Linha de Frente: A luta contra um inimigo invisível
“Se todos unidos fizermos nossa parte, cumprindo as medidas de segurança e seguindo os protocolos, vamos evitar que as pessoas que nós amamos sejam contaminadas, ou de até perdermos alguém da nossa família”, enfermeira Percília Augusta.
A enfermeira Percília Augusta Santana da Silva de 47 anos, natural de Nova Russas-Ceará, mas marabaense de todo coração, possui um currículo lattes de dá gosto, são 23 anos de profissão, com numerosas formações acadêmicas e atuações no mercado de trabalho, contribuindo em diferentes áreas da enfermagem, para um bem comum: salvar vidas. Entretanto, certamente de todas as suas experiências, a mais marcante e emocionante começou na ativação da ala COVID-19, no Hospital Municipal de Marabá (HMM), em abril de 2020.
Ela narra que o maior desafio foi lutar contra um inimigo desconhecido, e no início com poucos armamentos. Assim que a ala COVID-19, entrou em funcionamento, os profissionais da linha frente de combate ao novo coronavírus não dimensionavam o quão forte e veemente seria essa pandemia. “O nosso inimigo trazia armas muito potentes e nós não estávamos preparados, como em todo Brasil e todo mundo. Mas logo a gestão foi se adequando de uma forma rápida, para prestar atendimento de qualidade à população”, esclarece a enfermeira.
Após ser aberta a unidade COVID e a tenda 1, logo o espaço recebeu ampliação. Lá é feita triagem, teste rápido, encaminhamento para tomografia ou raio-x, se houver necessidade o paciente, caso criança vai para ala de pediatria COVID, e se for adulto vai para enfermaria ou UCE (Unidade de Cuidados Especiais) e UTI (Unidade de Tratamento Intensiva), dependendo da gravidade.
A enfermeira relata que esse percurso não foi fácil, com noites sombrias, com muitas mortes e choros. “Nas noites que perdíamos muitos pacientes, a equipe ficava com exaustão psicológica, apesar de todo esforço. Desde o porteiro, serviços gerais, nutrição, farmácia, lavandeira, todos são essenciais para que os serviços funcionem no hospital. Trabalhamos de uma forma muito unida, tentando apoiar o outro. Nosso objetivo é salvar vidas”, conta ela, que comemora avanços nos serviços como melhor estrutura e equipe de referência em todo estado.
“Nossa realidade hoje é bem diferente de quando começamos, mesmo assim estávamos dando o pontapé bem na frente de alguns serviços do município”, disse Percília.
Em junho do ano passado, em meio à pandemia, Percília sentiu na pele as consequências trágicas da COVID-19. Ela perdeu o esposo para o vírus, em 21 anos de casados. “A doença se agravou com quatro dias devido à comorbidade que ele tinha, e foi encaminhado para o Regional onde evoluiu ao óbito. Assim como eu perdi um membro da família, essa doença tem deixado marcas em muitas famílias. Mesmo com todo sofrimento que as famílias têm passado, perdas, as vezes são internados 4 membros da mesma família e acontece de apenas um se salvar”, lembra a enfermeira.
Percília lamenta a existência de preconceito por parte de algumas pessoas, que relatam por exemplo que o vírus não é contagioso, e que a doença é consequência do pecado. “Esse vírus [coronavirus] assola o mundo inteiro sem discriminação e a única alternativa que temos é a prevenção. Essa cepa é mais virulenta que a primeira, o vírus luta contra todas tecnologias eficazes e vem ensinar que todos somos iguais. Se todos unidos fizermos nossa parte com as medidas de segurança e seguindo os protocolos, vamos evitar que as pessoas que nós amamos sejam contaminadas, ou de até perdermos alguém da nossa família”.
A enfermeira também lamenta os ônus do óbito. “Não é fácil ligar para família para dar essa notícia de reconhecer o corpo, hoje a família não tem o direito de velar o corpo. É feita a identificação facial e o corpo é entregue dentro de um caixão lacrado, onde a família não tem acesso à última despedida”, conta.
A doença deixa sequelas psicológicas graves e muitos traumas. Percília apesar de todas as lutas, enaltece que trabalha no HMM com a melhor equipe do estado do Pará. “O que faz do nosso serviço ser diferenciado é a humanização”. Ela cita todas as vantagens de atendimento como realizar tomografia no mesmo dia e entre outros cuidados que o hospital tem. “Isso faz de nosso serviço um diferencial”, sublinha.
FORMAÇÃO
Percília formou-se em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará, possui atualmente seis pós-graduações: Enfermeira Intensivista pela Universidade do Estado do Pará, Epidemiologista pela Universidade do Estado do Pará (UEPA), Gerenciamento de Enfermagem pela Universidade Federal de São Paulo, Educação Médica pela UEPA, Educação para Profissionais Saúde pela Fio Cruz, Mestre em Cirurgia Pesquisa Experimental pela UEPA, Docente Curso de Medicina da Universidade do Estado do Pará e Docente do Curso de Enfermagem da Faculdade Carajás.
Concursada como enfermeira desde 2000, atuou em vários segmentos da Prefeitura Municipal de Marabá. Foi Enfermeira Militar do Hospital de Guarnição como Oficial do Exército durante 4 anos, Enfermeira Coordenadora da CCIH do Hospital Regional por 4 anos, Coordenadora de Enfermagem Hospital CLIMEC por 15 anos, atualmente Enfermeira da Estratégia Saúde da Família lotada no Centro de Saúde Pedro Cavalcante e Enfermeira Intensivista da Unidade de COVID do Hospital Municipal de Marabá desde abril de 2020.
Texto: Emilly Coelho
Fotos: Arquivo pessoal