Professores Fora de Série: A trajetória de um profissional sinônimo da educação em Marabá
A educação marabaense, nas últimas quatro décadas, recebe, de alguma forma, as digitais de Melquíades Justiniano da Silva. Esse baiano, de 69 anos, que ama despejar adjetivos em discursos e diálogos do dia a dia. Filho de pais agricultores, passou por grandes dificuldades nos primeiros anos de vida, mas reconhece que foram elas que forjaram a trajetória dele e o ajudaram a criar “casca grossa” diante das adversidades.
Na infância, em uma pequena propriedade de produção de cacau, na Bahia, teve a companhia de oito irmãos e os estudos foram sempre em escolas públicas, o que lhe dá muito orgulho. “Sou um profissional da educação, parido da escola pública brasileira e posso assegurar que tive uma trajetória estudantil calma, de equilíbrio, com muita responsabilidade e que ganhei a possibilidade de engajar no serviço público pela educação”, conta.
Melquíades Justiniano lembra que chegou ao Pará ainda jovem, em 10 de janeiro de 1971, quando a família mudou-se para Abel Figueiredo, a 92 km de Marabá. Foi em escolas da zona rural daquele município que iniciou a carreira como educador. “Tive a felicidade de exercer diversos cargos dentro da estrutura educacional, mas primeiro como professor de zona rural, trabalho mais representativo da minha vida, uma experiência fantástica. Foi a partir de lá que eu cresci”, revela.
Já apaixonado pela educação, veio para Marabá, onde participou de cursos de formação para o magistério, inicialmente de primeira à quarta série, promovidos pela Secretaria de Estado de Educação (SEDUC). Posteriormente, estudou licenciatura curta para Educação Física e, logo em seguida, fez complementação plena, pela Escola Superior de Educação Física do Pará. Também participou de especializações em gestão escolar, em gestão pública e em relacionamento escolar. “Aqui no Pará tive a sorte de realizar os meus estudos do ensino médio ao superior e especialização”, comemora.
CHEGADA À 4ª URE
Durante o processo de formação, Melquíades foi convidado, pelo governo do Estado, a coordenar a 4ª URE (Unidade Regional de Educação) com sede em Marabá, onde realizou um trabalho notório.
“Recordo que a primeira campanha dentro da 4ª URE foi pela regularização para que os cursos, que funcionavam em nossas escolas, tivessem a autorização do Conselho Estadual de Educação. Essa foi uma grande marca. Mas também conseguimos mobilizar diversas reformas de ampliações e construções de escolas, não apenas para Marabá, mas para os 17 municípios que integravam esta Regional”, explica.
Foi na gestão à frente da 4ª URE que iniciaram os debates para municipalização do ensino fundamental em toda a região. “Não foi muito fácil esse debate, era exaustivo, mas depois mostrou-se proveitoso e bem-sucedido, até mesmo para nos adequar à Constituição Federal”, recorda.
Ele assumiu cargos de direção de escolas em Abel Figueiredo; diretor do Departamento de Recursos Humanos da SEDUC, em Belém; professor em Marabá; assessor técnico em Itupiranga; e, mais recentemente, assessor na Secretaria Municipal de Cultura de Marabá.
EXPERIÊNCIA MOTIVADORA
Como todo educador orgulhoso, Justiniano recorda que foi professor de um aluno na alfabetização, em Abel Figueiredo, que depois veio para Marabá completar os estudos de graduação e trabalhar junto com o próprio Melquíades, na 4ª URE. Daqui, seguiu para Belém, onde foi cursar mestrado.
“Um belo dia, eu terminava de assistir à missa na Igreja de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém, quando alguém tocou no meu ombro e disse que estava me procurando para eu assistir a defesa de sua tese no doutorado. Não tinha como não molhar os olhos com lágrimas de tamanha emoção do meu aluno de alfabetização em Abel Figueiredo chegar a um nível tão alto. Esta é a emoção de ser professor, ao recebermos a gratidão de um aluno”, orgulha-se.
Para Melquíades, Marabá foi o grande laboratório dele na área de educação e elogia o estágio atual das redes municipal, estadual e federal de educação. “Aqui nós temos bons professores, boas escolas, uma rede pública em crescimento e já vislumbrei ricas experiências em todos os níveis do ensino”, reitera, opinando, também, sobre o momento atual da educação, que precisou se reinventar numa longa pandemia que afeta dois anos letivos.
“Se eu tivesse no exercício do magistério no momento atual, teria muita dificuldade para uma convivência pacífica, e para readministrar as dificuldades que os educadores enfrentam, porque você trabalhar sob o medo, a ausência do aluno na sala de aula, é uma reinvenção dramática e pesa muito esse afastamento. Eu não seria um bom educador para conviver no período pandêmico”, calcula.
LUTA CONTRA O CÂNCER
Professor Melquíades observa que precisou licenciar-se da atuação como servidor público para cuidar da saúde. Recentemente, descobriu um câncer na bexiga e iniciou logo o tratamento. Depois, um outro sinal da doença apareceu na cabeça e ele se submeteu a novas sessões de quimioterapia e radioterapia. “Deus tem sido muito generoso comigo. A fé me salvou, depois a ciência, e a dedicação dos profissionais do Hospital Porto Dias, em Belém”, declara.
O professor de muitas lutas e conquistas está confiante de que, logo, voltará a participar das atividades pedagógicas no município. “Devo dizer que eu ainda vou voltar para Marabá para não perder nenhum debate educacional aqui nesta cidade. Aonde essa gente me chamar lá estarei para falar das minhas antigas experiências”, conclui.
Ao professor Melquíades, desejamos toda a saúde do mundo, e assim, continuar a missão que tanto ama, educar e contribuir para melhorar a educação.
Texto e fotos: Ulisses Pompeu