Linha de Frente: Acima das circunstâncias, prevalece a dedicação no cuidado com o próximo
Ela não sonhava em ser enfermeira e até os 39 anos, idade em que muitos já estão consolidados em suas carreiras, nunca tinha atuado na profissão. Mas hoje a enfermeira do Hospital Materno Infantil (HMI), Nilma da Silva Coelho Teixeira, com 61 anos, é categórica: “Amo a profissão, não quero me aposentar”. Nem mesmo o apelo dos filhos e das chefes, após passar 108 dias internada por causa da Covid-19, foi capaz de parar a “mãe”, como é carinhosamente chamada por alguns funcionários do Hospital.
Nilma mora na Marabá Pioneira, pertinho do hospital, trabalha das 13h às 19h, além de plantões noturnos e diurnos em feriados e fins de semana. “Aqui é minha segunda casa, minha vida, não sei viver sem trabalhar aqui. Chego aqui e tomo conta do Bloco A. Das gestantes, dos recém nascidos e das mamães que acabaram de ter neném e ficam internados lá. Faço a orientação, tomo os cuidados, escuto os corações dos bebês e tudo mais que tiver que fazer”, explica.
A história de Nilma começou em Macapá, onde nasceu. Casada com um dentista do exército, ela se mudou para nossa cidade quando o marido foi transferido. Quando Marabá ganhou a primeira turma de enfermagem, na Universidade Estadual do Pará (UEPA), a até então dona de casa, decidiu que iria estudar. Ela passou no vestibular, concluiu o curso e passou no concurso para trabalhar na Prefeitura Municipal. Hoje os dois filhos também atuam na área da saúde.
Foram 10 anos no Pronto Socorro do Hospital Municipal de Marabá (HMM), quando ela foi transferida para o Materno Infantil logo no ano de criação do hospital. “Tenho um milhão de histórias aqui e no HMM. Mas aqui me achei. Me identifico muito com as gestantes porque elas chegam naquele momento bem especial, que é ter um filho, que é uma vida nova e ficamos realizados ver quando dá tudo certo. Elas agradecem pra gente, nos dão lembrancinhas. Me encontrei neste local”, conta emocionada.
Luta contra a Covid
Na época que a pandemia tomou conta do mundo e assustou a todos, Nilma foi afastada das funções para preservar a saúde. Mas, como conta a diretora de enfermagem do HMI, Vanice Costa Silva, ela não quis ficar afastada e assim que possível pediu para retornar ao trabalho. “Na época do decreto, ela se afastou. Mas sempre estava querendo voltar. Uma hora autorizamos seu retorno, ela queria ficar conosco, por isso quando ela contraiu a doença ficamos muito preocupados”, comenta.
Dos 108 dias que passou internada, 16 foram entubada, entre a vida e a morte. A internação de Nilma mobilizou as enfermeiras e técnicas de enfermagem do HMI que oravam todos os dias pela colega. “A ‘mãe Nilma’, que sempre falo, é o nosso milagre, pela forma que ela venceu a doença. Foram 108 dias internada, 108 dias de preocupação”, acrescenta Vanice.
“Foram quase quatro meses internada em uma UTI e o pessoal do hospital foi quem me deu a mão e me ajudou no que pode. Devo minha vida à Deus e depois a eles. Nunca me deixaram na mão, sempre me ajudaram, fico muito orgulhosa por me chamarem de mãe”, agradece Nilma.
Após se recuperar, não demorou muito e Nilma quis voltar a trabalhar novamente. “Falamos para ela ficar em casa, mas ela não quis, porque ela se sente bem aqui. Os filhos aceitaram que ela voltasse e ela voltou porque quis. Se sente útil aqui e no retorno dela ficamos de lado, incentivando, ajudando, como se estivesse começando tudo novamente, para ela sentir mais segurança. Hoje vemos felicidade no rosto dela por estar aqui”, complementa a diretora Vanice.
“Tava ruim ainda quando minha chefe aceitou eu voltar, nem meus filhos queriam que eu voltasse porque eu fiquei muito grave, mas minha chefe me deixou voltar me deu a oportunidade, eu voltei e melhorei, não vou te dizer que estou 100%, cheguei fraca, mas agora estou forte, fazendo plantão e desempenhando minha função direitinho”, se emociona Nilma.
Mas a história de Nilma não é a única. Somente no HMI são 100 técnicos de enfermagem e 26 enfermeiras que atuam diariamente no cuidado de gestantes, puérperas e recém-nascidos de até 28 dias. Atuando em trabalhos e complicações de parto e pós parto e na manutenção da vida de nossas crianças. São cerca de 500 partos realizados por mês.
“Trabalhamos com parto humanizado. Então não é só uma questão de dar remédio. A gente verifica se o bebê está mamando, orienta, caminhamos com elas, conversamos. Que venham de braços abertos ao HMI porque estarei aqui de braços abertos também e estamos preparados para recebê-los, porque amamos a população marabaense e as mulheres que vêm para cá’, conclui Nilma.
“Nosso trabalho é em conjunto entre técnicos e enfermeiros. É uma profissão muito linda. Somos os primeiros a chegar e os últimos a sair. Acabamos perdendo um pouco da rotina da casa, filho, família, mas quando você vê que conseguiu fazer seu trabalho, vemos as pessoas na rua, nos mostram o filho. ‘Olha aqui, já está com um ano, você participou desse parto’. Então, para gente é muito gratificante ter pacientes que ficam mandando foto e acabamos criando esse vinculo”, completa a diretora de enfermagem Vanice da Costa e Silva.
Texto: Osvaldo Henriques
Fotos: Jéssika Ribeiro