Mulheres Inspiradoras: Professora Larissa Silva busca incentivar meninas na área de Ciências
A série “Mulheres Inspiradoras” inicia com matérias sobre mulheres que têm destaque em suas áreas de atuação. Uma delas é a professora de Ciências, Larissa Souza Silva, que trabalha no Colégio sob Supervisão Militar Rio Tocantins (CMRio) e é a responsável pelo Clube de Ciências que, atualmente possui 110 participantes, sendo 80% mulheres
Nascida em Castanhal, na sua infância a família se mudou para Tucuruí. A paixão pela ciência surgiu na infância e consolidou-se no Ensino Médio. Ela cursou Ciências Biológicas na primeira turma do Instituto Federal do Pará (IFPA) no município. Em 2022, realizou o concurso público para o cargo de professora da rede municipal de Marabá e foi aprovada.
“Quando cheguei no Ensino Médio, eu me apaixonei por Biologia, uma paixão completa. Então, falei ‘não, é isso que eu quero’. Quando entrei no curso foi o momento que eu vi que estava no curso que eu queria e deveria estar. Essa é a minha missão de vida”, afirma.
Ela leciona a disciplina de Ciências há um ano no CMRio, dando aula para 16 turmas do Ensino Fundamental, o que representa cerca de 600 alunos. Antes de vir para Marabá, teve experiência como professora substituta da Universidade do Estado do Pará (UEPA), além de escolas e faculdades particulares.
Pensando na representação feminina no campo da ciência, Larissa olha para trás e vê que sua primeira referência na área foi um professor do Ensino Médio, mas isso mudou quando ingressou na graduação.
“Quando eu entrei no curso, conheci uma professora, que é uma pessoa sensacional. A força dela, a garra, vê-la lutando todo os dias, me fez olhar de uma maneira diferente, ter um olhar diferente porque a gente sempre vê a presença masculina. E quando a gente vai estudando, a gente vê grandes feitos dentro da ciência, com mulheres, aquilo traz mais inspiração e faz a gente inspirar as nossas alunas também”, ressalta.
Entre os grandes feitos de mulheres na ciência recente, Larissa cita o Prêmio Nobel de Química de 2020, que premiou duas cientistas mulheres, Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna, pela criação do método Crispr, de edição de DNA, e o Prêmio Nobel de Medicina de 2023, que foi para uma dupla de cientistas, entre eles, a húngara Katalin Karikó. Eles desenvolveram a técnica de produção do RNA Mensageiro, que ajudou a acelerar a criação da vacina contra a Covid-19.
Mas a trajetória de mulheres na ciência é marcada também por negligências quanto a sua participação em descobertas que revolucionaram o conhecimento. A cientista britânica Rosalind Franklin foi a responsável por fazer a Fotografia 51, o registro de uma molécula de DNA utilizando a técnica de cristalografia de raio-x e que atestou o fornato de dupla hélice do DNA. Acontece que três homens venceram o Nobel de Medicina de 1962 e a contribuição de Franklin ficou no esquecimento. Ela faleceu aos 37 anos, em 1958.
Na sala de aula ou no laboratório, a professora Larissa estimula a busca pelo conhecimento nas alunas, sendo uma referência em suas trajetórias e sempre destaca que estudar é o melhor caminho para conquistarem seus espaços.
“As meninas que participam do Clube de Ciências, uma parte são meninas empoderadas, isso elas trazem de casa. Eu vejo assim, quando elas veem uma professora que traz tanta firmeza para elas, traz tanta segurança, que é uma pessoa que mostra para elas que elas podem ser inteligentes, que elas podem ter lugar, que elas podem ter um bom trabalho, que elas podem ser mulheres de garra futuramente, eu acho que traz muita inspiração para elas, sim. Trazer esse olhar para elas, servir como fonte de inspiração para elas, para mim também é sensacional porque a gente traz uma força diferente, já traz um cenário diferente”, comenta a professora.
A professora já desenvolveu trabalhos com os alunos do Clube de Ciências na Mostra Brasileira de Foguetes e participação na Olimpíada Brasileira de Astronomia, mostrando o quanto a ciência pode ser interessante e atrativa, na prática.
Em relação a sua trajetória pessoal, Larissa compartilha que sua mãe, tia e avó sempre foram suas inspirações, que foram seu exemplo de força.
Sobre sua mãe, Maria Aparecida, a Cida, Larissa, desde a infância, acompanhou sua batalha, sempre demonstrando coragem, ao mesmo tempo que incentivava a filha a estudar e alcançar seus objetivos.
“Ela sempre trouxe isso para mim, ela sempre me mostrou esse caminho, ela sempre falou que era assim que eu deveria ser. A minha mãe sempre lutou também para ter uma vida diferente, um futuro diferente. Ela veio de um caminho da roça. Hoje é pedagoga, concursada da Sespa. Ela sempre me instigou, sempre me incentivou a estudar. Ela sempre falou: ‘Filha, você precisa estudar, ter o seu dinheiro, fazer a diferença, ser uma mulher forte, e ensinar isso para sua filha’. Essa inspiração da minha mãe eu vejo que é a inspiração de muitas mulheres”, pontua.
Hoje, a professora Larissa compartilha que sempre busca desconstruir qualquer fala que tente incapacitar as mulheres e que chegam aos ouvidos da filha, Valentina, de oito anos. “Então, dentro da minha casa, eu tento fazer uma desconstrução desse pensamento de que ela não pode, de que não pode isso, não pode aquilo, mas é uma luta constante porque a gente vem com uma sociedade que traz embutido esses conceitos e torna um pouco mais difícil. É complicado, mas acaba se tornando bem leve e eu espero que ela se torne uma mulher muito forte, com muita garra, muito empoderada”.
O recado que a professora deixa é que ser mulher não é fácil, além de ser uma luta constante. Mesmo assim, que as mulheres não desistam de seus planos para o futuro.
“A gente não pode desistir dos nossos sonhos, dos nossos objetivos. A gente tem que lutar cada vez mais para poder conquistar. Infelizmente, é uma luta, não é uma conquista, não vem de mão beijada, é uma luta diária. Infelizmente, a gente tem que ter inúmeras tarefas. A gente é trabalhadora, dona de casa, mãe, professora, conselheira, amiga, então, são inúmeros afazeres, mas que no final a gente se sente com aquele sentimento de dever cumprido, de satisfação, de orgulho, de ver que a gente consegue”, conclui.
Texto: Ronaldo Palheta
Fotos: Karoline Bezerra e Secom