Marabá 109 anos: Xengo, 77 anos, uma vida de história com o rio Tocantins
“Aqui eu sempre me identifiquei com a pesca, o rio era farto de peixe. Daqui sempre tirei para o meu sustento e também para vender”.
O marabaense Raimundo Coelho de Souza, aos 77 anos, continua na ativa profissionalmente. Todos os dias acorda bem cedinho para arrumar as redes de nylon e depois segue para o rio para mais um dia de pescaria. Escolheu a profissão de pescador há mais de 50 anos.
Seu Xengo, como é conhecido no bairro Francisco Coelho, o popular Cabelo Seco, tem muitas histórias da cidade para contar. Além da pesca, também trabalhou como ajudante de pedreiro, carpinteiro e fez transporte da castanha, mas foi no rio que encontrou sua vocação.
“Eu guardo na memória minha mãe, meu trabalho de pescador e os barcos com castanha. Nós fazíamos o trabalho de transporte da castanha, mas não trabalhei no corte. Aqui eu sempre me identifiquei com a pesca, o rio tinha fartura de peixe, de onde tirava para o meu sustento e para vender”, relata Raimundo Coelho.
Além da pescaria e do trabalho do transporte da castanha, Xengo era um apaixonado pela sétima arte. Não faltava a uma sessão do antigo Cine Marrocos, estava presente em todos os lançamentos de filmes. “Eu gostava tanto do cinema que já não pagava mais ingresso porque toda semana estava lá”.
Raimundo se identificava muito com os eventos culturais da cidade. Lembra com carinho das apresentações de grupos nas festas juninas e principalmente da rivalidade que existia entre os bois Cambraia e Palmica. De acordo com ele, reunia muita gente nas apresentações dos grupos.
“Na minha juventude, eu gostava da festa junina que acontecia aqui no bairro. Sinto saudades desse tempo porque tínhamos o boi do Palmica e do Cambraia. Eles eram rivais e no tempo dos festejos a gente ia acompanhar a apresentação dos bois, era uma grande festa na cidade”, lembra.
— Raimundo Coelho de Souza (Xengo)
Raimundo acompanha uma longa parte da história de Marabá. Presenciou o ciclo da madeira e do ouro e foi testemunha das mudanças ocorridas nos últimos 60 anos. Ele recorda das antigas casas construídas com cobertura de palha, muito comum no bairro do Cabelo Seco.
Orgulhoso da vida de pescador e de todo o seu tempo no bairro que o viu nascer e crescer, lembra também dos amigos de longas datas, inclusive de alguns prefeitos que teve o prazer de conhecê-los como Nagib Mutran, Samuel Monção e Pedro Marinho.
“Sou de um tempo em que nossa cidade era rica, o dinheiro da castanha fez tudo mudar, tínhamos também o diamante, e aqui não tinha tanta violência, íamos aos bares e às vezes dormimos até nas calçadas e ninguém mexia com ninguém”, lembra Raimundo Coelho.
Raimundo Coelho de Sousa é um dos marabaenses que tem na memória a vida da cidade e que, com seu trabalho, ajudou Marabá a crescer e se tornar o que é hoje.
Texto: Victor Haôr
Fotos: Paulo Sérgio
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