Mulheres na ciência: Clube de Ciências do CMRio fomenta participação feminina na área científica
Hoje, 11 de fevereiro, é Dia Internacional das Mulheres e das Meninas na Ciência, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) visando promover e incentivar a participação feminina, de maneira igualitária, na ciência
Você sabia que a polonesa Marie Curie foi a primeira pessoa a receber dois prêmios Nobel em áreas científicas diferentes? No início do século passado, ela recebeu os prêmios Nobel de Física e Química com suas pesquisas sobre substâncias radioativas e a descoberta de dois novos elementos químicos: rádio e polônio. Nesses mais de cem anos que se passaram desde a conquista de Marie Curie, ainda há muito a avançar acerca da presença feminina nos meios científicos. De acordo com dados de 2020 da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), cerca de 30% dos cientistas, das variadas áreas do conhecimento, são mulheres. No Brasil, esse número chega a 40%.
Diante desse desafio, desde 2015 foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), o dia 11 de fevereiro como o Dia Internacional das Mulheres e das Meninas na Ciência, visando promover e incentivar a participação feminina, de maneira igualitária, na ciência.
Em Marabá, o Clube de Ciências da Escola Sob Supervisão Militar Rio Tocantins (CMRio) tem a presença predominantemente feminina, nas atividades realizadas. Em meio aos microscópios, lupas, tubos de ensaio, réplicas do corpo humano e demais itens em um laboratório, a curiosidade pelo conhecimento toma conta das estudantes.
A aluna Aylla Gomes, de 13 anos, está no 9º ano e participa do Clube de Ciências desde 2022. Uma forma de ver na prática o que estuda em sala de aula.
“No Clube de Ciências, a gente faz a prática, estuda o microscópio, faz experiências. Eu gostei quando fizemos um experimento de formar nuvens utilizando vinagre. Eu gosto muito de Ciências porque faz muitas coisas legais. Não é a área que eu quero seguir, mas agora eu estou gostando muito de Ciências”, afirma a estudante.
Tanto Aylla, quanto Maria Eduarda Rocha, de 13 anos, participaram em 2023, da Mostra Brasileira de Foguetes e da Olimpíada Brasileira de Astronomia, ambas organizadas pela Universidade de São Paulo (USP).
“Todo mundo do meu ciclo de amigos estava entrando no Clube de Ciências e resolvi entrar. Não me arrependi. Desde 2022, que estou. Eu gosto de ver as células e a extração de DNA porque é diferente. Foi muito divertido para a gente porque tivemos várias experiências e aprendemos a montar o foguete. Eu gostei de fazer a asa do foguete, que é mais fácil. Foi legal quando vi o foguete subir, eu me assustei na hora, mas foi legal”, explica.
Os estudantes receberam oficinas sobre a criação de foguetes organizadas pelo SESC e pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa). Tanto na Mostra Brasileira de Foguetes, quanto na Olimpíada Brasileira de Astronomia, os estudantes do CMRio alcançaram bons resultados. Para se ter uma ideia, entre os 39 foguetes produzidos pelos alunos para a mostra, 11 foram selecionados para se apresentarem no Rio de Janeiro. Um deles chegou a alcançar a distância de 108 metros.
Para Larissa de Souza, professora de Ciências e responsável pelo clube, esse espaço é imprescindível para o desenvolvimento de habilidades e afinidades com a área científica das meninas que participam. Para ela, o entrelaçamento da teoria com a prática faz toda a diferença em suas jornadas dentro dessa perspectiva do conhecimento científico.
“Ver essa participação ativa delas, eu acho fantástico porque eu vejo futuras cientistas, brilhantes. Todas as alunas, que têm a participação no Clube de Ciências, são alunas que conseguem se destacar em sala de aula, não só na ciência, mas em todas as outras disciplinas e, talvez isso, seja um diferencial que vai despertar aquela curiosidade, aquela vontade, que a gente sabe que faz toda a diferença, lá no futuro. Quando eu era criança, não tinha esse contato. Quando eu cheguei na faculdade, que eu tive esse contato com o meio científico, foi o momento que eu tive o despertar e elas estão tendo o despertar bem cedo. Com certeza, no finalzinho do ensino médio já vai fazer muita diferença porque elas têm uma perspectiva do que é ciência, de que existem várias áreas que podem explorar”, destaca a docente.
Para Maria Eduarda, é importante ver uma mulher cientista falando sobre sua área. Ela ainda deixa uma mensagem para outras meninas que têm interesse pela ciência. “Eu me sinto importante, representada. Eu acho que precisam conhecer mais a ciência porque é muito divertida, não é só na aula. Se na sua escola tiver um Clube de Ciências, entre que tenho certeza que vocês vão gostar”, reitera.
Clube de Ciências
O objetivo do Clube de Ciências é promover, entre os alunos, a iniciação científica no ensino fundamental. O foco principal, com projetos voltados para o meio ambiente, por exemplo, é unir a teoria estudada em sala de aula com as práticas em laboratório.
As inscrições ocorrem no início do ano letivo e os alunos, que têm mais afinidade com a área, se inscrevem. Neste ano, são cerca de 30 alunos inscritos em cada turno, que participam das atividades no contraturno das aulas. A maioria é menina. Uma delas é Fernanda Santos, de 13 anos. A estudante avalia o impacto de ter um ambiente em que as meninas são maioria.
“Eu acho isso muito bom, muito interessante, ver o quanto a gente cresce e o quanto a gente tem crescido na Ciência também porque nem sempre foi assim, nem sempre foi um grupo de mulheres. Aqui, particularmente, tem poucos garotos. O grupo é mais composto por meninas. O quanto a gente participa, o quanto a gente tem interesse sobre isso, é bem maior”, pontua.
Neste ano, entre os projetos e atividades realizadas estão a análise de parasitoses em hortaliças que são comercializadas em Marabá, a horta escolar, além de experimentações em química, física e biologia, como escala de pH, visualização de células no microscópio e reações químicas. Para Fernanda, participar do Clube de Ciências será de grande relevância porque pretende cursar Medicina.
“Sempre fui apaixonada pela ciência, sempre gostei de ciência, tanto dentro de sala de aula, quanto pelo fato de a minha paixão ter crescido aqui. Eu pretendo fazer Medicina e eu sei que Medicina tem um envoltório muito grande com a ciência. Eu creio que aqui vai ser um lugar onde vou descobrir mais, vou desenvolver mais”, ressalta.
Texto: Ronaldo Palheta
Fotos: Paulo Sérgio e Aiteti Gavião