio Pedagógico e Linguístico ensina idioma nacional a estrangeiros
Quando chegam a outro país, aprender a língua do lugar é sempre uma dificuldade para os estrangeiros. Hoje, 21 de maio, é o Dia da Língua Nacional. E nessa data, a gente informa que para ajudar as pessoas que vêm de outros países a aprender nosso idioma, em Marabá existe o Centro de Apoio Pedagógico e Linguístico para não falantes de português.
Localizado na Travessa Parsondas de Carvalho nº 409, Marabá Pioneira (sede do Lions Clube), o centro atende mais de 20 alunos da etnia Warao (Venezuela), Xikrin, Parakanãs e Venezuelanos. A Prefeitura de Marabá é a única no Brasil que trabalha com a língua de acolhimento e fornece toda a estrutura para o funcionamento do centro, como móveis, cozinha totalmente equipada e material escolar para os alunos.
De acordo com a professora de português de acolhimento e coordenadora do projeto, Francisca Barros, o projeto começou com a chegada do povo Warao, proveniente da Venezuela e que não estavam inseridos na rede municipal de ensino.
“Nosso trabalho começou com esse povo, na inserção educacional deles e no ensino da Língua Portuguesa, porque eles não conseguiriam estudar de forma eficaz sem aprender a nossa língua. Eles têm como língua materna o warao e como segunda língua o espanhol, já que eles são da Venezuela. O centro foi pensado para eles”, informa.
Francisca conta que o trabalho começou dentro das escolas, numa sala de aula, no contraturno. Pela manhã estudavam na sala regular e à tarde faziam aulas de Língua Portuguesa e reforço escolar. E os que estudavam à tarde, faziam pela manhã. Mas, com o tempo, surgiu a necessidade de um espaço mais amplo.
“A abertura do centro foi de acordo com a necessidade deles, mas hoje temos outros alunos que necessitam também aprender o português, não só alunos estrangeiros. Hoje o centro atende tanto alunos Warao, que são indígenas, quanto Venezuelanos que estão aqui em situação de refúgio”, pontua.
A partir dos Warao, foi realizado um censo etnográfico para saber quantas pessoas não falantes de português tinham na cidade. Só aqui em Marabá, existem mais de 100 pessoas cuja língua materna não é o português, como os indígenas Xikrin, Warao e outros Venezuelanos.
“O centro está aberto para qualquer pessoa que tenha interesse em aprender a falar a Língua Portuguesa e que precisem de reforço pedagógico também, que tenha dificuldade de aprender, de ir para a escola, de realizar as atividades por conta da língua. Nós também temos esse suporte pedagógico aqui no centro”, reitera.
A metodologia utilizada inclui muitas figuras para identificação de lugares, pessoas, alimentos, cartazes remetendo ao lugar de onde vieram, sempre contextualizando a vida anterior e a atual, que adotaram aqui no Brasil.
“O nosso ensino não é fazer com que a criança saia daqui falando português fluente, mas para que consiga ser inserida na sociedade. Então nós ensinamos de acordo com os contextos que eles necessitam. Por exemplo, eles disseram que gostam muito de ‘pollo’, que é frango em português, então a gente ensina como pedir isso no supermercado e até preparamos o prato com eles no abrigo”, destaca.
A professora de reforço e alfabetização em Língua Portuguesa, Soraya Gonçalves, enfatiza que materiais lúdicos são usados para ensinar. “Tem um joguinho que possui frases com palavras picadas e uma imagem para eles associarem. Outro tem uma imagem com as letras para formar a palavra, identificando a imagem. A gente sempre procura associar a imagem, seja foto, seja vídeo, para associar o contexto daquilo que eles estão aprendendo”, completa.
As aulas contam com a parte teórica e prática como, por exemplo, ensinar o que são produtos de supermercado, valores e com dinheiro de brinquedo para eles aprenderem a usar a moeda brasileira. Eles também são levados para aulas externas, como em supermercados e praças, bem como na própria escola é ensinada qual a linguagem apropriada e a não serem enrolados, a pagarem o preço justo pelos produtos, a venderem também os artesanatos por um preço adequado.
“É um trabalho desafiador, é muito difícil você trabalhar com a vulnerabilidade, porque isso mexe com o psicológico. Às vezes, você precisa se centrar de novo para você não se envolver muito emocionalmente, mas não tem como. Se você é humano e trabalha com vulnerabilidade, você vai se envolver. Embora seja desafiador, é gratificante ver eles falando português, lendo, escrevendo nomes. Temos alunos que já fazem aulas de violão. É gratificante ver que eles já estão evoluindo”, relata Francisca.
Serviços
Os interessados em aprender a Língua Portuguesa podem procurar diretamente o centro ou no Departamento de Ensino da Secretaria Municipal de Educação (Semed), na Agrópolis do Incra. Se for menor de 18 anos, deve estar acompanhado pelos pais ou responsáveis. Depois de realizada a inscrição, o candidato passará por uma entrevista para entender a necessidade dele e verificar a melhor metodologia. As aulas acontecem de duas a três vezes por semana, com duração de 1 hora e meia a 2 horas.
Texto: Fabiana Alves
Fotos: Nathalia Costa