Linha de frente: Uma vida inteira dedicada para a enfermagem, a arte de cuidar
Cuidar é uma coisa que independente de estar ou não no serviço público, eu sempre fiz
A enfermeira Suely Marinho trabalha há 23 anos na Secretaria Municipal de Saúde de Marabá. Ela começou a atuar em 1999 como contratada e em 2002 tomou posse como servidora pública concursada.
Nascida em Marabá, teve o primeiro contato com a área de saúde quando trabalhou, em 1988, como atendente de enfermagem na Unidade Básica de Saúde Jaime Pinto, no bairro Belo Horizonte. Algum tempo depois, se mudou para o estado do Paraná, onde se formou em enfermagem. Com o retorno em 1999, foi trabalhar no Hospital Municipal de Marabá.
O desejo de ser da área de saúde surgiu quando começou a cuidar de um jovem da zona rural, que tinha uma doença que apresentava feridas. O cuidado com os curativos e os procedimentos realizados chamaram a atenção de Suely. “Eu comecei a fazer os curativos dele e eram feridas grandes e eu achei isso muito interessante a forma de fazer e foi quando eu comecei (como atendente de enfermagem). Porque naquele tempo, você não precisava ter formatura. Então, eu fui para auxiliar nas esterilizações e comecei a fazer esse curativo, achei interessante e comecei na enfermagem” relembra.
Atualmente, Suely Marinho atua no Programa Saúde da Família da UBS Pedro Cavalcante, realizando visitas domiciliares e atendimentos da atenção básica na unidade. Segundo ela, trabalhar nesse segmento revela o quanto questões sociais e de saúde estão intimamente ligadas, quando se trata de saúde pública. “Você contribui por dar uma boa assistência e eu me sinto tranquila. Eu sempre gostei de servir, independente de ser ou não servidora pública eu sempre estive envolvida no cuidar. Isso aí é uma coisa minha. Cuidar é uma coisa que independente de estar ou não no serviço público, eu sempre fiz”, revela.
Entre as muitas histórias que presenciou ao longo dos anos, a enfermeira compartilha duas que a marcaram profundamente. A primeira foi de um rapaz que sofreu um acidente na entrada da Marabá Pioneira. No dia, a enfermeira fez parte da equipe de cirurgia. O paciente ficou deficiente e hospitalizado por mais de um ano, mas acabou falecendo, o que abalou emocionalmente a equipe que o acompanhava. Outra história que a marcou foi a perda de um jovem de 14 anos, que teve um corte simples na mão, mas que acabou perdendo muito sangue, não dando resistindo.
“As pessoas dizem que a gente se acostuma, mas eu não acredito nisso. Toda perda, eu particularmente que convivi com muitas perdas, eu trabalhei muitos anos no Pronto Socorro, muitos anos no centro cirúrgico, e eu nunca convivi bem com a perda. Porque quando o paciente chega, independente do que ele chega, a sede que a gente tem de fazer tudo para que a pessoa viva, a gente no momento nem se preocupa se ele vai ter uma deficiência. Mas a gente quer no momento é salvar e quando a perda chega não deixa de ser uma frustração para gente”, observa a enfermeira.
No período inicial da pandemia da Covid-19, a enfermeira realizou uma visita domiciliar e uma das pessoas estava com a doença. Logo depois, Suely apresentou sintomas e tirou uma licença por ser hipertensa e fazer parte do grupo de risco e retornou quando o decreto municipal liberou a volta dos servidores afastados.
A enfermeira avalia que, em diversas situações, o profissional sempre prioriza o outro e acaba por esquecer de cuidar de si. Prestes a se aposentar, Suely Marinho já tem planos de embarcar em um novo segmento profissional, sempre cuidando do próximo, só que no ramo da estética. “Eu sempre fui uma enfermeira muito de resolução, de querer resolver. Estou tranquila, estou no final da carreira e agora só aposentadoria. Eu entrei em uma outra área, a estética. Já estou dando uns passos”, finaliza.
Texto: Ronaldo Palheta
Fotos: Paulo Sérgio